Publicou a revista Ilustração
Portugueza, na cada da sua edição de 17 de março de 1913, duas interessantes
fotografias que mostra os trajes da mulher do Soajo e do jangadeiro de Anha ou
seja, aquele que conduzia a jangada do sargaço na travessia do rio Lima,
envergando a tradicional branqueta do sargaceiro. O texto que acompanha as
fotos possui também algumas particularidades curiosas que refletem bem a
distância que então separava o jornalista habituado ao meio burguês e citadino
em relação à profundeza da vida rural que de mais interessante apenas
proporcionava os motivos pitorescos com que ilustrava as páginas dos jornais.
Transcreve-se o artigo respeitando-se a grafia original.
Mulher de Castro Laboreiro |
Em luta constante com a natureza,
a quem arrancam após porfiadas canceiras as matérias primas que lhe fornecem o
fato e o alimento, únicos produtos das rudimentares industrias que exercem: a
pastorícia e a agricultura, os montanhezses de Castro Laboreiro são uma pobre
gente desconfiada e semi-selvagem.
O vestuário das suas mulheres dá
á primeira vista ideia lucida e sugestiva de toda a sua rudeza: capucha ou
mantela, o corpete e a saia, é tudo feito de tecido grosseiro de fabrico local
a que chamam burel ou picoto. Os tamancos toscos, espécie de sandálias,
formadas por rudes madeiros ligados aos pés por correias fortes, chamados
chancas ou alabardeiros, completam o vestuário das castrejas, em que as roupas
brancas faltam por completo.
Na mesma província do Minho, á
beira mar, o fato simples usado pelos jangadeiros d’Anha, emparceira
admiravelmente com a rudeza semi-selvagem do vestuário das castrejas.
Jangadeiro d'Anha |
É muito característico o tipo
destes lavradores-marinheiros, que nas costas do norte, principalmente junto a
Viana do Castelo, e, por todo o litoral desde Montedor até à costa do sul do
Lima, no local denominado Anha, se aventuram ao mar, a fim de colher o sargaço,
moliço ou limos, como lhe chamam, com que vão depois fertilizar as suas terras
navegando sobre frageis jangadas, formadas por oito troncos de madeira muito
leves ligadas a maneira de estrado, tendo lateralmente duas taboas dispostas em
forma de borda falsa: os troncos das bordas são mais compridos, e, levantam em
forma de rabo d’arado.
Vestem unicamente uma espécie de
sobrecasaca de lã grossa e forte, o que chamam branqueta, presa com um cinto e
abotoada na frente, uma carapuça vermelha ou um chapéo preto de grandes abas
completam tão singular vestimenta.
A.Mesquita
de Figueiredo
Fonte: Blogue do Minho
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