segunda-feira, novembro 25, 2013

Cante ao menino - Vila Verde de Ficalho



Estando a apróximar-se o mês de Dezembro não puderia deixar de públicar este Cantar ao Menino de Vila Verde de Ficalho (Alentejo) recolhido por Michel Giacometti

quarta-feira, novembro 20, 2013

Folclore de Olivença: entre o Alentejo e a Extremadura Espanhola


Por Carlos Gomes

O concelho de Olivença é originariamente uma terra alentejana, com os seus usos e costumes característicos do Alto Alentejo, o seu modo de falar a Língua portuguesa com a pronúncia característica das gentes daquela região e o seu património histórico e artístico a atestar a sua secular portugalidade firmada desde o Tratado de Alcanizes. Porém, a conjuntura política dos finais do século XVII levaram à sua ocupação militar por parte de Espanha por ocasião da chamada “guerra das laranjas”, ocorrida em 1801. Esta situação levou ainda ao desmembramento do concelho de Juromenha uma vez que, também a Aldeia da Ribeira – atual freguesia de Vila Real – passou a integrar o município oliventino como se do seu termo fizesse parte.


A partir de então, diversos sucessos ocorridos ao longo de mais de dois séculos de ocupação, entre os quais se destaca a guerra civil espanhola e a ditadura franquista, determinaram a alteração do equilíbrio demográfico, registando-se um progressivo abandono por parte dos oliventinos de origem portuguesa e a sua substituição por gentes oriundas da Extremadura e outras regiões de Espanha. A maioria dos que ficaram foram reduzidos à situação de pobreza, fixaram-se nas aldeias em redor e foram sujeitos a um processo de assimilação, vendo os seus próprios nomes de batismo convertidos para o castelhano.

A realidade, porém, é que tendo a realidade social sido alterada e colocando de parte julgamentos de natureza política, Olivença acusa presentemente uma forte influência da extremenha a par de uma surpreendente resistência da cultura portuguesa. É que, manter viva a chama da cultura portuguesa através de uma dezena de gerações que viveram sob as circunstâncias mais difíceis, sem qualquer estímulo por parte do Estado português para além da manutenção jurídica da questão territorial como uma posição de princípio, convenhamos que não é tarefa fácil. Pelo que, certos juízos de valor que por vezes se fazem acerca da vontade dos oliventinos, sem discriminação sequer quanto à sua origem, só podem ser entendidos como cínicos ou ridículos.

Essa influência extremenha revela-se nomeadamente através do próprio folclore, sendo usual os grupos folclóricos e de música tradicional interpretarem danças e cantares que claramente se distinguem quanto à sua origem e, na realidade, nem sequer se confundem. Danças como “O Pescador” e o “Verde-gaio” são representadas a par de jotas e coplas extremenhas. É uma realidade diferente que é resultado de processos históricos em relação aos quais não podemos culpar aqueles oliventinos cujas origens não se filiam na nação portuguesa. Mas, aquilo que devemos fazer e encontra-se ao nosso alcance é o estreitamento das relações culturais com Olivença, nomeadamente através do intercâmbio com os grupos folclóricos e de música tradicional ali existentes, aceitando e compreendendo as diferenças e relevando a sua identidade portuguesa e as suas características alentejanas.

Em tempos, o Rancho Folclórico “La Encina”, interpretava uma cantiga muito popular em Olivença nos começos do século XX, marcadamente portuguesa. Recolhida por Bonifácio Gil e publicada no seu “Cancioneiro Popular da Extremadura”, trata-se de uma melodia melancólica cujo tema sugere a aproximação geográfica ao rio Guadiana, relacionada com a faina da pesca e com toda a probabilidade originária da antiga Aldeia da Ribeira, atual freguesia de Vila Real.

