segunda-feira, setembro 29, 2008

Trajos populares de Pardilhó - Estarreja

O trajo que vemos corresponde ao «vendedor de aves de Pardilhó», hoje representado pelo grupo etnográfico Danças d’Aldeia, de Pardilhó, e pelos Camponeses da Beira Ria, do Bunheiro. O vendedor de aves deslocava-se a pé ao Porto e, certamente, a localidades mais próximas de nós, para vender a sua caça. Mas que aves seriam aquelas? Os autores dos trabalhos publicados até à primeira metade do século XX falam na pardilheira, à qual também chamavam de pardilho, que pela descrição feita dever-se-á tratar do marrequinho (Anas Creca), na nossa região também conhecido por marreca ou marrequinha. É a ideia que podemos adiantar pela informação que nos deu o nosso amigo Paulo Santos. Aquela ave abundava na nossa ria no antigamente, embora não possamos hoje dizer o mesmo, e talvez fosse caçada à noite com redes. Poderia tratar-se de igual modo de pardais e é possível que venha daí a alcunha de “pardaleiro” em Pardilhó.
O original da fig. 1 aqui publicada, legendado como «Marchand de volaille de Pardilho», foi encontrado pelo Padre António Ruela e Silva num alfarrabista de Paris, há mais ou menos trinta anos. A figura avulsa pertence hoje ao nosso amigo Eng. José Ruela e Silva, que gentilmente no-la emprestou, e faz parte de uma vasta colecção francesa, editada em quatro volumes de 1843-1844, todos recheados de figuras coloridas, correspondendo o primeiro volume ao continente europeu. Estes volumes, cujo autor foi Auguste Wahlen, foram baptizados de «Moeurs, usages et costumes de tous les peuples du monde, d’après des documents authentiques et les voyages les plus récents» (Bruxelas, «Librairie historique-artistique»). Existe uma tradução portuguesa por Francisco Ludovino de Sousa Freitas Sampaio, com o nome de «Costumes usos e trajos de todos os povos do mundo em face de documentos authenticos e das mais recentes viagens», Lisboa, Imp. Lusitana, 1872-1878.
Entre as muitas dezenas de gravuras desta colecção, todas elas fora do texto e coloridas, há apenas três de Portugal: o vendedor de aves de Pardilhó, Ovarina, e Mulheres de Miranda (do Douro). O Dr. Rocha Madahil faz referência a esta colecção e ao respectivo vendedor de aves no seu trabalho «Alguns aspectos do trajo popular da Beira Litoral», que publicou-se no «Arquivo do Distrito de Aveiro» a partir de 1938, nos volumes IV (pág. 145 e ss. e 213 e ss.), V (pág. 59 e ss. e 247 e ss.) e VII (pág. 115 e ss.), e em separata em 1941. O Museu de Ovar entendeu numa das suas múltiplas publicações, e bem, reeditar este trabalho do insigne investigador regionalista que é o Dr. Rocha Madahil, em 1992. É ele quem nos diz ainda que o vendedor de aves de Pardilhó «documenta a sua evolução última com as manaias dos marnotos das marinhas da Ria de Aveiro».

A vendedora de peixe de Pardilhó e Murtosa, obtemo-la na Biblioteca Nacional, e não fosse o surgir no interior da capa de «Murtosa Gente Nossa», de Lopes Pereira, pouco nítida e legendada meramente como «trajo antigo», sem qualquer referência à sua verdadeira origem, seria entre nós completamente desconhecida. A figura foi publicada em Paris, provavelmente em 1843, legendada como « Mde de poissons de Pardilhé et Murtoja», i.e Marchande de Poissons de Pardilhó et Murtosa, constituindo o número 81 da colecção do Musée Cosmopolite, que tem também a «femme d’Ovar» e o «Paysan de Murtosa», utilizados de igual modo por Macphail, de quem falaremos de seguida, na sua primeira colecção.

