terça-feira, dezembro 29, 2009

Mulher da cidade do Porto


A gravura é baseada em relato de viagem anterior a 1844: trajo citadino de arruar, predominando o preto da saia e do amplo manto de merino que recobre a cabeça e descai quase até à meia perna. Este manto parece constituir uma variante do modelo que então se usava na Ilha Terceira, Beira Baixa (Monsanto), alguns povoados do Alentejo e no sul de Espanha. A versão portuense não comporta entretela na zona da cabeça e não aperta na linha da cintura.

Fonte: http://virtualandmemories.blogspot.com/
Assuntos relacionados neste blog: Côca, Biuco e Capelo

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Guimarães – Capital do Folclore

Guimarães foi a capital do folclore nos passados dias 28 e 29 de Novembro e “Trajes de Portugal” esteve lá.
Nesse fim-de-semana decorreu o V Congresso Nacional de Jovens, organizado pela Federação do Folclore Português, e a final do Concurso Nacional de Etnografia, promovido pelo INATEL.
O V Congresso Nacional de Jovens decorreu no pavilhão Multiusos e desenvolveu-se ao longo de 4 painéis (3 temáticos e 1 de temas livres). Discutiram-se o Plano de Melhoria proposto pela FFP, a Encenação – Riscos e Vantagens e a Organização de Eventos, tendo estes dois painéis vagueado em torno da inovação quanto à forma como os grupos de folclore se apresentam e organização dos Festivais de Folclore.
A muita assistência presente foi participativa e aproveitaram bem os períodos de debate para colocarem questões e levantarem problemas que a todos afecta. Contudo, a juventude e falta de experiência dos jovens que constituíram os diversos painéis transpareceu na qualidade das respostas, ou na ausência destas, a diversas questões, facto muito comentado entre congressistas e observadores.
No entanto, há que realçar que este era um congresso organizado por jovens e para jovens, e que em termos de organização foi exemplar.
Nota extremamente positiva para o espectáculo de dia 28 - “Esmiuzar o Folclore” - que com o recurso ao humor crítico, deu uma lição sobre o que os grupos de folclore não devem fazer, mas que, infelizmente, são realidades com que nos deparamos no dia-a-dia do folclore.
Parabéns pela iniciativa e pelo seu sucesso.

Concurso Nacional de Etnografia

No dia 29 decorreu a final do Concurso Nacional de Etnografia, que decorreu no Centro Cultural de Vila Flor, outro magnifico equipamento desta cidade berço da nação.
Estiveram a concurso os seguintes grupos e temas:
Grupo de Santo Amaro de Azurara (Viseu) – Matança e Andança do Porco
Grupo de Monteverde (Madeira) – Saloias do Espírito Santo
Grupo Etnográfico Mil Raízes (Lisboa) – Por Vielas e Terreiros
Rancho Etnográfico “Os Camponeses de Arraiolos” (Évora) – Das Janeiras aos Reis no Concelho de Arraiolos
Associação Cantandeiras do Vale do Neiva (Viana do Castelo) – A Fé nas Tradições
Todos os grupos apresentaram espectáculos de grande qualidade cénica e etnográfica, tendo saído vencedor a Associação Cantandeiras do Vale do Neiva, ficando em 2º Lugar o Grupo de Monteverde e os restantes grupos em 3º lugar.




Grupo de Santo Amaro de Azurara


Rancho Etnográfico “Os Camponeses de Arraiolos”


Representantes da Associação Cantandeiras do Vale do Neiva e
do INATEL aquando da entrega do prémio.

