terça-feira, dezembro 19, 2006

Tradições de Natal

Muito embora este blog tenho como objectivo a divulgação de trajes populares portugueses, parece-me poder abrir uma excepção para falar de algumas tradições natalícias muito enraizadas em Portugal, aproveitando para desejar a desejar a todos os visitantes um
Feliz e Santo Natal

Presépio

Na origem deste costume encontram-se as esculturas e quadros que enfeitam o templos para doutrinar fieis analfabetos e as representações teatrais semilitúrgicas que se representavam durante a missa de natal. Mas a tradição gerou-se no século XIII quando São Francisco de Assis quis celebrar o natal o mais realista possível, e com a permissão papal instalou um presépio de palha dentro de uma cova, pôs a imagem do menino Jesus um boi e um burro vivos perto dela. E nesse cenário celebrou-se em 1223 a missa de natal. O sucesso desta humilde representação do presépio foi tal que rapidamente se estendeu por toda a Itália. Logo se introduziu nas casas nobres europeias e de lá foi descendo até ás classes mais pobres. Na Espanha, a tradição chegou pela mão do monarca Carlos III, que a importou de Nápoles no século XVIII. A sua popularidade nos lares espanhóis, portugueses e latino americanos estendeu-se ao longo do século XIX e a França não o fez até inícios do século XX.

Missa do galo

Assim se conhece a missa que se celebra na noite de natal. A sua denominação provêm de uma fábula que afirma que foi este animal o primeiro a presenciar o nascimento de Jesus, ficando encarregado de anunciá-lo ao mundo. Até ao começo de século XX era costume que á meia-noite fosse anunciado dentro do templo por um cante de galo, real ou simulado. Esta missa apareceu no século V e a partir da idade média transformou-se em celebração jubilosa longe do carácter solene com que hoje a conhecemos. Até princípios do século XX perdurou o costume de reservar aos pastores congregados ali o privilégio de serem os primeiros a adorar o menino Jesus. Durante a adoração, as mulheres depositavam doces caseiros, que logo trocavam por pão bento, ou seja pão de natal. Era também costume reservar um bocado deste pão como amuleto ao qual só se podia recorrer em caso de doença grave. Outra tradição que perdurou é a de estriar nessa noite uma peça de roupa com a qual se afastava o demónio. Em algumas regiões esta missa celebra-se durante as primeiras horas do dia.
Na maioria dos países é tradição que toda a família acuda a ela unida sendo o momento mais importante das festas natalícias.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Trajes do Ribatejo – Santarém

As danças e cantares ribatejanas da região do Bairro são particularmente enriquecidas de pormenores artísticos, repousadas, elegantes e harmoniosas. Os seus trajes são sóbrios como, aliás, é o próprio panorama da zona onde vivem.

Os trajes das mulheres são de cores variadas, mas com predominância para os tons discretos. As saias podem ser azuis, pretas, verdes e castanhas. Já as blusas são mais claras e os aventais (quando envergados) de cores mais vivas e lenços de cabeça pouco garridos.
Quanto ao traje do homem o mais importante é o de "Cerimónia" ou "Domingueiro", totalmente preto e constituído por calças de cós alto e polaina, com bolsos direitos, colete preto, camisa branca de peitilho e sapatos de salto de prateleira.

Durante a semana, eram usadas roupas de cortes mais simples e tecidos mais baratos.
Os homens envergavam roupas de cotim e camisa de riscado e as mulheres, saias, blusas e aventais de riscado, chita ou algodões fracos. Assim se ataviavam para as lides do campo, mas também como as roupas de caminho, aquando se deslocavam para o campo ou à vila de Santarém em alturas não festivas, como por exemplo, para arranjar trabalho ou à segunda-feira da parte da manhã, no mercado.

Em dias festivos, as mulheres envergam saias franzidas de barriga lisa que podem ser azuis, pretas, verdes e castanhas. Já as blusas de aba e de quartinhos são mais claras, aventais de cores mais vivas, enfeitados com rendas e lenços de cabeça pouco garridos. Diziam as raparigas do 1º quartel de 1900, "que eram as antigas que usavam as blusas por cima do avental", aparecendo assim a moda dos aventais espartilhados colocados por cima da blusa. Em alturas de mais gabarito, era retirado o avental. Por influência citadina vão sendo introduzidos novos tecidos e novas peças, como os armures e os trajos de casaca, assim, como os “Vestidos”, trajo de saia e casaca do mesmo tecido, normalmente em lã e envergado no início de 1900 nos nossos lugares pelas raparigas mais abastadas.
Os homens envergavam fato preto de jaqueta de alamares e calça de cós alto e polaina, com bolsos direitos, colete preto, camisa branca de peitilho e sapatos de prateleira. Normalmente usava-se barrete preto, o chapéu, era envergado por pessoas mais abastadas ou em alturas de maior cerimónia. Com o tempo os alamares da jaqueta caíram em desuso, sendo substituídos por botões de massa.

Em dia de casamento, o noivo vestia traje de cerimónia. Para assinalar de modo único esse dia, mostrava com vaidade, no peito, o lenço de compromisso bordado pela sua noiva. Em tudo o mais, o fato não detinha nenhuma particularidade excepto na flor que colocava ao peito. A noiva usava vestido de lã.
As cores mais vulgares para quem podia dar-se ao luxo de comprar um fato para o dia do seu casamento eram azul sulfato, o verde azeitona, a cor da flor do alecrim (…). Para a cerimónia, a rapariga cobria a cabeça com um lenço de seda fino ou com uma mantilha de renda. O seu peito era adornado com um cordão de ouro (o dote), flor de laranjeira e na mão um ramo de flores da época. É este o traje de cerimónia por excelência


Outros assuntos relacionados neste blog: O Campino

sexta-feira, novembro 17, 2006

O Pescador do Bacalhau


A pesca do bacalhau sempre atraiu os homens das regiões costeiras, as migrações com destino aos mais importantes centros bacalhoeiros do país, como Lisboa, Ílhavo e Figueira da Foz eram maciças. Provinham de todas as regiões do país, do Minho ao Algarve.
As campanhas desenrolavam-se de Março a Outubro nas águas geladas do Canadá, os homens enfrentavam condições de extrema dureza. Os densos nevoeiros e as violentas tempestades povoavam os dias.
Os agasalhos que levavam de casa incluíam ceroulas, calcetas, camisolas de flanela, meias, luvas e carapuças de lã. Quando saiam para o mar para a pesca nos dory, vestiam os seus oleados, ou seja, calças largas, casacos e aventais, fabricados em pano cru embebido em óleo de linhaça.
Quando escalavam o bacalhau os pescadores usavam umas botas que cobriam os pés e as pernas até aos joelhos.
Na cabeça usavam o sueste, um chapéu de tecido grosseiro, normalmente pano-cru, impermeabilizado com azeite ou óleo de linhaça. Tem aba de forma irregular descendo a parte mais alongada sobre a nuca.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Traje de Mordoma e Noiva do Minho


No Minho, mordomas são as raparigas encarregadas de recolher fundos para a realização da romaria ao santo padroeiro da sua freguesia. Os trajes das mordomas, geralmente pretos ou azuis-escuros, serviria mais tarde como indumentária da noiva e ainda para com eles serem enterradas. Compunha-se de casaquinha cintada de aba curta muito enfeitada, com pinças na frente e nas costas, adelgaçando a figura. O cumprimento da manga termina acima do punho. A saia apresenta um cós plissado fixo que tem como função acentuar e ajustar a linha da cintura. A roda sai livre e abundante do cós, atingindo um perímetro três vezes superior à medida da cinta. A larga barra de veludo bordado de missangas com um desenho naturalista. O avental de veludo, também franzido, é bordado com missangas, representando no centro a coroa e armas reais ou o escudo português, completando o adorno com «silvas», possui um folho pregueado de seda preta e galão de seda da mesma cor, com aplicação de missangas. Calçavam meias rendadas brancas e chinelas de tela pretas lisas ou bordadas a branco. Na cabeça, um lenço de seda fina de cor viva (como na Meadela) ou de um véu de tule branco (em Santa Marta de Portuzelo). Na mão transportavam vela votiva, enfeitada, que acendiam na procissão, ou palmito feito com folhas de palma. Quando o calor apertava a mordoma substituía a casaca por um colete de trespasse e dizia-se então que "ía em mangas", usando neste caso, camisa de linho muito trabalhada nos ombros e algibeira largamente decorada. Se a família tinha largas posses, a mordoma fazia o seu fato azul para demonstrar que não aproveitava para o casamento.
Esta mulher de saber e de haveres completa a sua imagem com múltiplos adornos de ouro, ostentando com orgulho a sua capacidade económica.
Para casar, a mulher ia sempre de preto, utilizando o seu traje de mordoma ou outro quando possuía posses para tal. Ao traje de mordoma acrescentava um lenço de fina cambraia, cruzado à frente, ou um véu de renda ou de tule bordado a branco, de pontas caídas. Na mão para segurar o ramo usa um lenço de "amor" bordado com motivos florais, vegetalistas e quadras ou frases amorosas, a ponto cruz, ponto cheio, cordão, pé-de-flor, etc.
Assunto relacionado neste blog:

Pauliteiros de Miranda


Estamos perante um traje muito peculiar, pois não existe indumentária semelhante em todo o território nacional. Usa camisa de tafetá de algodão branco, decote redondo com cós e gola em bico, aperta com botões de madrepérola. A manga é comprida com punho com casa para botões. Saia rodada de algodão branco, com folhos e rendas. Usa ainda um saiote interior vermelho. O conjunto compõe-se ainda de quatro lenços de seda lavrados de tons policromados protegendo o ventre, os rins e os flancos como se fossem os substitutos de uma túnica fendida.
O colete negro de decote em bico, com cós alto e bandas, aperta com botões de massa preta, bolsos metidos com cós e extremidade decorada com fitas. As costas de tecido de lã, recortado, com encaixe de tecido de algodão, decorados de fitas de seda de diversas cores, formando laços de pontas caídas. Na cabeça traz um chapéu de feltro preto adornado com fitas de seda, flores e penas.
As meias são de tricotadas em lã e os sapatos ou botas, são em carneira de cor natural. Pelas costas trajam um lenço “minhoto” policromado com franjas.
Esta indumentária é sempre acompanhada por dois paus (palotes) que servem no jogo e na dança de carácter guerreira.
Assunto relacionado neste blog:

quinta-feira, novembro 02, 2006

As Salineiras do Algarve


O Algarve possui condições naturais óptimas para a produção de sal. Esta actividade tem raízes longínquas e ainda hoje possui grande importância para a economia da região.
Actualmente a produção de sal é quase totalmente mecanizada, no entanto, não podemos esquecer aqueles que trabalhavam arduamente nas salinas.
As salineiras que nos meses de Verão transportavam à cabeça o sal que os homens juntavam nos corredores das salinas.
O carrego do sal à cabeça, em grandes alcofas de esparto, era feito quase sempre em condições penosas de trabalho intensivo.
O sol intenso do Verão, o sal que corroe a pele e ainda os níveis intensos de claridade que caracterizam as salinas, contribuíram para a indumentária característica da salineira.
Do sal que queimava a pele as mulheres defendiam-se usando um lenço em forma rebuço que lhes libertava apenas o olhar, por vezes utilizavam um velho chapéu para aumentar a protecção da cabeça. Embora andassem descalças, protegiam as pernas com perneiras de lã ou tecido espesso. As saias eram forçosamente atadas acima do joelho por um cordel para facilitar a subida dos íngremes declives das salinas. Nas mãos usavam velhas peúgas de lã que faziam as vezes das luvas que não tinham.
Assunto relacionado neste blog: O biuco do algarve

quinta-feira, outubro 26, 2006

Traje do Pescador da Nazaré

O pescador da Nazaré é um homem do mar, cinzelado pelo sal do mar e pelo sol escaldante. Em terra, quer sossego, permitindo que a mulher domine e organize, liderando a gestão da casa, da família e das economias.
No traje de trabalho, a camisa cai a direito. Confeccionada em escocês forte, de lã, tem à frente três pestanas verticais, em corte enviesado, terminando em bico. Uma central, partindo do colarinho, guarnecida com quatro carreiras enviesadas de três botões de madrepérola lisos e sem pé (apenas decorativos porque fecha com molas), remata a abertura da camisa. As outras duas, laterais, partem da costura do ombro, terminado em bico ao mesmo nível da pestana central. As três pestanas têm dois pespontos, afastados ½ cm. Entre as pestanas ficam duas pequenas pregas. Nas costas, a partir da lapela são pespontadas três pregas de cada lado. O colarinho é alto de pontas arredondadas, abotoado com dois botões no sentido da altura. Também é pespontado como as pestanas. As mangas são folgadas. Pregadas à camisa na abertura deixada ao alto pela costura lateral (não tem cava recortada), necessitam de um quadrado incrustado para fornecer amplitude. No extremo da manga o punho é igualmente pespontado e fecha com botões. A camisa do domingo era normalmente em escocês de lã fina.
Interiormente usam uma camiseta de castorina de cor creme, cinzenta, verde ou castanha de riscas, ou de flanela de cor lisa e viva.
As ceroulas são de escocês de lã cortadas a fio direito, com altura da cintura ao chão. Na cintura, a amplidão é adaptada ao cós por pregas armadas. Á frente fecha com carcela ou braguilha de três botões, e nos fundilhos é aplicado um reforço pelo lado de dentro. As extremidades das pernas possuem uma fita de lã de pontas compridas, que envolvem o tornozelo e ajeitam o tecido, formando um fofo.
As calças são de surrobeco ou de qualquer fazenda castanha ou preta, de feitio vulgar, direitas, de modo a terem bastante largura na extremidade da perna para facilmente serem arregaçadas. Só dois pormenores as distinguem. As algibeiras enviesadas e na extremidade da perna dois remendos mais ou menos rectangulares e de tamanhos diferentes, sendo o menor aplicado atrás e o maior à frente. Estes remendos começaram por ser utilizados por necessidade de conserto, passando a constituir moda. Usam voltar a bainha da calça de modo a ver-se o fofo da perna da ceroula.
O barrete de lã preta, usado na cabeça ou no ombro, é o complemento indicativo do tempo que ocorre, soalheiro ou chuvoso, em terra ou no mar, remendando as redes ou lançando-as ao mar. Usa uma cinta de lã preta com franja de cadilhos.
Os nazarenos andam vulgarmente descalços, quando calçados usam tamancos de pele preta com sola de madeira ou chinela de trança. No tempo frio usam umas polainas de malha de lã branca, que atam ou não com fita por baixo do joelho.
O principal abafo é Gabão de burel castanho. Farto, amplo e solto é comprido até aos tornozelos, com mangas largas, romeira (espécie de gola larga cobrindo os ombros) e capuz em bico. As mangas e o capuz têm uma virola em burel preto. É forrado a escocesas. Também era utilizado como trajo de luto.

Obra de referência – Abílio Leal de Mattos e Silva in “O Trajo da Nazaré”, Editorial Astória, Lisboa (1970)
Assunto relacionado neste blog: O Traje da Mulher da Nazaré