Dos dois vendedores João Macphail, que rapidamente terá tido conhecimento de existirem, fez uma reprodução mais ou menos aproximada. Deste tipógrafo lisboeta são célebres três colecções de litografias de trajos populares portugueses que, tendo merecido reparos vários na época em que se editaram, não deixam de ter o seu valor. Rocha Madahil dá-nos informações acerca de todas. A primeira colecção de estampas coloridas litografadas por Macphail data de 1841 e são dela conhecidas 18 figuras. Nova colecção sai logo em 1842, conhecendo-se desta 12 figuras. A terceira não tem data, embora Alberto Sousa lhe atribua 1843 (sem fundamento, segundo cremos), e constitui-se, que se saiba, de 17 figuras, sendo duas delas da Beira Litoral, o vendedor de aves – que estende também à Murtosa – e a vendedora de peixe.
As duas figuras que nos interessam da 3.ª série de Macphail (fig. 3) aparecem no trabalho de Alberto Sousa «O trajo popular em Portugal nos séculos XVI e XIX», de 1924, com as seguintes legendas:
«VAREIRO – Pardilhó e Murtosa – 1843
Barrete preto com orla vermelha, cabelo em compridas guedelhas, camisa aberta no peito, cinta vermelha, cuecas e colete azul com grandes botões de metal. Vende Caça.»
«VAREIRA – Pardilhó e Murtosa – 1843
Chapéu de abas largas, lenço branco pousando sobre a romeirinha preta, corpete vermelho com grandes botões prateados, saia azul apertada na cintura.»


Daquilo que de trajos populares respeitantes ao concelho Estarreja há notícia até ao final do século XIX não conhecemos mais nada. Por isso estas são as figuras de costumes mais antigas publicadas respeitantes ao concelho de Estarreja. Estando nós numa região de costumes tão diversificados, onde a Murtosa, vizinha e culturalmente próxima, surge tão frequentemente com trajos diversos em trabalhos como aqueles a que aludimos, o ter encontrado duas figuras de Pardilhó deu-nos alguma satisfação, só minimizada pela frustração de não haver mais nenhuma das outras seis freguesias do concelho. Se foram estes os trajos que aqui mais chamaram a atenção das colecções do século XIX, então talvez possamos dizer que estas duas figuras correspondem àquilo que de mais típico existe no concelho de Estarreja.


Fonte: Marco Pereira, 2002 In http://pardilho.planetaclix.pt/index.htm

quinta-feira, setembro 18, 2008

O BARQUEIRO DO MONDEGO


O Rio Mondego, até princípios do século XX, era a única via de comunicação importante da região, dando emprego a muita gente das suas proximidades como Barqueiros, Calafetes, Carreiros, Estanqueiros, etc.
O Barqueiro do Mondego, tinha como função conduzir a Barca serrana, no transporte de lenha, carqueja e carvão para Coimbra ou Figueira da Foz. No sentido inverso, era possível receber mercadorias por mar e embarca-las rio acima. Assim, para além de peixe (seco ou salgado), sal, louça de Coimbra, vinho, etc. Paralelamente com o transporte de mercadorias, também transportavam lentes e estudantes da Universidade de Coimbra, que iam passar férias às suas terras Natais.
A Barca serrana deslocava-se com a ajuda de remos, da vela, da corrente do rio e por vezes das varas (quando havia menos água), espetando-as no fundo do rio e andando pelo bordo, apoiando a vara contra o lado do peito, virados para a ré. Tinham que colocar um pano grosso, para protegerem o peito, mas mesmo assim fazia “mossa”.
O traje do Barqueiro do Mondego era composto por ceroulas até aos joelhos, uma camisola de lã, um colete, um garroço para o frio e os pés descalços ou com alpercatas de pano.
Para dormir, as barcas possuíam na proa ou na ré, umas cavidades “Leito”, onde os barqueiros dormiam, sendo o colchão de esteiras de palha, colocados por cima do estrado, e tendo como cobertores, a vela ou sacos, e dormiam com os pés para o bico.
Muitos eram os portos importantes ao longo do Rio Mondego, para carregarem e descarregarem mercadoria. Dos quais destacamos o Porto da Raiva, como sendo o mais importante, e considerado um dos maiores do país, até meados do séc. XIX. Porto este que diz a tradição, que a povoação da Raiva, era então situada na Foz do Rio Alva.
Aqui chegados, as mercadorias eram descarregadas, e depositadas em locais apropriados, e depois eram levadas em carros de bois “Os Carreiros”, e distribuídas pelos concelhos de Penacova, Arganil, Tábua, Mortagua e Oliveira do Hospital.
Nos portos de Coimbra, os barqueiros quando procediam ao carregamento ou descarregamento das barcas, tinham de calçar as alpercatas de pano, se fossem apanhados descalços pelos guarda rios, eram multados, se porventura andassem com um pé calçado e outro descalço, pagavam metade da multa.