segunda-feira, novembro 23, 2009

Presépios com trajes tradicionais portugueses

Não há nada mais tradicional no Natal em Portugal que o presépio. É a alegria de pequenos e graúdos na hora ir ao musgo, de enfeitar o presépio, de dispor as várias peças, de deitar o menino nas palhinhas.
Bom! Hoje em dia, já se compra tudo feito, nem o musgo é verdadeiro. Mas o presépio não pode faltar.
Mas que tal aliar o tradicional presépio aos trajos regionais, afinal a Sagrada Família simboliza cada uma das nossas famílias.
Um artista de Almoster (Santarém) teve esta brilhante ideia que pode ser vista em “
Olhar o Barro” ou em "Cerâmicas d' Almoster"

domingo, novembro 22, 2009

Artigo do DN sofre Folclore

Caros Amigos

Descobri hà pouco tempo um artigo no DNOnline sobre o folclore em Portugal e sobre os grupos que o representam. É do melhor que li sobre o assunto nos últimos tempos.
Leiam-no em Rigor ou aplauso, o drama do folclore por António Pedro Pereira e Arlindo Camacho

sexta-feira, novembro 06, 2009

O Xaile

O uso do xale ou xaile (do persa Shāl) é muito antigo, pelo menos no Oriente, defendo-se que será originário de Caxemira, o seu principal centro produtor. No ocidente o seu uso surge apenas no princípio do século XIX.
O uso do Xaile parece ter sido introduzido na Europa por volta de 1798 por soldados Franceses que fizeram a campanha no Egipto. Eram caríssimos, sendo mais finos os que se faziam do pêlo de uma cabra que existia no norte da Índia e a sua confecção levava cerca de um ano. Em 1818, os Franceses, começaram a imitar o Xaile de Caxemira, mas a urdidura era de seda e a trama em pêlo de cabra do Tibete e lã merina ou Australiana, mantendo a riqueza das cores e a beleza dos desenhos tipicamente orientais, mas à medida que o seu uso se foi divulgando, qualquer matéria ou desenho servia para a sua confecção.
Em Portugal entraram lentamente. Os primeiros xailes teriam sido trazidos pelos capitães de navios que os ofereciam a suas esposas. Inicialmente foram utilizados como ornamento da casa, só posteriormente começaram a aparecer em bailes envolvendo os ombros das senhoras.
Na classe popular, podemos dizer que o Xaile não é inteiramente novidade, sempre a mulher camponesa usou pelas costas uma espécie de agasalho, uma saia dobrada ou uma capa ou mantéu.
A grande difusão em Portugal, resulta do facto de a sua entrada ter coincidido com o desenvolvimento da indústria de tecelagem. A produção em série torna o Xaile mais acessível às bolsas populares.
Existem vários tipos de Xailes
Xaile de Sarga – Liso em ponto de sarja, franja torcida, inicialmente, só em preto, depois noutras cores e em xadrez.
Xaile Barra Azul – Liso ou em ponto de sarja, franja em nós, fundo escuro normalmente urdido em castanho e trama em preto, as barras eram em azul muito vivo, xaile popular, característico da zona Centro do pais.
Xaile Barra de Cetim ou Barrinhas – Em ponto de cetim com barras noutro ponto de cetim, franja torcida e também com franja em cadeia de cor preto, xaile popular de todo o país.
Xaile Xadréz-Feito em estambre (fio de lã penteada) em seda natural, em xadrez franja torcida, em preto e de várias outras cores. Era o preferido da classe média.
Xaile de Barra de Seda – Corpo em estambre e barra de seda, a barra era formada por vários desenhos representando motivos populares, em preto e de outras cores. Xaile de cerimónia da classe média, este Xaile também podia ser fabricado em fio de algodão ou fibra vegetal.
Xaile Double – De sarja em lã cardada, face principal em preto e outra de cor diversa, era um xaile popular de agasalho.
Xaile Mescla – Liso em sarja de lã fios de várias cores.
Xaile de Flanela – Em lã cardada, vai à percea levantar o pêlo, em preto, azul e castanho, era um excelente agasalho.
Xaile Pirinéus ou Feltrado – De lã cardada, pêlo aveludado liso, em várias cores, xaile de agasalho, as senhoras usavam-no muito nos serviços caseiros.
Xaile Africano – Fio cardado fazendo relevos, em cores, com predomínio do preto e cinzento, xaile de agasalho.
Xaile de Cercadura – De lã cardada em ponto de sarja, a barra de fios de borbotos ou argolas, em preto e de cores, xaile popular para senhora de meia-idade.
Xaile de Argola Liso – Lã cardada a urdir, a tramar fio cardado e argola, em preto, argola pode ser preta ou de várias as cores, xaile popular, muito grosso e pesado, usado nas regiões nortenhas ou na beira-mar.
Xaile de Ramagem ou Relevo – Lã cardada e ramagem feita de fio de argola, duas faces, ambas em preto, ou uma preta e a outra em verde, azul e castanho. Xailes populares mais para senhoras de classe média, muito caros e usados nas zonas mais frias.
Xaile de Argolinha – Em argolinha a urdir, em varias cores, xaile popular domingueiro, era um xaile caro e único vendido a peso, tinha entre um a dois quilos por volta de 1925 cada quilo custava 220 escudos era usado por todo o pais e muito na moda na Beira Alta.Xaile de Linha – Era urdido com fio na trama em lã cardada ou penteada, em preto, xaile pesado e duro para as raparigas e mulheres de posição média.
Xaile Primavera – Estambre a tramar e seda a urdir, ou de algodão e seda, de franja cadiada muito entrelaçado, em várias cores e desenhos, com predomínio do xadrez em preto e branco. Xaile domingueiro das raparigas da zona de Coimbra e Aveiro.
Xaile Tricana – Lã merina estrangeira, franjas de seda muito compridas e entrelaçadas, vários desenhos e varias cores, sobretudo cores garridas. Xaile de romaria muito usado nas zonas centro do nosso país.
Xaile Manta – Lã merina em ponto de tafetá, não tem franjas é de vários tipos de xadrez em preto e branco, xaile domingueiro e de romaria usado mais nas mulheres casadas.
Xaile de Merino – Em estambre de lã estrangeira, preto de cerimonia, muito usado nos casamentos, missa e dias de festa e no luto, xaile caro, usado pelas senhoras de meia-idade.Xaile Tapete ou Fantasia - Em seda natural ou em fio de estambre, muito lavrado, cheio de desenhos e cores representando animais, folhas, flores, frutos, e combinações geométricas, usado pelas senhoras da cidade de classe aburguesada ou para ornamentação de salas.