quarta-feira, outubro 18, 2006

Traje do Sargaceiro da Apúlia


A longa permanência dentro de água fria provoca, necessariamente, o arrefecimento do corpo. Pensa-se que tenha sido esta a razão que levou o sargaceiro a adoptar a fazenda de pura lã, na sua côr natural, para a confecção da indumentária que usa na faina do mar.
Branqueta é o nome que designa o casaco de abas largas, tipo saio romano, até meio da coxa, cingido ao corpo até à cintura e alargando para baixo, em forma de saiote, de modo a deixar inteiramente livres os movimentos das pernas. É abotoado de alto a baixo por pequenos botões do mesmo tecido, grosseiramente feitos em "boneca" e remata, no pescoço, com gola baixa. As mangas são compridas e justas ao braço. A gola, os punhos e as frentes são debruados com pesponto grosso e largo, geralmente duplo ou triplo, formando barra. Sobre o peito, à esquerda, alguns sargaceiros fazem bordar, sempre com a mesma linha grossa e forte do pesponto, a sua inicial, ou qualquer outra sigla que o identifica. À cintura o sargaceiro usa largo cinto preto, de cabedal.
A branqueta é toda confeccionada à mão, com linha resistente, para suportar o embate das ondas.
Na cabeça o sargaceiro usa o SUESTE , espécie de capacete romano, com copa de quatro gomos reforçados e duas palas: uma, curta, na frente, e outra, mais larga e comprida, atrás. Deste modo é-lhe possível "furar" as ondas alterosas sem que a água lhe molhe a cabeça e o pescoço, e lhe penetre nas costas. Feito do mesmo tecido da branqueta, passa por diversas fases de impermeabilização e é, por fim, pintado com tinta branca. No cimo da copa leva, pintada a vermelho, uma cruz, e dos lados o nome de Apúlia e qualquer outra referência ao gosto do proprietário, habitualmente uma data.
A textura da branqueta que, como já foi dito, é de pura lã, permite ao sargaceiro permanecer várias horas molhado mas conservando a temperatura normal do corpo, enquanto se mantém em actividade.
A mulher sargaceira assume um papel secundário durante a mareada, já que o trabalho árduo e perigoso de enfrentar as ondas é da exclusiva responsabilidade do homem. Por isso a sua indumentária é mais delicada e, normalmente, apenas entra no mar com água até ao joelho, para ajudar o homem a arrastar para terra o galhapão cheio de sargaço arrebatado ao mar. Assim, ela veste saia rodada, do mesmo tecido da branqueta, bem cingida à anca por larga faixa preta, sarjada, e blusa branca, de linho. Um colete adamascado preto, sem mangas, e bordado a linha de seda em cores garridas, envolve-lhe o tronco e protege-lhe o peito. Na cabeça usa lenço de merino.
Quando sai de casa põe, nas costas, um xaile de merino à moda do Minho e, na cabeça, um pequeno chapéu preto, de feltro, de copa baixa, redonda e de abas estreitas, que leva, na frente, uma pequena moldura de prata, habitualmente com um espelho. Mas, sempre que a sargaceira está "comprometida" ou casada, retira o espelho da moldura e, no seu lugar, coloca a fotografia do seu amado; se mantém o espelho no chapéu é sinal de que é livre e "descomprometida".
A evolução dos tempos modernos, o aparecimento das máquinas agrícolas, a agitação da vida actual, fizeram com que a branqueta do sargaceiro e a indumentária da sargaceira fossem substituídas, nas "mareadas" da apanha do sargaço, por prosaicos e inestéticos casacos de oleado, para desencanto de tantos visitantes que demandam Apúlia para admirarem os sargaceiros.
Descrição efectuada com base no site do Grupo dos Sargaceiros da Casa do Povo de Apúlia

segunda-feira, outubro 16, 2006

Traje Português de Equitação - Feminino


Até ao século XIX, a mulher não tinha a possibilidade de dominar a sua montada. Desde a Idade Média e até ao século XVIII, salvo raras excepções, quando uma mulher se deslocava a cavalo, fazia-o sentada de lado numa sela em forma de cadeira, e acompanhadas por um serviçal que conduzia a montada.
No sec.XIX a mulher ganha alguma autonomia na condução da sua montada.
A amazona passa a montar com as pernas unidas sobre o lado esquerdo do cavalo, o que lhes permitia um melhor controlo da montada, no entanto, a posição era propicia a acidentes. Totalmente inaceitável, para os cânones da época, era uma senhora montar escarranchada, apenas próprio para homens.
Apenas a partir dos anos 30 do séc. XX começaram a surgir as primeiras amazonas escarranchadas.
No que respeita ao traje de equitação feminino, não podemos dizer que exista um modelo específico. No entanto, podemos caracterizar alguns traços gerais.
Nesta matéria, existem muito poucas fontes, pelo que foi necessário recorrer à obra dos mais conceituados investigadores portugueses, Lina e João Gorjão Clara, O Traje Português de Equitação, servindo de base ao traje de seguida descrito.
Os próprios autores reconhecem a escassez de informação nesta matéria.
Vejamos então como traja a amazona à antiga portuguesa.
Comecemos pelo chapéu. Normalmente preto ou cinzento, podendo ter um tom ou cor diferente de
acordo com o fato.


Quanto ao modelo, existiriam vários. A obra mencionada descreve um modelo de chapéu ainda hoje muito adoptado. Este possui aba larga revirada e mais curta do que o chapéu de homem, copa redonda e levemente convexa, adornado com dois pompons de seda. Actualmente, muitas amazonas preferem adoptar o modelo masculino, que pode ser aceite, mas não é o mais adequado.
Quanto à jaqueta, existiam vários modelos e cores. Eram confeccionadas nos mais diversos e nobres tecidos.
A jaqueta descrita na referida obra, apresenta gola de virados e dois bolsos «metidos», com abertura vertical e forrados de cetim. A jaqueta não apresenta botões e é toda contornada a galão preto, desenhando enfeites nos bolsos e nas costas. As mangas, também sem botões nos punhos, têm os ombros bem vincados, com a cabeça da manga bastante larga, quase em balão. Vai estreitando tornando-se justa no antebraço e terminando sem punho. O forro da jaqueta é em seda no tom do tecido. Por debaixo da jaqueta usa-se blusa branca, de colarinho pequeno, adornada com renda de algodão. O colarinho pode ser enfeitado com uma pregadeira ou com um laço de cetim. A manga pode ter os punhos adornados com renda. O uso do corpete é opcional, mas a faixa de cetim ou merino é obrigatória.
Quanto à saia, esta difere da forma como a amazona monta.
Para montar à amazona, de lado, a saia tem um desenho complexo. O seu modelo é elaborado para armar em semicírculo sobre o cavalo e conferir à amazona conforto e compostura. Esta é bastante mais comprida à frente que atrás. Apresenta dois cortes à altura dos joelhos, para que, na sela, a saia se ajuste aos membros e tape quase por completo a bota esquerda que se apoia no estribo. Os pontos de apoio dos joelhos são reforçados no avesso por um forro de seda. No forro do joelho direito existe uma liga elástica, que fixa a saia à coxa da amazona, a fim de evitar que esta se desloque com o vento ou o andamento do cavalo. Uma vez que a saia é bastante comprida à frente, quando apeada, a amazona tem de a segurar pelo corte do joelho direito ou prende-la por asselha caseada em linha no mesmo sítio, a um botão, ou peça de ourivesaria, colocado à altura do terço superior da coxa direita.
Por baixo da saia, a amazona usava uns calções de alçapão, de gancho bastante alto e pernas largas que terminam num punho, apertado por três botão. Ajusta-se à anca por duas aberturas laterais fechadas por quatro botões. Calçava botinas de cano curto fechado por botões de pé.
O traje que actualmente é mais utilizado permite à amazona montar escarranchada. A saia é comprida até ao tornozelo. É justa nas ancas, aperta de lado com botões e é fendida à frente e atrás, de modo a abrir sobre a sela. Esta saia é confeccionada de um modo particular, de modo a que as duas metades se perpassem quando a amazona se apeia e a saia feche, evitando a indiscrição das fendas. Para reforçar a costura no ponto onde se inicia a fenda da saia, cose-se de um a três botões, que também servem de enfeite.
Até à década de 50 do sec.XX, as amazonas mantiveram o uso do calção mesmo montando escarranchadas, a pouco e pouco foram-no substituindo pelas calças masculinas e às botinas pela bota de salto de prateleira.
Tal como Lina e João Gorjão Clara, lamentamos a tendência de aproximação ao traje masculino, copiando o modelo da jaqueta, da camisa ou das calças. Sugere-se a reconstituição de modelos de jaqueta e blusas mais antigos, mesmo utilizando a saia de escarranchar.

