terça-feira, julho 31, 2007

Apanhador de Medronho – Algarve

Uma das bebidas mais populares e apreciadas do Algarve é sem dúvida a aguardente de medronho.
O trajo de trabalho do homem algarvio era geralmente sempre o mesmo, sofrendo pequenas alterações com a introdução de algumas peças ou acessórios específicos para o desempenho de determinada actividade.
É o que sucede com o trajo do apanhador de medronho, já que, ao vestir um par de ceroulas sobre as calças de cotim, procura protege-las das nódoas causadas pelos frutos maduros. Estas manchas eram difíceis de retirar dos tecidos de cor, mas facilmente eliminados do tecido branco, após sucessivas barrelas e coras.
Este trajo era composto por uma camisa de riscado, com cós e peitilho. “Gribalda” de riscado preto e branco com cós, espelho e frente franzida, abotoada e com as pontas atadas sobre a cintura. No peito, do lado direito, uma algibeira com pala e botão, onde guarda o tabaco. As calças eram de cotim azul, sobrepostas por ceroulas de pano cru, ajustadas nos tornozelos com fita de nastro. Na cabeça, chapéu preto de aba larga e copa redonda. Calça botas de atanado. Na mão, segura um cesto de cana com asa a tiracolo.

Referência Bibliográfica: O Trajo Regional em Portugal, Tomaz Ribas, Difel, 2004


Site recomendado: São Bartolomeu de Messines

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segunda-feira, julho 30, 2007

Cabreiro – Algarve

O traje do cabreiro não difere do trajo do trabalhador rural, apenas nos acessórios específicos para a actividade a que se dedica.
Consigo traz tudo o que necessita para o seu dia atrás do rebanho de cabras.
A “balsa” de esparto para a merenda, a cabaça para a água, o “cucharro” de cortiça para beber, o cajado para se apoiar, a funda para atirar pedra.
Nestas longas e lentas caminhadas pelos campos a flauta é a sua companheira.
Veste camisa de riscado, fechada na frente por botões de osso, sobre a qual usa um colete de cotim. Sobre estas duas peças uma outra camisa de riscado azul e branco, atado à frente, ao nível da cintura, com um nó, sendo guarnecida com um bolso no peito, onde guarda o tabaco. Calças de cotim idêntico ao colete, protegidas por safões de pele de carneiro, ajustados na cintura e na parte interior das pernas, com presilhas e botões. Reforçando a protecção das pernas usa polainas de couro, fechadas com presilhas. Calça botas de carneira.
Na cabeça usa chapéu de feltro de aba larga e ao pescoço traz um lenço tabaqueiro para limpar o rosto do suor.

Referência Bibliográfica: O Trajo Regional em Portugal, Tomaz Ribas, Difel, 2004
Site recomendado: São Bartolomeu de Messines
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Traje de Festa Feminino – Ílhavo – Beira Litoral

Trata-se de um trajo de festa em que existe uma clara afirmação do poder económico da mulher, não só pelos adornos, com pelo uso do mantéu, um elemento imprescindível do traje de luxo, coroado pelo magnifico chapéu, tão grande que se torna necessário usar presilhas para segurar a aba à copa.
Veste camisa de linho, com um pequeno cós guarnecido de renda larga, abotoada à frente com botões de tremoço, forrados a tecido, manga comprida com punho. Colete de seda lavrada, vermelho-vinho, debruado a preto, ajustado na frente com cinco pares de botões de prata e respectivas abotoaduras. Saia de tecido de lã preta, comprida, franzida na cintura e guarnecida em baixo com barra de veludo recortada e contornada com galão. Sobre a anca, faixa cor de vinho, que não ajusta, e algibeira preta bordada, suspensa na cintura.
Envolvendo o corpo usa um amplo mantéu preto, com cabeção largo de veludo guarnecido a galão e frentes debruadas também a veludo e galão.
Na cabeça usa um lenço lavrado, com as pontas laterais levantadas, acompanhando a larga aba do chapéu de presilhas, presas à copa e rematadas com pompons.
As chinelas pretas e as meias brancas eram acessórios indispensáveis neste trajo.
Referência Bibliográfica: O Trajo Regional em Portugal, Tomaz Ribas, Difel, 2004
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quinta-feira, julho 26, 2007

