quarta-feira, março 13, 2013

Os Alfacinhas e os Retiros das Hortas


Por Carlos Gomes

Os lisboetas tinham outrora o curioso costume de irem passear às hortas que era, como quem diz, retirarem-se da cidade para poderem gozar um pouco dos prazeres do campo, geralmente aos domingos. Deliciavam-se então com os piqueniques familiares que organizavam ou simplesmente almoçar nas velhas “casas de pasto”, assim designadas por inicialmente apenas darem as forragens aos animais enquanto os donos negociavam na feira. Em muitas delas, ainda se conservam as argolas que prendiam os animais.

Com o decorrer do tempo e vendo a oportunidade de negócio, os proprietários das “casas de pasto” passaram também a dar de comer aos donos dos animais e assim floresceu um negócio que veio a dar origem aos modernos restaurantes e snack bares. Outras, porém, mantiveram parte das suas características iniciais e adquiriram fama pela clientela que atraíam. Eram os chamados “retiros das hortas”, muito apreciados da burguesia citadina.
 
Nos retiros, conviviam fadistas e boémios, nobres e burgueses, os quais procuravam no meio rústico um ambiente pitoresco que a cidade não lhes proporcionava. E, desse costume que os lisboetas tinham de ir às hortas, nasceu para sempre a expressão com que passaram a ser designados, colando-se ao seu próprio gentílico os alfacinhas!

Ao artigo anterior acrescentamos:

«Alfacinhas – A origem da designação perde-se: há quem explique que nas colinas de Lisboa primitiva verdejavam já as "plantas hortenses utilizadas na culinária, na perfumaria e na medicina" que dão pelo nome de alfaces. ‘Alface’ vem do árabe, o que poderá indicar que o cultivo da planta começou aquando da ocupação da Península pelos fiéis de Alá. Há também quem sustente que, num dos cercos de que a cidade foi alvo, os habitantes da capital portuguesa tinham como alimento quase exclusivo as alfaces das suas hortas.

O certo é que a palavra ficou consagrada e, de Almeida Garrett a Aquilino Ribeiro, de Alberto Pimentel a Miguel Torga, os grandes da literatura portuguesa habituaram-se a tomar ‘alfacinha’ por lisboeta.»

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