Aproveitando a informação adicional de L.P.Boléo, a mulher do rei D. José de Portugal, espanhola de nascimento, D. Mariana Vitória, andava a cavalo escarranchada a coberto dos olhares indiscretos na Tapada de Mafra e em Salvaterra. Era uma caçadora e cavaleira exímia.Foi mãe da rainha D. Maria I que também montava muito bem e com elegância a cavalo e teve como mestre entre outros o marquês de Marialva.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Trajes da Ilha da Madeira

A origem e a evolução do traje da Madeira é alvo de muitas especulações. Pensa-se que teve influências várias, quer nacionais, quer estrangeiras, nomeadamente minhotas, mouriscas, africanas e da Flandres. Existem diferentes trajes, sendo a distinção evidenciada pela região de origem, já que os microclimas existentes na ilha determinavam o tipo de vestuário.
No Funchal, em Machico e Santa Cruz, existia um tipo definido de vestuário feminino onde predomina a cor vermelha. A saia era de lã, de cor única ou listada, colete ou corpete vermelhos e uma carapuça azul completava esta indumentária. Na Ponta do Sol as mulheres usavam capas, sendo de cor vermelha para as casadas e solteiras e azuis para as viúvas.
Nas regiões altas, como na Ribeira Brava a forma de vestir era bem diferente. As raparigas usam saia preta com listas vermelhas ou pretas e amarelas, blusa branca, tipo polaca guarnecida de rendas e lenço vermelho. Uma saia igual é colocada aos ombros, servindo de capa. Usam também saia de lã de ovelha tingida de vermelho com listas horizontais ou de lã preta, igualmente com listas horizontais, típicas da freguesia da Serra d'Água. Vestiam saia e capa de bicos de baeta azul, características das zonas mais baixas, quando vinham à missa ao domingo. Por vezes utilizavam a saia ao contrário quando estavam em casa, voltando-a para o lado direito quando saíam. Também a maneira de vestir era distinta em relação ao seu estado civil. A mulher casada usava saia e capa de cor negra, listada a vermelho e complementada com um avental multicolor.
Ao longo dos anos o traje masculino não sofreu muitas alterações. Usavam calção branco com franzido sobre o joelho (com elástico ou com cós); a camisa de pregas, sendo o seu número muito variável, e podiam ser bordadas ou não. Nos últimos tempos era usada uma faixa do mesmo linho do calção, com as pontas franjadas e chegando à curva da perna. No entanto, este adorno era usado apenas pelos servidores de casas ricas.
Os homens das zonas serranas usavam o jaleco e calças de seriguilha castanha para o trabalho. Para a missa as calças, o colete ou o casaco eram de seriguilha preta. A camisa era de estopa para o trabalho e de linho fino para a missa. Na cabeça usavam barrete de lã de ovelha, branca ou castanha.
Tanto os homens como mulheres usavam botas, chamadas botachas ou bota-chã e eram feitas de pele de vaca curtida. A parte superior da bota era virada para fora e descia até ao tornozelo, sendo enfeitada com uma fita vermelha.

terça-feira, setembro 19, 2006

Traje Português de Equitação – Masculino


Montar a cavalo sempre influenciou o traje do homem. A necessidade da adaptação a uma determinada função levou o traje de equitação a adquirir de características específicas.

O traje masculino de equitação português é o resultado de uma evolução natural da forma de vestir, sofrendo influências externas, muito à semelhança dos nossos dias. No entanto, essa evolução foi lenta, já que não haviam os modernos meios de informação e as novidades levavam tempo a chegar às populações, mesmo as mais cosmopolitas ou abastadas.

Muito embora existam noutras regiões trajes semelhantes, é no Ribatejo que encontramos a origem do que hoje denominamos Traje Português de Equitação. A forte tradição equestre desta região permite dizer que o traje de equitação português deriva directamente do traje de lavrador ribatejano.

A principal característica deste traje é a jaqueta. Trata-se de um casaco curto aflorando a linha da cintura e terminando um pouco abaixo desta. É frequentemente mais curta nas costas que à frente. Na cintura o corte das costas é a direito, distinguindo-se da jaqueta espanhola por este pormenor, já que nesta o corte é arqueado. A jaqueta da imagem apresenta uma gola de dois bicos, que a par com a de romeira são os modelos mais apreciados. Mas existem outros modelos, de rebuço, de tira, de jaquetão ou mesmo sem gola. É normalmente adornada com botões ou alamares. Os alamares podem ser de prata ou de seda e os botões são normalmente de material sintético, mas também podem ser de vidro, osso, chifre, madeira, metal, prata ou forrados de tecido. A jaqueta possui ainda dois bolsos na vertical e as mangas são adornadas com botões na diagonal.
Para proteger dos rigores do Inverno usava-se o capote, a samarra ou uma jaqueta de abafo. Esta difere da anterior por ser confeccionada em tecido grosso e quente e a gola frequentemente forrada de veludo ou enriquecido com pele de borrego ou raposa.

A calça, de cós alto e cintado ajustando nas costas com atilho, é justa até ao joelho, seguindo com a mesma largura até aos pés de modo a permitir o uso de botas de prateleira.

O colete de decote em V prenunciado, de forma a mostrar a camisa, tem cavas largas e quatro bolsos formando um acentuado bico na frente, o qual ultrapassa a linha da jaqueta. O colete pode também possuir uma gola ou banda e ser abotoado com uma ou duas linhas de botões.

À cintura usa uma cinta de merino negra, ceda ou cetim, com a franja a pender para o lado esquerdo, que aperta até ao diafragma, procurando ajudar a uma postura correcta e elegante no galope. Devem ser evitadas a faixas de cetim apertadas com colchetes, pois perdem a sua função principal, a de protecção da região lombar do cavaleiro. Absolutamente interdito é o uso do lenço colorido usual no traje andaluz.

A camisa é branca e comprida, de tecido fino.
A carcela é enfeitada com folhos do mesmo tecido ou de renda. O peito pode ser adornado por nervuras ou pregas. Muitas vezes os adornos preenchem uma parte do peito, o peitilho, a única zona visível entre as bandas do colete. O colarinho é pequeno, não ultrapassando a altura do cós da gola e podem terminar em redondo ou em bico, sendo fixado por molas ao cós. Fecha-se o colarinho com botões simples ou abotoaduras duplas de madrepérola, ouro ou prata. As mangas são largas e folgadas, terminando em punho simples ou duplo e são fechadas com abotoaduras.

Esta indumentária é acompanhada por um chapéu de aba larga, à portuguesa, muitas vezes confundido com o chapéu espanhol (à Mazzantini). No entanto, o chapéu português possui a aba larga com virola e copa redonda convexa. A fita que cerca a copa fecha em laço, sem botões. Pode ser preto, cinzento ou castanho.

Uma variante no traje de equitação é o uso de calções. A utilização dos calções como peça de vestuário permaneceu em Portugal até meados do Sec.XIX, enquanto que no resto da Europa foi desaparecendo após a Revolução Francesa. Muitas vezes eram complementados com plainitos.
Como traje de equitação os calções continuaram em uso, sendo parte integrante do trajo do campino, em baeta azul adornado com botões metálicos, reminiscência do uso de alçapão, meia alta e sapato. Nos restantes cavaleiros é vestido com meia branca até ao joelho, sobressaindo acima da bota de cano alto modelo napoleónico. Frequentemente, são da mesma cor da jaqueta ou mesmo mais claros.
Quanto à cor, o traje português de equitação deve ser sóbrio, preto, cinzento ou castanho. Como traje de equitação, completa-se com o uso de luvas de pele.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Capa de Honra de Miranda do Douro



Capa de Honra, essa peça de corte erudito, a mais nobre peça do Traje popular cuja confecção se chegaram a gastar 60 dias. Seria ela usada quase exclusivamente por pessoas com um nível de vida económico e favorável. Teremos de concordar que uma Capa de Honra é não só uma das peças mais nobres do Traje português como também uma das mais ricas e dispendiosas.
A amplitude da capa de honras indica uma razoável capacidade económica do seu utilizador para a poder mandar fazer ou adquirir, uma vez que esta peça necessita de 10 metros de burel (tecido de lã pisoado).

Estamos perante um dos trajes regionais mais ricos.

