Há duas histórias
diferentes no que respeita ao uso das meias: na nobreza/burguesia e no povo.
Por outro lado, a história das meias é indissociável da história das malhas,
uma das técnicas de entrelaçamento de fios e fibras, de modo a produzir
tecidos.
MALHAS
O entrelaçamento de
fios com laçadas nasceu no Egipto antigo, onde as agulhas de osso e madeira
desempenhavam um papel importante. Na mitologia grega apresentasse-nos o caso
da esposa de Ulisses, Penélope, que para resistir ao casamento com um
pretendente que afirmava estar Ulisses já morto e perante o interesse de seu
pai nesse segundo casamento, pediu que a deixassem terminar uma peça de tecido;
o decido aumentavam de dia e diminuía de noite, pelo que a ardilosa grega
apenas poderia estar a usar a técnica da malha.
Com efeito, a malha
recorre a laçadas que se desfazem, enquanto a tecelagem usa o cruzamento
ortogonal de fios (teia e trama) nos dispositivos básicos ou manuais ou a
combinação destes com fios enviesados (por exemplo para a produção de sarjas)
ou torção de alguns destes fios (originando texturas encaneladas) ou ainda com
a introdução de fios com cores diversas para obter padrões com figuras na
própria tecelagem.
A malha “do povo” usa
um único fio e é obtida por trama, equivalente à progressão no sentido
horizontal do tecido. A malha industrial pode incorporar de um a muitas dezenas
de fios e o seu enlaçamento evolui por teia, ou seja: o tecido cresce no
sentido vertical. Este princípio é fundamental para quem quiser diferenciar a
natureza de um tecido de malha.
MEIAS NA
NOBREZA/BURGUESIA
O uso sistemático de
meias, obtidas por processos de fabrico elaborado iniciou-se no exército
romano, nas campanhas militares de inverno nas regiões mais frias da Europa
central e nórdica. No decorrer do século XIV entrou para o uso cortesão dos
homens, através de uma moda que nasceu em Espanha e se espalhou por todas as
cortes e palácios da Europa. O seu uso estava apenas confinado aos homens,
havendo uma frase célebre do ultra-católico Filipe IV, em relação a uma oferta
de meias de seda que fizeram à sua esposa e que ele recusou com grande azedume:
“As mulheres não têm pernas!”.
Foi preciso chegar ao
final do séc. XVIII e à boleia dos ventos que sopraram da revolução francesa,
para que as meias fizessem parte da indumentária feminina… nas classes
dominantes.
Em pleno século XX, em
Portugal, as meias de algodão produzidas em maquinaria de malha, começaram a
chegar e a ser produzidas para serem usadas pelas mulheres que iam diminuindo o
comprimento das saias. Nos anos 20 e 30 já muitas mulheres da burguesia
portuguesa as usavam e depois desta data, também as cachopas que se vestiam “à
rancho” o começaram a fazer.
Livre de preconceitos,
sujeito a necessidades e sem outros recursos do que os que cada região possui,
o povo terá usado meias, no masculino e no feminino, antes das classes
dominantes. Naturalmente, não como adorno, mas como necessidade nas estações
mais frias do ano.
A proteção aquecida
dos pés e pernas, começou por ser feito com pele de animais e foi evoluindo
para soluções mais elaboradas e confortáveis, sendo incontornável o uso de
fibras animais, pelo seu aconchego. Já se perdeu o aproveitamento dos pelos dos
cavanhaques dos bodes (excecionalmente compridos) para fazer meias, do mesmo
modo que se perdeu o uso das cerdas lombares dos porcos para fazer pincéis.
Permanece a lã.
Resulta assim, que as
meias do povo são de lã, com malha manual, por vezes feitas com muita
criatividade, tal como intercalar fios de lã com cores alternadas (lã branca e
lã churra de cor castanha). Estas meias e estes usos podem ser indistintamente
tomados pelas mulheres e pelos homens.
No caso concreto dos
usos femininos nas mulheres do povo, as meias de algodão com rendados, desenhos
e feitios, são de uma inutilidade total, pois as saias tapam até aos artelhos e
não proporcionam os mesmos resultados aconchegantes das meias de lã. Convém não
esquecer que até meados do século XX, em Portugal, a moralidade a que a mulher
portuguesa estava sujeita, ainda aplicava a frase de Filipe IV: as mulheres não
têm pernas.
Podemos concluir que
no período onde pesquizamos e reproduzimos o trajar nos grupos de folclore (de
finais do século XIX até primeiras duas décadas do século XX), as meias são uma
peça de lingerie para as mulheres das classes dominantes e uma peça de uso
externo e circunstancial para as mulheres do povo.
PS : queria
acrescentar uma pequena explicação das fotos aqui colocadas no post. São fotos do Minho, minhotos em trajes de
festas na zona de Viana do Castelo com data 1880, e fotos de chinelos de Guimarães
tirados da Ilustração Portuguesa de 1909.
Queria apontar que o
uso dos "ranchos" dessa zona tem por habito usar meias de renda
branca, ora aqui temos fotos a provar o contrario ou seja, a demostrar que não
era "regra rígida"!!!!
Sendo assim uma
minhota poderia usar durante a semana, ou numa grande ocasião todas essas
possibilidades :
1. Não usar meias
2. Usar meias de lã
3. Usar meias as riscas
4. Usar meias de cor
5. Usar meias rendadas.
Em conclusão a verdade
esta na variedade e na simplicidade.
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