quarta-feira, junho 27, 2012

Chapéu de Alcains – Castelo Branco – Beira Baixa

Quem, há uma dúzia de anos, atravessasse os campos de Idanha-a-Nova ou percorresse muitas aldeias do distrito de Castelo Branco, notaria que as gentes do povo, os que mourejam de sol a sol, usavam, geralmente, pesados chapéus de lã, de abas largas e copa baixa, os bem conhecidos chapéus de Alcains, do custo de nove vinténs.

Veio a guerra (1914-1918), e o turbilhão de transformações que ela devia operar, os pobres àbeiros quase desapareceram, sendo já hoje muitos raros, mesmo na arraia de Idanha.

- Origem da indústria? Motivo da decadência?

Não se conhece a origem nem a data exacta da instalação do fabrico. Pelo depoimento de pessoas da localidade, creio poder afirmar que ela vem de tempos distantes, e que, não há muito ainda, empregava mais de uma dúzia de industriais.

Porque decaiu então esta indústria, se outras, como o linho, criaram, com a guerra, novos alentos e arregimentaram novas tecedeiras?

Os chapéus de Alcains são feitos exclusivamente de lã, e esta subiu a preços incomportáveis.

Os compradores, gente simples do campo, fugindo à carestia e levados na onda do luxo, começaram a desprezá-los. Os chapéus de lã de Alcains mal puderam, por isso, resistir à concorrência dos de feltro.

- Processo de fabrico?

Os chapéus de Alcains são feitos, como se disse de lã, exclusivamente de lã, comprada na região, que, depois de lavada, escarameada, cardada, em-arcada e bastida, é levada à cabeça (forma de azinho do feitio de uma cabeça).

Na operação de lavagem, não vale falar por ser bem conhecida.

Escaramear consiste em separar e desfazer os aglomerados de lã.

Cardar o mesmo é passar a lã por entre as cardas, - placas de bicos de aço muito afiados e muito juntos. A cardação é feita no burrinho, banco com uma carda fixa onde o cardador se senta e manobra, com as mãos, em movimento regular e continuo, de encontro à caixa fixa, uma carda móvel.

Em-arcar consiste em desfiar ainda mais a lã separando-a bem e tornando-a fofa e leve. A em-arcação é feita com uma vara de madeira, de pouco mais de dois metros, que tem presa às extremidades uma corda em forma de aro, espécie de arco de rabeca. Preso, o arco, ao teto e suspenso sobre uma mesa, o chapeleiro estica a corda, entrelaça nela a lã e fá-la saltar, uma e muitas vezes, até a lã, ficar fofa, muito leve, bem separada e desfiada.

Bastir equivale a empastar ou fazer a papa.

A lã é deitada numa plancha (grande bacia de folha de cobre de 60 a 65 centímetros de diâmetro e 15 de profundidade) e ali embebida em água. Acesa uma fornalha por debaixo da plancha, a lã toma, com o aquecimento e consequente evaporação de água, a forma pastosa.

A pasta é levada para a cabeça, o chapeleiro, passa sobre ele, vezes em conto, o ferro de passar e o chapéu fica assim moldado.

Enxuto, em seguida, ao sol, debruado e forrado com um pobre forro de chita de várias cores, vai para o mercado, e do mercado para as maiores inclemências do calor e do temporal, proteger e abrigar tantos que, de sol a sol, mourejam na conquista do pão de cada dia.

Texto de Jaime Lopes Dias in Tradições e Costumes da Beira

sexta-feira, junho 08, 2012

Desfile do Trajo em Guimarães



Não é mais um filme mas os espectáculo completo.
Para quem não viu ou queira rever.