Fonte: Rancho Típico de Miro "Os Barqueiros do Mondego" do Grupo de Solidariedade Social, Desportivo, Cultural e Recreativo de Miro

domingo, setembro 14, 2008

A Saia no Traje à "vianesa" - Minho


Das mãos e arte das tecedeiras nascem duas das peças mais vistosas do traje à «vianesa»: a saia e o avental. É na Serra d’Arga que se concentram e onde se distingue a tradição das saias tecidas em lã, das quais, três merecem hoje destaque:

A saia conhecida por regional - tecido vermelho com estreitas listras pretas e brancas. É a saia tradicional do traje de Viana, usada em todo o distrito e com variantes em azul, verde ou preto ou branco (como acontece na Meadela);

A saia designada de moscas - tecido com uma cor de fundo - azul, verde, vermelho, branco ou preto (luto) e barrras de puxados (moscas), formando desenhos noutras cores (onde todas as combinações são possíveis e ficam ao gosto da tecedeira). A técnica dos puxados (moscas) consiste em puxar o fio da trama (tear), com um gancho ou mesmo com o dedo, em determinados sítios antes de tramar com o pente (também se usa esta técnica nas conhecidas mantas de trapos). É a saia mais usada pelas raparigas de Dem e a mais exuberante.

A saia de cordões - só usada pelas raparigas da Serra d’Arga é, também, uma saia feita com tecido de várias cores (regional), com listras pretas e brancas mas onde se entremeiam cordões de fio de lã grossa. Para que qualquer destas saias ficasse mais comprida acrescentam-lhe o «forro» (30 cm) de fazenda (geralmente de cor preta), onde se bordam as silvas. Ter-se-iam iniciado na Meadela pela Senhora “Sãozinha da Branca» no início do século e ocupavam só a parte superior do forro. Hoje variam, quase de aldeia para aldeia, e devem-se à imaginação da bordadeira. Na Montaria acrescentam-se às silvas, fores, folhas de várias cores a que se juntam lantejoilas e que chegam a ocupar todo o forro.

terça-feira, setembro 02, 2008

Os Aventais Minhotos - Minho

O Avental é parte integrante do trajo Minhoto e apresentam uma riqueza de motivos, cores e formas que merece uma referência especial.

O mais antigo é o chamado avental aos «cadros», feito com puxados formando «quadrinhos» - pequenos quadrados e outros desenhos de carácter geométrico.

O mais moderno é o chamado avental de rosas: trata-se de um avental de puxados com um rectângulo central, contornado por uma barra onde estão dispostas simetricamente seis rosas, completadas ou não com folhinhas e fores ou mesmo barras verticais com alguns desenhos geométricos.

Os modelos mais ricos provêm de Perre e Outeiro, assim como de Cardielos, Serreleis, Santa Marta e Meadela.

Os aventais de Afife são muito diferente dos anteriores.

Possuem fundo vermelho constituído por dois «andares» de padrão diferentes, mas ambos de riscas pretas. A separar os dois «andares» (o superior é maior), encontramos uma fieira horizontal de puxados «topes» na cor vermelha formando uma espécie de franja, feito com lã que se vai me tendo e puxando ao longo da tecelagem.