Descreve
assim Júlio César Machado, na obra Álbum de Costumes Portugueses, “A Peixeira
de Lisboa”:
A
que está de cócaras é a representante da peixeira antiga; varina velha, de
trajo alheio às caprichosas modas do dia … Na cabeça, lenço amarelo; no
pescoço, lenço encarnado; colete atacado com cordão, pela frente, cinta azul,
chapéu de Braga, saia de droga de lã mais rapada que cilício.
A
outra, a bonita, é das que se avistam no mercado novo em noite de S. Pedro, festa
de peixeira rara – rara avis … piscaria
rara – porque sejam peixeiras o que lá haja menos.
Dormem
sobre esteiras, em casas que alojam quatro e cinco casais, casas boas, Às
vezes, de dezoito e vinte moedas de renda; ou em lojas sombrias e húmidas.
Vão
aos ranchos, de madrugada, para a Ribeira, arrebatar o peixe dos leilões.
(…)
Enquanto
pequenas, carregam o peixe miúdo, e, mais tarde, ninguém como elas para o
segredo, que parece nada e para a venda é tudo, de dispor o peixe na canastra.
(…)
Mal
disposto à vista, o peixe, pode, em vez de atrair as atenções, afastá-las e dar
motivo a que se retraiam, dando assim em ficar com o pior defeito de um
alimento, enjoar – antes de ser comido!
(…)
O
peixe por cá é um amor, e elas, não só cuidam dele à maravilha, mas escolhem-o
como sabedoras escrupulosas;
(…)
Agradam,
estas raparigas, tais quais são; é o caso. Olhar fatigado das grandes lojas
obrigadas a mármore, espelhos e oiro, descansa, quando contempla os lugares da
Ribeira; assim, depois de ver senhoras, há quem não desgoste de ver peixeiras …
Fonte:
Júlio César Machado, in, Álbum de
Costumes Portugueses, edição Perspectivas & Realidades
Gravura:
Aguarela de autor desconhecido
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