segunda-feira, agosto 12, 2013

O Ouro no Traje da Mulher – Entre Douro e Minho


O ouro que cada mulher ostentava, conforme a sua quantidade, indicava o seu estatuto social.
A joalharia portuguesa era um adorno complementar do traje. Num mundo de constantes flutuações políticas e económicas, a posse do ouro era tida, a par da terra, como o único investimento passível de ser transmitido de geração em geração.
“O povo dizia: “roupa quanta rompas, terra quanta vejas e ouro quanto possas”.
Os brincos são verdadeiros pontos de luz que iluminam, realçam e embelezam o rosto da mulher.
No passado, nenhuma mulher tinha sequer a veleidade de se apresentar em público sem brincos. Aliás, ninguém a desculpava. O povo era até cruel e impiedoso com ela. Mulher sem brincos não passava de uma “mulher fanada”. Por mais humilde e pobre que fosse, a mulher jamais se atreveria, quer no seu dia-a-dia, quer em dias de festa, feira e romaria a sair à rua sem eles. Apenas existia alguma compreensão e benevolência para a falta de brincos se, eventualmente, estes tivessem sido oferecidos, em momentos de grande angústia e desespero, a alguma divindade para cumprimento de qualquer promessa. Mesmo assim, a tolerância era relativa e muito curta no tempo. A mulher tinha que providenciar no sentido de adquirir de novo este importante adorno.
Na figura abaixo visualizam-se alguns dos brincos mais usados na região Entre Douro e Minho, destacando-se, em primeiro lugar, as arrecadas à carniceira. Rapariga que se prezasse, removia “mundos e fundos” para poder adquirir o popular traje à lavradeira, que envergava em grandes ocasiões, mas jamais o exibia sem colocar nas orelhas as avantajadas e vistosas arrecadas à carniceira.

As arrecadas à carniceira, também chamadas argolas de Barcelos ou de Cigana, muito em uso, especialmente nessa região. Estas peças começaram a ser muito divulgadas a partir do princípio deste século, em especial pelas mulheres dos talhantes (daí o seu nome) daquela cidade, atestando a sua situação económica com tamanhos que atingiam, por vezes, dimensões desproporcionadas. São peças ocas, de ouro polido com canovão de secção quadrada, de ganchos, com grande incorporação de mão-de-obra.

Arrecada à Carniceira

As arrecadas são as peças com antepassados mais antigos, aproximadamente 2.500 anos e com os mesmos motivos amuléticos. Forma lunular na “janela” ou “pelicano” na parte próxima dos ganchos; pequenas calotas côncavas dispersas (chocalhos afugentadores de maus espíritos); “SS” de filigrana (estilização de pássaros voando); triângulo invertido como remate (símbolo da fertilidade). São peças manuais em filigrana.

Arrecadas



Os brincos de meia libra refletem a utilização de moedas como adorno, não só como pendentes de cordões mas também das orelhas, sendo normalmente utilizadas libras ou meias libras.



Brincos de Meia Libra

Sendo assim, é imperioso que todos os agrupamentos folclóricos jamais olvidem este pormenor: no trabalho, a mulher não ostentava quaisquer elementos em ouro, mas os brincos jamais se separavam dela em todas as situações.

Fontes:
Conselho Técnico de Entre Douro e Minho
Viana Social e Cultural



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