Do decote nasce a capa, a sobrecapa e o capuz.
A capa é comprida e ampla, cortada em viés, aberta na frente. A sobrecapa desce até à zona do cotovelo sendo toda bordada e pespontada. Termina em franjas largas. O capuz, com capeto, inteiramente bordado, termina numa larga faixa, denominada Honra, cujo tamanho é representativo da riqueza e importância do utilizador. Esta também é bordada e pespontada, rematada com uma franja.
A Capa de Honra era também usada pelos boieiros, que a utilizavam não só como protecção do frio e da chuva, mas também para se deitarem sobre ela enquanto andavam nas suas fainas, qualquer pessoa possuía a matéria prima para a confeccionar - o Burel - e o labor do alfaiate era muitas vezes, compensado em géneros ou jornas. Estas capas eram menos trabalhadas, menos bonitas, menos perfeitas, menos cuidadas, pois passou a ser uma peça de uso quotidiano - passando a Capa de Honra a ser simultaneamente traje de trabalho e de festa, conferindo-lhe um duplo sentido de dever e da honra.

segunda-feira, setembro 11, 2006

A Coroça – Beiras e Trás-os-Montes



A coroça é constituída por uma capa e uma sobrecapa executadas em palha, utilizando técnicas de cestaria. Não tinha como função agasalhar, mas deixar escorrer a chuva e a neve, impedindo que a humidade passasse para a roupa do seu utilizador, normalmente, pastores, que passavam longos períodos nas serras a apascentar o gado das aldeias.
A sua utilidade prática levava a que tanto fosse utilizado por homens como por mulheres.
Este traje perdurou até aos nossos dias, já que a sua confecção é rápida, fácil e barata.
A sua origem remonta ao neolítico, em que o homem utilizava a fibras vegetais para se vestir e para isolar, por camadas, os telhados das suas cabanas. A sua eficácia fez com que resistisse à influência de culturas e civilizações.
A caroça é composta por cabeção e «saia» de junco, dispostos paralelamente no sentido longitudinal, ligando entre si por um fio entrelaçado.
Por vezes, o homem utilizava polainicos, enrolados nas pernas, feitos do mesmo material e interligados com as restantes peças.
Compõem este traje, chapéu de feltro preto e tamancos de couro de cor natural com sola e alto de madeira.
Existem ainda alguns modelos em que a caroça tem a forma de uma capa com capuz, apoiando-se directamente sobre a cabeça do seu utilizador.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Côca, Biuco e Capelo

A Côca, o Biuco e o Capelo são três trajes de diferentes regiões, Alto Alentejo, Algarve e Ilha Terceira (Açores), no entanto, apesar da distância geográfica existem muitas semelhanças entre eles e uma história comum.

Sabemos hoje que os etruscos e os gregos vestiam o himation, ou seja, o manto, com o qual cobriam a cabeça. Possivelmente imitavam um costuma mais antigo. O Cristianismo adoptou para a imagem da Virgem o uso do manto à moda etrusca, isto é, sobre a cabeça. São Paulo introduz o costume das mulheres cobrirem a cabeça para que se distingam das mulheres descobertas ou meretrizes. Entrar na igreja com a cabeça coberta era sinal de respeito, submissão e humildade perante Deus.
Por toda a Europa surgiram diversas peças de vestuário que cobriam por inteiro o seu utilizador(a), nomeadamente, em França, Alemanha, Dinamarca, Itália, Espanha e Portugal.
Não se sabe quando este tipo de indumentária foi introduzido em Portugal, no entanto, podem-se encontrar registos da sua utilização desde 1609, no reinado de Filipe II, e existem autores que defendem a sua origem árabe.
Sabe-se no entanto, que a sua utilização abrangia a quase totalidade do território nacional, mas apenas no Alto Alentejo, no Algarve e nos Açores, esses trajes eram ainda utilizados até meados do século XX.
A sua utilização destinava-se a impedir o contacto da mulher com os transeuntes que com ela se cursassem na rua, ocultando a sua identidade. Para além de isolar a mulher do mundo exterior, permitia-lha também alguma liberdade, já que não sendo identificável podia movimentar-se livremente oculta dos olhos castradores da moralidade alheia.

O que são a Côca, o Biuco e o Capelo?

Estes três trajes femininos possuem pequenas variações, ou particulares alterações regionais, no entanto, a sua forma elementar baseava-se numa mantilha, com ou sem véu, amplamente distribuída, de norte ao sul do país, e que teve a generalizada denominação de biôco (ou biuco no Sul e rebuço no Norte).

Genericamente compõe-se de uma capa, mais amplas e compridas nos Açores e Algarve que no Alentejo, em cuja cabeça era coberta de forma a impedir que se visse a cara da sua utilizadora. É a forma como a cabeça é coberta que distingue os três trajes.


Côca –Alto Alentejo

As côcas terão sido um traje de noiva na nossa região, na segunda metade do século XIX. A tradição oral também afirma que a dimensão e colocação do véu tinha três posições distintas, consoante a classe a que pertencia a nubente.
Mas, como traje de noiva acabou por cair rapidamente em desuso enquanto tal, passando a ser fundamentalmente moda nas mulheres aristocratas ou da alta burguesia de todas as idades, quando estas saíam à rua para assistir a actos religiosos ou nas visitas, tão habituais nestas classes sociais entre finais do século XIX e princípios do XX.
Usavam uns biôcos, pegados a uma espécie de capa curta e que eram cobertos, no alto, por uma renda larga, que caía pelas costas. Na frente o biôco era armado em papelão, ou tarlatana, para se manter aberto. Em alguns, a renda era colocada, como já disse, caindo do alto da cabeça sobre as costas, outros porém, era posta em sentido contrário, isto é, sobre a cara. Completava o trajo uma saia de merino.
José Leite de Vasconcellos, observa que este seria o «trajo clássico de se ir à festa do Sacramento, que durava de quinta-feira do Corpo de Deus até à segunda-feira seguinte». O célebre investigador apresenta uma testemunha ocular que, entre os anos de 1862 e 1866, terá visto as mulheres assim embiocadas, e explica que este processo só era possível mediante a utilização de «um papelão curvo que encobria a cabeça, como as mantilhas de Mondim, coberto de preto e com pano nas costas».

O biôco (ou biuco) – Algarve

Raul Brandão escreve a propósito do biuco no seu livro "Os Pescadores", em 1922:
" Ainda há pouco tempo todas (as mulheres de Olhão) usavam cloques e bioco. O capote, muito amplo e atirado com elegância sobre a cabeça, tornava-as impenetráveis.
É um trajo misterioso e atraente. Quando saem, de negro envoltas nos biocos, parecem fantasmas. Passam, olham-nos e não as vemos. Mas o lume do olhar, mais vivo no rebuço, tem outro realce... Desaparecem e deixam-nos cismáticos. Ao longe, no lajedo da rua ouve-se ainda o cloque-cloque do calçado - e já o fantasma se esvaiu, deixando-nos uma impressão de mistério e sonho. é uma mulher esplêndida que vai para uma aventura de amor? De quem são aqueles olhos que ferem lume?... Fitou-nos, sumiu-se, e ainda - perdida para sempre a figura -, ainda o som chama por nós baixinho, muito ao longe-cloque..."
Trata-se de uma capa que cobre inteiramente quem a usava. A cabeça era oculta pelo próprio cabeção ou por um rebuço feito por qualquer xaile, lenço ou mantilha. As mulheres embiocadas pareciam “ursos com cabeça de elefante”
Oficialmente a sua extinção ocorreu em 1882 e por ordem de Júlio Lourenço Pinto, então Governador Civil do Algarve, foi proibido nas ruas e templos, embora continuasse a ser usado em Olhão até aos anos 30 do século XX em que foram vistos os últimos biocos.

O Capelo – Açores

À semelhança de outras regiões também a mulher açoriana usava agasalho capotes com capelo, diferindo o seu feitio de ilha para ilha.
Leite de Vasconcelos visitou os Açores no Verão de 1924 e testemunhou o uso de mantos e capotes pelas mulheres da ilha Terceira e do Faial. Com efeito até meados do século XX era frequente encontrar nos meios citadinos mulheres envoltas no seu capote preto e capelo armado.
Convém distinguir o manto do capote, o primeiro é uma saia comprida e rodada de cor preta, o segundo, afigura-se como uma capa muito ampla, mais farta lateralmente que nas costas.
No caso da utilização do manto, o capelo era armado com cartão e atado pela cintura, a mulher segurava-o com as mãos de modo a encobrir o rosto. Com o capote, o capelo era utilizado sobre os ombros. Neste caso, estamos perante um amplo capuz suportado por um arco de osso de baleia, sendo a sua rigidez conferida pelo forro de cânhamo.

Estamos assim perante três trajes, que para além da sua função de abafo, remete o papel da mulher para a total exclusão da sociedade, uma vez que, completamente coberta jamais alguém descobriria a sua identidade.