Traje de Luto – Póvoa do Varzim – Douro Litoral


No século XIX, seguiam-se regras severas para o traje de luto. Para parentes próximos, usava-se o preto durante meses ou até anos. Para parentes distantes, as roupas possuíam detalhes em preto. Quando o príncipe Alberto morreu, em 1861, a rainha Vitória enlutou-se e ajudou a promover uma grande voga de roupas pretas.
Na tradição popular portuguesa o luto era profundamente vivido e socialmente controlado.
Essa vivência fazia com que fossem colocados de lado os trajos mais vistosos, muitas vezes para o resto da vida, como aconteceu com o traje de branqueta da Póvoa do Varzim após o naufrágio de 1892, que enlutou a maioria das famílias dessa região, apenas sendo ressuscitado em 1936 por Santos Graça.
Durante o luto, o homem poveiro usava camisa ou camiseta preta. Se possuía fato preto, usava-o, quando o não tinha, punha o fato de trabalho mais escuro e colocava na cabeça um casaco pendurado pela cava interior de uma das mangas.
O uso do Gabão também era comum. Este era feito de tecido de lã castanha (saragoça) com cabeção, capuz e mangas compridas. Nas frentes, carcela e bolsos metidos a costura era pespontada a branco. Forro de branqueta. O capuz cobria não só a cabeça, mas ocultava o próprio rosto, resguardando-o de olhares estranhos.


A mulher usava casaco e saia pretos, lenço preto na cabeça, embiocado, e uma saia de costas, também preta, muito semelhante à saia de vestir, com pregas miúdas junto à cintura, embora mais curta e com menos roda. Colocada sobre a cabeça, envolve o corpo até à cintura.
O trajo de luto anulava praticamente a figura da mulher. Como sinal de tristeza profunda, de renúncia ao conforto e desprendimento dos bens materiais, esconde o rsoto dos olhares intrusos e anda descalça.

Fontes:
O Trajo Regional em Portugal, Tomaz Ribas, Difel, 2004
O Traje do Litoral Português, Câmara Municipal da Nazaré – Museu Etnográfico e Arqueológico Dr. Joaquim Manso, 2003
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Trajos da Eira – Boidobra – Beira Baixa

Estamos perante trajos de Verão, usados aquando da limpeza do cereal na eira. Os tecidos são simples e frescos, cobrindo todo o corpo, evitando que o pó entre em contacto com a pelo, causando irritações desagradáveis.
A mulher no trabalho da eira usa blusa de algodão riscado, com pequena gola em banda, abotoada à frente com botões, manga comprida com punho. Saia de tecido de algodão vermelho, franzida na cintura e protegida na frente por um avental comprido de algodão estampado, com bolsos.
Na cabeça usa um lenço de algodão estampado, com as pontas laterais atadas sobre o chapéu de palha de abas largas, calça socos com rasto de pau. São instrumentos de trabalho a pá e o forcado.

O homem veste camisa de algodão de manga comprida, ou, por vezes, apenas a camisola interior de malha. Veste calças de cotim em tons de azul, ajustadas na cintura pela faixa preta. Por debaixo das calças, veste ceroulas de tecido de algodão, ajustadas junto aos tornozelos com fita de nastro. Na cabeça, para proteger do impiedoso sol de Verão, chapéu de palha de aba larga e ao pescoço lenço tabaqueiro, que lembra a necessidade de limpar o suor do rosto durante o trabalho árduo.
Calça socas sem meias. Como instrumento de trabalho usa o malho e para aplacar a sede traz presa à cinta uma cabaça.

Fonte: Ribas, T., O Trajo Regional em Portugal, Difel, 2004

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quarta-feira, julho 25, 2007

Romeiros da Senhora da Atalaia – Montijo


A romaria à Senhora da Atalaia remonta ao sec.XVI, época em que os empregados da alfândega de Lisboa prometeram dedicar uma romagem anual ao santuário se Lisboa ficasse livre da peste. Este círio ganhou grande importância no reinado de D.José I.
Num pequeno monte junto ao Montijo, foi edificada uma ermida que conheceu momentos de grande afluência de romarias. Os círios provinham de muitas localidades e alguns de mesteres profissionais.


A grande festa dos círios era, como ainda hoje, no último dia de Agosto, altura em que acorriam os círios e muito povo.
Sendo uma das grandes manifestações de religiosidade popular da margem sul do Tejo, naturalmente, os trajos exibidos nestas ocasiões são os de festa, a que associam acessórios de carácter religioso e de significado prestigiante para o seu portador.




