terça-feira, janeiro 10, 2012

GENTES DE ANTIGAMENTE - Montargil - O Lazer

Por: Lino Mendes (Portugal)

Não obstante o trabalho de sol a sol, e as mulheres ainda com o serviço da casa, que aí os homens da altura não tocavam, inventava-se sempre algum tempo para o divertimento, nomeadamente para o “balho” (baile) e para os “Jogos”, estes de uma maneira geral mais para os homens. É o caso das “tabernas”, onde as mulheres não entravem, quando muito assomavam-se à porta a chamar “ o seu/sê homem”, e onde se bailava o “fandango” e se cantava a “desgarrada” e mais tarde o “fado”.
Mas falemos das “tabernas”( ou “tascas”) como também se chamavam, como espaço de lazer que foram:
Hoje naturalmente desaparecidas, as mesmas desempenharam vincada função social num meio então ainda mais vincadamente rural como o nosso.
Existindo algumas também nos lugares rurais, (hoje a transformarem-se em progressivas aldeias) eram as tabernas da vila que ao domingo faziam o melhor negócio. Em especial as da Rua da Frente (hoje Rua do Comércio) e que então ao cair da tarde eram ponto de encontro entre os que procuravam trabalho ou o poderiam dar.
Mas a tasca era algo mais do que o ponto de encontro para questões de trabalho. Eram igualmente por assim dizer e até certa altura, como que a sua sociedade recreativa. Ali se jogava às cartas, ao xita e ao mil, assim como ao chinquilho, este com os tabuleiros no quintal ou à frente, se no campo. E como a telefonia foi luxo que só mais tarde apareceria, também de vez em quando se fazia ouvir o harmónio de uma escala (mais tarde de duas) ou a concertina( também de duas).E quase sempre também o realejo, que alguns chamavam de flauta/flaita ou gaita de beiços, e hoje chamam de harmónica.
Mas também na taberna e como já dissemos se bailava o fandango. Era aliás, ou quase porque o vinho lhe estava associado onde se cantava a desgarrada (só entre homens) e que mais tarde foi substituída pelo fado.
Entretanto, um dos entretenimentos da mulher era fazer “renda”. Aliás, mesmo quando iam à semana ou à quinzena, e quando à noite recolhiam ao “quartel”— por vezes a cabana de onde tiravam o gado— se não contavam histórias, faziam renda ou marcavam lenços para oferecer aos rapazes. Diga-se, aliás, que uma mulher quando casava tinha que ser uma verdadeira “dona de casa”, fazer a comida e saber mesmo fazer uma camisa, fazer umas ceroulas, e saber “arremendar”.
Entretanto, confirmaram-nos que no Natal sempre se fizeram os pastéis, as filhoses e o arroz doce. E quanto a comida, acrescentaram que depois cada um fazia aquilo que tinha. Se tinha uns coelhitos fazia um coelho, se tinha um borreguinho matava-o e se não tinha podia comprar um bocadinho, fazia aquilo que tinha na capoeira. Mas a ceia de Natal era sempre uma couve de azeite e vinagre.
Fonte: Portal do Folclore Português

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