Dos três trajes apenas o dos Açores é ainda hoje identificado pelo público em geral, já que se tornou num símbolo dessa região e é amplamente divulgado pelos ranchos folclóricos. Quanto aos restantes, correm o risco de caírem no esquecimento e no ostracismo, já que não sendo bonitos ou ricos, não são mostrados pelos grupos das suas regiões de origem.

Bibliografia:
PITA, António, Côca ou Mantilha - Século XIX - Uma Traje de Festa e de Solenidade do Alto Alentejo – Câmara Municipal de Castelo de Vide, Secção de Arqueologia, Maio1999

Braz Teixeira, Madalena, Trajes Míticos da Cultura Regional Portuguesa, 1994, Museu Nacional do Traje.

Ormonde, Helena, in O Traje do Litoral Português, Museu Etnográfico e Arqueológico Dr. Joaquim Manso, Câmara Municipal da Nazaré

quinta-feira, agosto 17, 2006

Lenço "de Amor" ou "dos Namorados"


Lenço é simplesmente um pano rectangular de linho, que se trazia nos bolsos, preso à cintura ou escondido no seio ou punhos, nas mãos (como eram bonitos muitos eram roubados por aqueles que mais tarde seriam seus namorados) e mais tarde nas algibeiras, pois o uso destas não tem mais de 100 anos.
No passado este rectângulo de pano começou a receber os primeiros ornatos, feitos da aplicação de rendas e/ou bordados. Essa decoração tornou-se mais abundante conforme a pessoa e as exigências do destinatário, o gosto, a preparação e o tempo disponível de quem os fazia, a moda e até o momento em que iam ser usados.
Seria inicialmente completado com uma pequena bainha, uma renda, um bordado no início muito simples e depois cada vez mais complexo, e as iniciais dos nomes dos seus possuidores.
Especialmente cuidado tinha de ser, naturalmente, o que ia ser colocado no ombro pelos mordomos que transportavam os andores das “Romarias” ou levado na mão a segurar a vela da mordoma ou o ramo da noiva.
Se o lenço se adequava a servir de prenda a ser oferecida como sinal de afecto, o gesto de o oferecer ganhava especial significado quando se destinava a alguns destes usos, e era completado, realçado e glosado com a simbologia dos ornatos escolhidos: os ramos, as flores, que em todos os tempos e lugares conferem encanto e poesia ao mundo do amor, os trevos, as pombas, que lembram a ternura dos amantes, os cães, que representam a fidelidade, os corações, as chaves que os podem abrir ou guardar, as custódias ou os relicários (em que o amor se compara a um valor sagrado), os nomes de ofertantes ou destinatários.
Quando uma jovem era nomeada mordoma, o namorado mandava fazer um lenço com lindos bordados, incluindo juras de amor e de fidelidade, para lhe oferecer no dia da festa. A mordoma usaria essa delicada prenda para segurar a vela enfeitada com que se desfilava na procissão. O mesmo lenço viria a ser usado no dia do casamento para segurar o ramo de noiva, e mais tarde para cobrir o rosto apôs sua morte.

Trajes do Minho

Fala-se muito, por aí, em «traje à moda do Minho», «traje minhota», ou «traje à moda de Viana», «traje à Vianense», «traje à Vianesa» - usadas todas estas expressões como sinónimas particularmente relacionadas com Viana-do-Castelo. Ora, na província do Minho não há, para mulheres, como para ninguém, um só vestuário regional típico e nem sequer o há em Viana-do-Castelo. Dizendo-se "Viana-do-Castelo" há de perceber-se o concelho, e não a cidade, pois, quanto à indumentária, pode-se dizer que nada hoje subsiste nela de local, mas sim pelas Freguesias que lhe ficam ao redor.
«Traje à moda do Minho» ou «à Vianesa» (são estas as formas de dizer mais usadas no país, mas, por terras minhotas, usa-se especialmente a denominação de "Traje à Lavradeira") é um vestuário feminino, de festa, de «grande gala», apenas usado em dias assinalados e por moças de algumas aldeias do concelho de Viana-do-Castelo.
Em Viana-do-Castelo, quando se fala em de "Traje à Lavradeira", sem especificação alguma, entende-se em geral o «vermelho» das lavradeiras de Santa Marta de Portuzelo (na qual há também um belo «traje azul»), não só por ser aquele o vestuário o que mais agrada ao comum dos habitantes, pelo seu colorido quente e variado, mas ainda por ser o que a
indústria caseira e o comércio local mais espalham na região
O traje vermelho ou azul são indistintamente usados pelas raparigas, mas quando casam quase sempre dizem adeus ao vermelho e passam a usar só o azul, quando se querem vestir de lavradeira.
Antigamente quando era divulgado o noivado, e nunca antes para se livrar de humilhação ou falatório se o casamento se desfizesse, a noiva dirigia-se à cidade “botar o ouro”, acompanhada pelos seus futuros sogros. Eram eles que ofereciam aquela que iria ser nora uma designada quantidade de ouro, correspondente às suas possibilidades económicas.
No primeiro domingo após este ritual, a noiva ia à Missa, exibindo o ouro oferecido, e vestindo o traje de lavradeira. Facilmente se detectava uma noiva pelos seus adornos e trajar.
No que respeita aos lenços, deve notar-se que não há em cada aldeia, uniformidade absoluta nas suas cores. O lenço da cabeça poucas excepções costuma apresentar é vermelho, mas, o lenço do peito em Santa Marta costuma ser diferente, é amarelo.

Traje de lavradeira
Sobre a alva camisa bordada de azul, nos punhos, nas frentes e nos ombros, a mulher minhota enverga um colete que exerce a função de espartilho. Os cortes vincam as formas do corpo, a altura do colete e a amplitude das cavas atribuem-lhe grande comodidade, pois permite um melhor movimento dos braços. Por outro lado, a orla do colete segue a linha do diafragma, favorecendo a respiração. O colete é profusamente decorado por bordados policromáticos de gosto barroco. A saia, rodada e de grande amplitude, é marcada por uma larga barra bordada com os mesmos motivos silvestres e românticos do colete. O avental franzido é decorado com “puxados” que recriam um magnífico jardim em relevo. A algibeira reforça a beleza da mulher com a sua forma de coração, tendo como utilização prática o transporte de dinheiro e do lenço.
A mulher minhota calça meias de renda brancas e chinelas de pele bordadas com motivos florais vegetais e geométricos. Na cabeça usa um lenço de fundo vermelho com barra estampada com motivos florais, vegetais e cornucópias

Traje domingueiro masculino (finais do século XIX)
Composto por calça, camisa e jaqueta. A camisa branca é decorada com bordados tradicionais minhotos, com motivos amorosos. A cor vermelha da faixa e dos bordados confere ao conjunto um certa alegria, uma vez que todo o traje é negro. O preto é sinónimo de austeridade, pelo que os trajes de “ver a Deus”, utilizados para ir à missa, são dessa cor. O preto confere ainda severidade e sofrimento, já que simboliza o luto profundo e prolongado.

APONTAMENTOS SOBRE DO TRAJE DE LAVRADEIRA

O Avental – O pintor José de Brito Sobrinho recolhendo-se, doente e desiludido à sua casa natal de Santa Marta de Portuzelo, ali casou com uma habilíssima tecedeira e para aumentar os rendimentos ao casal resolveu criar novos aventais. Pôs de parte os motivos geométricos (antigamente os aventais não apresentavam quaisquer bordados eram muito simples, com o tempo estes apresentam mais riqueza, surge as figuras geométricas como os losangos, triângulos e quadrados) e desenhou flores e folhas a preto, vermelho, verde e amarelo. Não admira que a novidade agradasse, pois os primeiros aventais eram lindíssimos. Após a sua morte, ocorrida em Fevereiro de 1919, outras tecedeiras continuaram o seu trabalho, deram-lhe novas cores, mas conservaram mais ou menos os desenhos por ele idealizados.
Os Lenços – Em 1880 os lenços nacionais foram abandonados por unanimidade, visto serem incomparavelmente menos vistosos que os lenços austríacos, com 4 variantes: vermelho, roxo, verde e amarelo, todos estes com o mesmo tipo de desenho.
O Colete – Naturalmente, o bordado manual dos coletes mais antigos eram simples, cortados em baeta azul, com cinta de veludo preto, apenas debruado a fitilho por meio de cordões, gradualmente vão sendo cada vez mais bordados, a missangas brancas e fios de seda (folhas e flores em especial cravos).
A Algibeira – Num trabalho minucioso, de autêntica paciência as algibeiras passaram abruptamente da forma rectangular para a cordiforme, acompanhando o labor dos coletes.
A Saia – Por volta de 1900, a barra das saias apareceu com a parte superior levemente bordada a branco - uma silva, como lhe chamavam, minuciosa e perfeita, - que, pouco a pouco, se foi alargando e hoje nos aparece como representando grandes malmequeres.
As Chinelas – Chinelas eram de veludo preto, liso ou com um laço. Posteriormente passaram a ser pretas e bordadas a branco ou de verniz.

terça-feira, agosto 08, 2006

Beira Interior

A Beira Interior é caracterizada por um geografia montanhosa, que moldou o modo de vida das suas povoações. Os seus habitantes adaptaram o seu modus vivendi à dureza do clima, dedicando-se a uma agricultura de subsistência nos vales e tendo como principal provento económico a pastorícia efectuada nas montanhas.