No início do sec.XX um dos trajos apresentados pelos homens em romaria era descrito como usando camisa de linho branca, colete de tecido de lã castanho, com gola de rebuço e acertoado na frente, com bolsos, de onde pendia a corrente do relógio. Calças de tecido idêntico ao do colete, ajustadas com cinta preta, e lenço tabaqueiro no bolso. Na cabeça, chapéu de feltro de aba larga, direita. Calça sapatos pretos.
Segura a bandeira com a imagem da Senhora da Atalaia e no peito exibe a medalha, indicando ser um dos compradores dessa bandeira.
A mulher apresenta blusa com gola, frentes com encaixe decorado com folho e pregas contornadas com renda aplicada, manga folgada com punho. Saia de tecido de lã, decorada com listas em tons de verde, franzida na cintura e debruada na orla. Avental branco, comprido, bordado com motivos florais. Segura um xaile preto de merino e um alguidar e a toalha de rosto, peças imprescindíveis para cumprir o ritual da festa, ou seja, a tradicional lavagem do rosto com água da Fonte Santa.

Fonte: Ribas, T., O Trajo Regional em Portugal, Difel, 2004
Site recomendado: Rancho Etnográfico de Danças e Cantares da Barra Cheia

terça-feira, julho 24, 2007

Trajo de Festa – Paços de Brandão – Beira Litoral

Lavradeira Rica

Este traje do final do sec.XIX, é composto por casaquinha curta, preta de tecido de seda lavrada, decote redondo deixando ver o folho branco que guarnece o cós da camisa. A frente é abotoada e decorada com fitas de seda franzidas e orla rematada com folho de renda ou seda. As mangas são compridas deixando ver junto aos punhos o folho da camisa.
A saia é de tecido idêntico ao da casaquinha, franzida na cintura, decorada com aplicação de galão preto e fita de cetim na extremidade.
Na cabeça usa um chapéu de feltro preto, com abas de veludo acompanhando a copa e bordada com motivos florais policromados. Podia ainda usar um chapéu de plumas ou uma “chapelinha de pêlo de cartola”, com a aba ondulante, profusamente decorada com fitas de seda, flores e aplicações de metal. Esta chapelinhas colocam-se sobre a cabeça por cima de um lenço de renda branca, deixando as pontas cair livremente nas costas.
O peito é ornamentado com cordões e diversas peças em ouro, usando nas orelhas brincos barrocos.
Nas mãos segura uma bolsa de seda bordada. Calça meias brancas rendadas e chinelas pretas.

Traje Masculino

Neste traje tem especial destaque o colete bordado pelas mulheres. Cada uma conforme as suas posses e conhecimentos destes lavores, esmerava-se na sua composição e na selecção dos pontos a aplicar. Os homens exibiam com vaidade e orgulho estas peças únicas e especificas de Paços de Brandão, para celebrar ocasiões especiais.
Além destes coletes os homens usavam camisa de algodão branco com colarinho de pontas arredondadas, ajustando com fita estreita de cetim, peitinho decorado com nervuras, abotoada na carcela. O colete é de tecido preto de rebuço e bolsos. As calças são de tecido de lã preta, aconchegadas na cintura por uma faixa de lã vermelha. Na cabeça, chapéu de feltro preto, de copa direita e aba larga. Calça botinas de pele preta.

segunda-feira, julho 23, 2007

1º Aniversário



Há cerca de um ano embarquei nesta aventura de criar um blog sobre trajes populares portugueses, confesso que não fazia a mais pálida ideia no que me estava a meter.
Embora possuindo um acervo de imagens e descrições de trajes com alguma dimensão, não estava preparado para manter o ritmo de publicações que me foi solicitado, o que me obrigou a efectuar pesquisas constantes.
É verdade que parte dos trajes descritos proveio de sites de ranchos folclórico, a quem, merecidamente, faço sempre referência, mas, infelizmente, a maioria dos grupos ainda não se apercebeu do potencial da Internet para a sua divulgação e consequentemente da cultura tradicional que representam.
Embora tenha a colaboração de alguns grupos, outros nem respondem à minha correspondência, o que lamento profundamente.
Quando pedincho a colaboração dos grupos não é com intenção de me apossar de nada, já que não tenho proventos deste trabalho, apenas pretendo divulgar um património que é de todos nós, e do qual já muitos não temos memória.
Por outro lado, a net permite-nos perpetuar e espalhar por todo o mundo essas tradições.
Agradeço a colaboração de todos, grupos e particulares, pelo que apelo à vossa disponibilidade para divulgarem os vossos trajes.
O meu muito obrigado aos leitores que visitam o blog, sobretudo aos que deixam o seu comentário, sempre gratificante e com os quais me emociono, sobretudo se são de pessoas que estão do outro lado do mundo.
A todos bem hajam!
Da minha parte, comprometo-me a continuar a divulgar os trajes de Portugal.

Com elevada estima
Carlos Cardoso