O lenço de
seda lavrada que descrevo hoje encontra-se na minha coleção há largos anos.
A sua
recolha é uma história engraçada e exemplificativa do valor que por vezes se dá
aos objetos.
No tempo em
que não havia centros de ocupação de tempos livres, ficava ao cuidado de uma proveta
vizinha, a Manecas, que possuía uma casa de pasto. O tempo avançou, tomei
outros rumos, mas continuei a frequentar essa casa. Certo dia olhei para uma
janela e vi um trapo com uma cor interessante a calafetar as frestas. Puxei por
uma ponta e descobri com um lenço lindíssimo, de uma cor verde dourada. Descaradamente
pedi-o. Pedido negado, a Manecas achava que era um trapo velho e precisava dele
para tapar as frestas da janela por causa do frio. Sem demoras fui ao mercado,
comprei um chouriço de pano e quando a Manecas deu por isso já o lenço estava
em boas mãos e a janela guarnecida. Claro que ganhei o lenço, era difícil negar
a oferta.
Posteriormente
soube a história desta peça. Foi adquirido no final dos anos 20 do sec.XX e usado
em dias de festa, como com o tempo o lenço caiu em desuso o seu destino teria
sido provavelmente outro, não fosse a janela precisar de ser calafetada.
Data: Início
do sec.XX
Material: Seda lavrada, cor verde/dourado, roxo e branco
Dimensões: 70x80 cm
Origem: Desconhecido
Recolha: Vila Fria – Oeiras (região saloia)
Bom dia
ResponderEliminarGostei muito da história deste lenço porque gosto de coisas com história mas também porque a minha mãe era saloia, nascida no sítio do Picão, Gradil.Foi registada como natural do Gradil mas na época seria Vila Franca do Rosário (é o que consta na certidão de nascimento). A minha mãe nasceu em 1925 e tanto quanto sei não trajou vestes saloias pois a mãe dela era natural de Coimbra e talvez tivesse outros hábitos. O meu avô nasceu também no Gradil, construiu uma casa no sítio da Pedra que Luz, Picão, Gradil só que teve uma vida profissional ao longo do país. Nasceram onze filhos grande parte deles noutras terras portuguesas.
Ainda bem que há quem goste de preservar e conhecer as nossas coisas.
Bom fim de semana.
Isabel Tiago