A mulher serrana protege-se dos rigores da montanha com uma capucha confeccionada em burel, muitas vezes pela própria utilizadora. Sendo uma das características do traje da região da serra do Caramulo.
O traje é ainda composto por uma saia comprida e rodada e por uma avental, feitos, muitas vezes, no mesmo tecido da capucha, escolhendo para o Verão tecidos como riscado ou chita. Vestia ainda camisa de linho de cor natural, ou algodão.
No Verão, para além do sempre indispensável lenço de algodão, usa um chapéu de palha de abas largas para se proteger do sol.
Calça socos de madeira e carneira, protegendo os pés com meias de lã tricotadas pela própria.
O homem veste fato de cotim e camisa de riscado, faixa preta e chapéu de abas preto, calça botas de carneira.

Varina do Porto

Assim como das de Lisboa, as varinas (vareiras ou bareiras, como são chamadas) do Porto são oriundas do litoral beirão, sobretudo de Ovar ou da Murtosa.
Este traje indica o tipo de trabalho da utilizadora, já que anda descalça ou em chinelas, permitindo grande mobilidade e leveza no andar. Usa a saia comprida e rodada, atada com uma faixa que lhe segura o ventre, onde usa uma algibeira, presa com presilha, que tem como função guardar os proventos da venda. O colete ajustado com atilhos sobre uma blusa ampla, permite adaptá-lo ao corpo, à medida das necessidades. Enverga lenço e chapéu com rodilha, o que lhe facilita andar com a canasta à cabeça. A canastra, que sempre a acompanha, fala-nos do seu conteúdo, o peixe que vende na zona da Ribeira do Porto.

sexta-feira, agosto 04, 2006

Tricana de Coimbra



Uma da figuras mais conhecidas da Cidade de Coimbra, cantada pelos estudantes, a Tricana fez do xaile a sua peça de luxo, usando-o sobre os ombros ou traçado sob o braço direito.
Os xailes preferidos eram os que reproduziam em tapete decorativos orientais, denominados «xailes chineses».
Veste saia preta de lã, com fitas de veludo; saia de baixo branca, com tira bordada; avental de popelina, blusa de “tubralco”; caixiné; xaile chinês a tiracolo; chinelos pretos.

Traje da Serra da Estrela

A Serra da Estrela é a zona montanhosa alta do país, pelo que o seu rigor climatérico influenciou profundamente a forma de vestir dos seus habitantes.

A mulher serrana protege-se dos rigores da montanha com uma capucha confeccionada em burel, muitas vezes pela própria utilizadora. Na cabeça usa lenço de algodão. O traje é ainda composto por uma saia comprida e rodada e por uma avental, feitos no mesmo tecido da capucha. Vestia ainda uma camisa de linho de cor natural. Calça socos de madeira e carneira.
Este traje representa a venda do leite pelas ruas das vilas e cidades no sopé da Serra.

O burel e o surrobeco eram tecidos grosseiros manufacturados nos teares das aldeias da montanha, aproveitando a lã produzida por essas comunidades.

O traje do pastor é constituído por um conjunto de peças que vai vestindo ou despindo conforme as condições climatéricas. Usa uma camisa de riscado e uma camisola de lã com um padrão branco e castanha (raixa), semelhante a um casaco abotoado lateralmente, com aplicações em sorrobeco preto, calças de surrobeco castanho, botas cardadas e chapéu de aba larga.
Um outro elemento deste conjunto é a capa com capuz, a qual tem reminiscências árabes e medievais. Composta pela conjugação de um amplo capuz em forma triangular, com uma capa circular que cai a partir dos ombros, formando “godets”.

Os Saloios

O termo “saloio”, em português corrente, significa homem rústico, pouco esperto, manhoso e aldeão em sentido pejorativo. No entanto, este termo era aplicado aos habitantes dos arredores de Lisboa, dedicando-se à horticultura cujos produtos iam vender à cidade. São estes saloios que alimentam Lisboa.

A saloia trabalhava quintas, quer no trabalho agrícola, servindo nas casas abastadas ou como lavadeira, nas ribeiras de águas límpidas da região. Esta era a sua função mais conhecida, já que era muito vista em Lisboa trazendo e levando a trouxa de roupa ás freguesas da burguesia.
A mulher saloia vestia de algodão, usando saia comprida, blusa e avental. Denota-se a algibeira, atada à cinta, e o lenço na cabeça.
Podia calçar botinas ou sapatos de carneira.
Para se deslocar a Lisboa, usava uma saia mais nova, de melhor aparência, sobre a outra de uso diário, que no trajecto era dobrada e presa à cintura para que não se estragasse.


O traje saloio corresponde ao de um moço de estrebaria, com a função de cocheiro da família abastada.
Traja calça e colete de cotim com corte simples, camisa de algodão branca e faixa preta. Acompanha esta indumentária uma ampla camisa de algodão estampada de azul e branco, denominada “guarda-pó”, vestida como resguardo para proteger o fato quando trata dos cavalos ou burros.

Douro e Trás-os-Montes

Traje Domingueiro Feminino do Alto-Douro
Este traje compõe-se de blusa, saia e avental de formato semelhante ao traje domingueiro do Minho, sendo de realçar a configuração do colete. As cavas são profundas e o decote generoso, deixando antever o peito da camisa e a forma de ajuste por atilhos remete para a função de espartilho. No entanto, os “rabos” remetem este colete para uma origem barroca. O avental e a saia são decorados com finas rendas e fitas de veludo. O conjunto é acompanhado de um lenço branco e de um chapéu de veludo. Calça meias de renda brancas e chinelas de couro pretas.
A utilizadora deste traje é sem dúvida uma mulher de posses, pois adorna-se com fios, cordões e brincos de ouro e preciosas rendas e veludos, que em contrate com a severidade do negro mostram a figura de uma mulher habituada a gerir os seus haveres.

Traje masculino de Miranda do Douro
Composto por jaleca, calção, colete e polainas de saragoça castanha e preta, adornado por botões metálico ou de madeira. Trata-se de um traje de extraordinário requinte, nomeadamente no corte dos calções, onde a braguilha é encoberta por um alçapão de influência setecentista e a utilização de polainas, hábito que caiu em desuso na segunda metade do sec. XIX. O conjunto é ainda acompanhado por um amplo chapéu de feltro preto e por uma camisa de linho de cor natural.
O seu utilizador seria sem dúvida um homem abastado, pelo que deveria completar o conjunto com uma Capa de Honras de Miranda do Douro.