O tema, que possui curiosas semelhanças com outras cantigas do cancioneiro popular português, trata das relações amorosas do pescador com uma mulher casada, qual “sereia que canta bela e que perdido é remo e vela”…e os conselhos da gente para que volte atrás nos seus propósitos. Na realidade, uma versão diferenciada da cantiga do “pescador da barca bela”!
Ó pescador da barquinha
Volta atrás que vais perdido
Essa mulher que tu amas
É casada e tem marido;
Casada e marido tem,
Ó pescador da barquinha
Volta atrás que não vás bem.
Fugiste-me ingrato
Deixaste-me só
No alto da serra
Sem pena nem dó

Imagens:  Museo Etnográfico González Santana (Olivença)
Fonte: Folclore de Portugal

quinta-feira, novembro 07, 2013

Folclore: das Paradas Agrícolas aos Cortejos Etnográficos


por Carlos Gomes

Os cortejos etnográficos constituem um espetáculo geralmente muito apreciado do público, mesmo comparativamente às exibições de ranchos folclóricos, vulgarmente designadas por festivais. Em diversas localidades do país, eles integram as respetivas festividades, atraindo milhares de forasteiros e tornando-se, quase sempre, um dos momentos mais apreciados do público. São exemplo o cortejo nas Festas em Honra de Nossa Senhora da Agonia, em Viana do Castelo e nas Feiras Novas, em Ponte de Lima.

Nas aldeias e freguesias em redor, o povo prepara com afano a sua participação no aprazado cortejo, levando consigo os elementos mais característicos que de alguma forma identificam a sua terra, procurando representar aspetos peculiares dos ciclos do trabalho desde a sementeira do linho à sacha do milho, da pastorícia à produção do vinho. A acompanhar, a rusga ou o rancho a animar o desfile com as alegres rapsódias do folclore local. E o povo que se apinha à beira do passeio para ver passar os figurantes, interage com eles que, não se fazendo rogados, brinda os mais sequiosos com malgas de verdasco.
O aparecimento dos cortejos etnográficos remonta aos começos do século XX e tem a sua origem nas paradas agrícolas que então se realizavam como uma mostra das produções locais com vista a incentivar as atividades económicas e promover o desenvolvimento da respetiva região. O elemento etnográfico apenas surgia como uma forma de emprestar um ambiente pitoresco a contento de uma burguesia apreciadora de costumes por ela considerados bizarros. Porém, não constituía a sua principal finalidade, pese embora servirem para transmitir uma ideia de que o trabalho era valorizado e, como tal, o próprio povo que o realizava.
A revista “Ilustração Portugueza” dá-nos conta de diversas paradas agrícolas que então se efetuavam, aliás à semelhança das exposições de outros produtos como o objetivo de promover a sua venda e exportação. Juntamente com o jornal “O Século” a que se encontrava ligado e constituindo um instrumento de propaganda dos ideais republicanos e da maçonaria, aquela revista era especialmente difundida entre os sectores burgueses estabelecidos nos centros urbanos de quem, aliás, recebia os clichés e as notícias que publicava, mantendo uma rede de correspondentes que se estruturava paralelamente à própria organização política.
A revolução industrial determinou a necessidade de se organizarem certames, alguns de projeção internacional, com vista à promoção dos produtos dos vários países e a divulgação das mais recentes realizações da indústria e da tecnologia. São tais eventos que estão na origem das exposições mundiais e nas grandes feiras industriais que são levadas a efeito pelas associações empresariais de diversos sectores de atividade. Mas, também a uma escala regional foram surgindo iniciativas do género que ainda subsistem, embora registando modificações que o tempo lhes impôs.
Ao mesmo tempo que se realizavam as paradas agrícolas, surgiam em diversas localidades grupos folclóricos mais ou menos constituídos como tal que serviam sobretudo para animar algum acontecimento ou festividade que então se realizava. Com o advento do Estado Novo, tais paradas agrícolas receberam novas influências e apresentaram um novo figurino. Mais do que promover os produtos regionais, os cortejos etnográficos passaram a transmitir uma nova ideologia assente na doutrina do Corporativismo pelo que, nalguns casos, chegaram mesmo a receber a denominação de “Festa do Trabalho” como sucedeu em Viana do Castelo. Entretanto, o aparecimento de numerosos ranchos folclóricos sob o incentivo e o patrocínio da Junta Central das Casas do Povo, da FNAT e da Mocidade Portuguesa veio colocar definitivamente o folclore como elemento central dos referidos desfiles, embora também associados a finalidades de propaganda e promoção turísticas. A partir de então, o folclore ficou etiquetado e arrumado em gavetas que correspondem a uma divisão administrativa em províncias que foi ensaiada pelo Estado Novo mas que, na realidade, não passou de umas manchas coloridas no mapa de Portugal. Um pequeno punhado de ranchos de diversos pontos do país foi escolhido e especialmente apadrinhado para representar as respetivas províncias, o mesmo sucedendo com o artesanato, os trajes tradicionais e as próprias festas e romarias, como se a cultura tradicional das diferentes regiões assentasse num único padrão e, entre elas não existissem cambiantes de luz e cor e as pessoas não se influenciassem mutuamente no contacto entre si, na feira, no trabalho ou na romaria e as migrações internas fossem algo inexistente.
Quem assiste ao cortejo etnográfico que se realiza em Viana do Castelo por ocasião das Festas em Honra de Nossa Senhora da Agonia tem a probabilidade de deparar com a participação no referido desfile de algumas unidades industriais como os Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Sucede que, não se tratando propriamente de uma representação etnográfica, a mesma só poderá resultar de uma certa inspiração no figurino da “Festa do Trabalho” que outrora ali tinha lugar.
Nos tempos mais recentes, um tanto com base em modelos importados sobretudo dos antigos países socialistas, algumas localidades organizam geralmente por ocasião do respetivo feriado municipal um desfile daquilo a que costumam designar por “forças vivas” e que incluem indiscriminadamente e sem quaisquer preocupações de ordem estética, ranchos folclóricos, bandas de música, fanfarras dos bombeiros, coletividades desportivas, entidades fabris e toda a espécie de agremiações. Em lugar dos tradicionais arcos decorativos, as artérias que constituem o seu percurso são frequentemente engalanadas com bandeiras de cores variadas e formatos reduzidos, um género também ele originário daqueles países. Não se trata, pois, de um desfile etnográfico mas antes de uma manifestação política ao jeito municipalista ao qual os ranchos folclóricos emprestam o seu colorido e animação com o toque das suas gaitas.
Em síntese, o cortejo etnográfico representa um género de espetáculo que teve a sua origem como meio de propaganda com a finalidade de promover os produtos e atividades regionais, evoluindo para novas formas de acordo com as transformações sociais e políticas que entretanto se foram registando na sociedade portuguesa. Porém, continua a ser uma das componentes mais apreciadas do público sempre que as mesmas surgem integradas nas festividades, apresentando quadros animados e coloridos das tradições locais.

