O ouro que
cada mulher ostentava, conforme a sua quantidade, indicava o seu estatuto
social.
A joalharia
portuguesa era um adorno complementar do traje. Num mundo de constantes
flutuações políticas e económicas, a posse do ouro era tida, a par da terra,
como o único investimento passível de ser transmitido de geração em geração.
“O povo
dizia: “roupa quanta rompas, terra quanta vejas e ouro quanto possas”.
Os brincos
são verdadeiros pontos de luz que iluminam, realçam e embelezam o rosto da
mulher.
No passado,
nenhuma mulher tinha sequer a veleidade de se apresentar em público sem
brincos. Aliás, ninguém a desculpava. O povo era até cruel e impiedoso com ela.
Mulher sem brincos não passava de uma “mulher fanada”. Por mais humilde e pobre
que fosse, a mulher jamais se atreveria, quer no seu dia-a-dia, quer em dias de
festa, feira e romaria a sair à rua sem eles. Apenas existia alguma compreensão
e benevolência para a falta de brincos se, eventualmente, estes tivessem sido
oferecidos, em momentos de grande angústia e desespero, a alguma divindade para
cumprimento de qualquer promessa. Mesmo assim, a tolerância era relativa e
muito curta no tempo. A mulher tinha que providenciar no sentido de adquirir de
novo este importante adorno.
Na figura
abaixo visualizam-se alguns dos brincos mais usados na região Entre Douro e Minho,
destacando-se, em primeiro lugar, as arrecadas à carniceira. Rapariga que se
prezasse, removia “mundos e fundos” para poder adquirir o popular traje à
lavradeira, que envergava em grandes ocasiões, mas jamais o exibia sem colocar
nas orelhas as avantajadas e vistosas arrecadas à carniceira.
As arrecadas à carniceira, também chamadas argolas de
Barcelos ou de Cigana, muito em uso, especialmente nessa região. Estas peças
começaram a ser muito divulgadas a partir do princípio deste século, em
especial pelas mulheres dos talhantes (daí o seu nome) daquela cidade,
atestando a sua situação económica com tamanhos que atingiam, por vezes,
dimensões desproporcionadas. São peças ocas, de ouro polido com canovão de
secção quadrada, de ganchos, com grande incorporação de mão-de-obra.
Arrecada à Carniceira |
As arrecadas são as peças com antepassados mais
antigos, aproximadamente 2.500 anos e com os mesmos motivos amuléticos. Forma lunular na “janela” ou “pelicano” na parte próxima dos ganchos;
pequenas calotas côncavas dispersas (chocalhos afugentadores de maus
espíritos); “SS” de filigrana (estilização de pássaros voando); triângulo
invertido como remate (símbolo da fertilidade). São peças manuais em filigrana.
Arrecadas |
Os brincos de meia libra refletem a utilização de
moedas como adorno, não só como pendentes de cordões mas também das orelhas,
sendo normalmente utilizadas libras ou meias libras.
Brincos de Meia Libra |
Sendo assim,
é imperioso que todos os agrupamentos folclóricos jamais olvidem este pormenor:
no trabalho, a mulher não ostentava quaisquer elementos em ouro, mas os brincos
jamais se separavam dela em todas as situações.
Fontes:
Conselho Técnico de Entre Douro e Minho
Viana Social e Cultural
Fontes:
Conselho Técnico de Entre Douro e Minho
Viana Social e Cultural
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