Alentejo

Trajes de Vila
Trajes de Trabalho

Apanha da Azeitona

Ceifeira

Pastor

quinta-feira, agosto 03, 2006

O Traje do Alentejo

As mulheres que vivem perto das cidades e vilas, mais abastadas, procuravam imitar as modas, seja no penteado, seja na maneira de vestir. A mulher da vila usa saia de fazenda de lã, blusa de algodão de corte cintado. Para a missa usa uma mantilha de renda sobre a cabeça e como abafo um xaile de merino negro bordado, com franjas de fio. Calça meias de renda brancas e sapatos de carneira com botões.
A mulher do campo, que durante a semana se dedicava aos trabalhos agrícolas, aos domingos depois de vir da missa e fazer os trabalhos domésticos, dedicava-se à costura, aos bordados ou a fazer meias. De Inverno refugiava-se à lareira, o centro da casa alentejana, no Verão, aproveitando fresquidão do fim da tarde, sentava-se num mocho (banco) junto à soleira da porta, aproveitando para dois dedos de conversa com a vizinha ou com quem passa.
No campo a mulher usava blusa de chita, saia de riscado atada em jeito de calça com alfinetes, lenço na cabeça e chapéu desabado, meias de linha grossa feitas com cinco agulhas normalmente de cor castanha, roxa ou até vermelha e sapatos grosseiros de atanado. De Inverno para se proteger do frio e da chuva, colocava um xaile ou uma lona pelas costas, atado em volta da cintura para permitir a liberdade dos braços.
O domingo era o pretexto para vestir a melhor roupa, não muito diferente da usada no campo apenas mais poupada pelo uso menos frequente. Nesse dia, a mulher calçava chinelas de atanado grosseiro, meias de linha lisa, um avental de riscado simples sem rendas, e saia de fazenda sem ser fina, a blusa era de tecido de chita gorgorina sem efeitos de renda. Na cabeça usava lenço ou cachiné sem ser o de trabalho.
O traje do alentejano abastado, residente nas vilas ou cidades, tem as suas raízes no traje popular espanhol no entanto o seu corte é mais suave, sendo a jaqueta e o colete mais compridos nas costa.
Este traje considerado domingueiro ou de casamento, usava chapéu de aba larga, camisa branca com pregas sobre o comprido, colete com uma ordem de botões muito aberto e jaqueta com três bolsos, um pequeno, em cima, à esquerda, onde por vezes usa, com a ponta de fora, um lenço bordado pela namorada, dois bolsos em baixo, um de cada lado, oblíquos. A jaqueta é enfeitada por alamares de seda. Cinta preta de merino, calças com cós alto e cintado e sapato fino, completam o conjunto.
No traje do homem do campo podemos encontrar algumas distinções fruto da actividade exercida, ou da época do ano. Genericamente calça botas de atanado grosseiro, calças e colete de cotim. A camisa ou chambre é feita de riscado e lenço ao pescoço ou por baixo do chapéu. Para resguardar as calças usa safões de lona e na cabeça chapéu de abas largas e copa redonda.
Em tempo de chuva usava capote aguadeiro feito de borel grosseiro e os safões de lona que eram substituídos por safões de cabedal. Os pastores distinguem-se pelo uso de safões de lã e samarra do mesmo material. Os alforges em cabedal ou em tecido de lã, eram usados para transportar a merenda, o azeite, o pão, as azeitonas, um pouco de toucinho ou chouriço, etc., mas também os parcos haveres quando em viajem ou nas longas temporadas passadas no campo.

segunda-feira, julho 31, 2006

O Campino - Ribatejo

Desde há muito que se encontram testemunhos sobre a existência dos Campinos nas lezírias ribatejanas, como o comprova este transcrito de Oliveira Martins dos finais do século XIX: "(...) chegamos ao Tejo (...). Nele com efeito o campino nos traz à ideia o tipo dessas raças da África setentrional, Líbios ou Mouros cujo sangue anda misturado nas nossas veias." … "A cavalo, de pampilho ao ombro, grossos sapatos ferrados, gorro vermelho na cabeça, o Ribatejano, pastoreando os rebanhos de toiros nas campinas húmidas e vicejantes, é como um beduíno do Nilo ( ... ) ".
De facto, é muito provável que já existam campinos desde os tempos das primeiras Casas Agrícolas, que necessitavam de pessoas para guardarem e cuidarem dos seus animais.
Depois, com a implantação do Estado Novo em Portugal, o campino até então um mero e simples trabalhador rural, foi transformado num arquétipo social, uma referência simbólica onde a Nação se reconhecia e através do qual se procurava dar às pessoas um motivo de orgulho nacional. Essa transformação reflectiu-se no traje de festa, que mais não passa de uma farda fornecida pelos patrões e devidamente identificada com o monograma da Casa Agrícola, para que os seus campinos os representassem com garbo nas feiras e festas onde se deslocavam com o seu gado.
Assim, distinguem-se claramente dois tipos de trajes:
- a roupa que é usada nos dias de trabalho (no dia-a-dia de um campino) é, regra geral, constituída por jaqueta, colete, cinta preta e calça comprida até aos sapatos;
- e o traje que é utilizada nos dias de festa, que é o que, de forma geral, o público mais rapidamente identifica como sendo do Campino. Este traje de festa é composto por calção com abotoadura lateral e ajustados à perna por botões, seguindo o modelo de traje de corte do sec. XVIII. O colete tem como principal característica a cor vermelha e a configuração do decote que deixa antever a camisa engomada. No traje de campino a camisa é simples, embora com carcela dupla que esconde os botões. Este conjunto é acompanhado por uma faixa vermelha e um barrete verde e vermelho. A jaleca tem a configuração de uma casaca, não sendo abotoada, muito embora se ajuste ao corpo e tenha botões de ambos os lados.
O conjunto dá ao seu utilizador um ar afidalgado e a atitude arrogante de um homem que tem brio na sua profissão e a coragem de enfrentar o touro de lide.
De olhar atento e porte autoritário o Campino assegura-se de que a sua árdua missão seja cumprida: "O gado olha-lhe a vara na campina deserta. É ele (Campino) que o dirige no voltear do cavalo, que o guia, que o conduz."

A sua figura de homem simples do campo, trouxe até ao nosso tempo a memória da funda relação que temos, nestas terras da lezíria, com cavalos e gado bravo. É no campo que tudo começa, nasce, cresce, vive, faz-se. Esse é o mundo do campino, é aí que se sente bem, no meio dos animais.
Muitos dos nossos campinos, que atravessaram mais de metade do século nesta sua profissão, começaram nas tralhoadas, quando os toiros se amansavam para servir na lavragem. Em moços foram rabeiros, assim chamados por trabalharem todo o dia com a rabiça da charrua, e brochavam os animais, forçando-os a admitir a canga.

Era isso trabalho simples, se assim se pode dizer. Porque tarefa difícil, que até custa a acreditar que fosse possível fazer, era levar o gado, através dos campos, os colocar a salva das águas do Rio Tejo, que no Inverno alagavam as terras baixas do Ribatejo. Mais de duzentas cabeças, toiros, novilhos, cabrestos, por três ou quatro dias de caminho, a fugir aos povoados para evitar azares.
Era um ciclo que se repetia, ano após ano, tal qual, seguindo o mesmo caminho, em chegando a Primavera e o regresso no Verão. Ficavam as vacas e os bezerros de mama. Tudo o mais ia-se embora para a imensidão das pastagens mais distantes do rio.
Esta vida de campino não tinha cama nem esteira, não sabia de conforto. Nem de festas, nem de nada. Era trabalho e uns copos, bebidos em grupo pequeno, no meio dos animais. E alguns sustos, às vezes, quando um toiro tresmalhava, ou se deixava furar um cavalo ou se apanhava uma cornada no corpo que Deus lhe deu.
Era uma vida difícil, mas da qual muitos têm saudades.
Se a vida do campino era dura, a da mulher não era melhor, pois cabia-lhe a ela cuidar da casa, dos filhos e ainda o trabalho do campo, suportando os longos períodos de ausência do marido e educando os filho para seguirem as mesmas pesadas do pai.
O traje do dia-a-dia era naturalmente simples, mas resistente, para suportar o desgaste do trabalho do campo. No entanto, é no traje de festa que a mulher do Ribatejo se aplica, apresentado saia rodada através do emprego de largas pregas laterais desenhando maior volume para trás. Sob a saia usa saiote e colotes, que apresentam um ligeiro folho de bordado inglês, conferindo ao conjunto grande requinte. A blusa de gola redonda, rematada com folho de bordado inglês, tal como na carcela e nos punhos. È na confecção do avental que a mulher se esmera, demonstrando os seus dotes de bordadeira, e a sua imaginação na escolha dos bordados e na confecção do modelo. Calça meias de renda branca e sapatos de carneira de cor natural.