terça-feira, novembro 05, 2013

Exposição de Têxteis

Muito embora já tenha publicado um artigo sobre a Conservação deTrajes, nunca me tinha debruçado sobre a sua exposição.
Por esse país fora tenho admirado inúmeros pequenos museus dos ranchos folclóricos, um espólio imenso e riquíssimo, exposto à medida das condições e conhecimentos de cada grupo.
Sobre esta matéria encontrei um pequeno artigo no Jornal Folclore (nº 201, Nov.2012) de António Lopes Pires, autoridade nesta matéria, e que passo a transcrever:

“(…) A exposição de tecidos exige sempre cuidados especiais. Vejamos alguns:
1.       O maior inimigo do têxtil é a luz solar. Os raios ultra violetas tiram a cor, fragilizam as fibras, acabando por as destruir completamente.
Assim, expor na sala da sua sede, só se as janelas tiverem cortinas que não deixem entrar muita luz, ou seja, não mais de 50 luxes (a intensidade luminosa pode medir-se com um luxímetro, aparelho que se compra nas da especialidade e não é de preço proibitivo).
2.       A exposição permanente, fora de vitrinas, também não é aconselhável por causa do pó que a pouco e pouco irá fazer muito mal às peças.
3.       Outro mal que se deve evitar, eu diria, situação em que nunca se deve cair é expor peças de vestuário nas paredes das salas, suspensas em pregos metálicos. Aqui os males são três: a) As humidades da parede transmitem-se aos tecidos propiciando condições para a criação de bolores, outro grande inimigo. b) Os pregos enferrujam e, pouco tempo depois, transmitem essa ferrugem aos tecidos. c) Como o peso das peças se exerce apenas na pequena porção das fibras por que estão suspensas, é certo que irão romper por ali.
A exposição de têxteis só deve fazer-se, temporariamente. Se o leitor quer expor os seus trajes, então faça-o em cima de mesas para que as peças estejam em descanso. E vá rodando os elementos expostos todas as semanas ou todas as quinzenas. Assim mostrará o seu acervo e não prejudicará as peças. A melhor forma de as guardar é dentro de gavetas, gavetões ou prateleiras adequadas, o menos dobradas possível, e sempre tendo em conta os cuidados que já referi neste Jornal sobre a conservação de têxteis. (…)”

Imagens: Exposição “Trajes de Portugal – Cultura e Tradição” organizada pelo Grupo Cultural de Vila Fria em 2008