domingo, outubro 18, 2009

Museu de Arte Popular

Boas notícias! Um parecer que propõe a reabertura do processo de classificação do edifício do Museu de Arte Popular foi aprovado por unanimidade pelo Conselho Consultivo do IGESPAR no dia 15 de Julho de 2009.
O Museu de Arte Popular, situado em Belém, resulta da adaptação de alguns dos antigos Pavilhões da Vida Popular, integrados no conjunto construído para a Exposição do Mundo Português de 1940. Após a exposição, e por decisão de António Ferro, foi aí instalado o MAP (inaugurado em 1948)
O Museu de Arte Popular encontra-se encerrado ao público desde 1998 para a realização de obras de reabilitação. Em 2006, a então Ministra da Cultura Isabel Pires de Lima, anunciou o projecto da instalação do chamado Museu Mar da Língua Portuguesa no seu espaço.
Entretanto, a colecção do MAP foi transferida para o Museu Nacional de Etnografia, segundo declarações públicas do seu director, para trabalhos de conservação e restauro.
O movimento em defesa do Museu de Arte Popular, que integra a historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, a empresária Catarina Porta, a artista plástica Joana Vasconcelos e o jornalista Alexandre Pomar, tem encetado esforços para a recuperação do edifício e da sua magnifica colecção, tendo como objectivo último a sua reabertura.
Fica uma crítica: Talvez por se dedicar à Arte Popular este museu não tem recebido a atenção que merece por parte de algumas elites pseudo-intelectuais, para quem a etnografia, o folclore, a cultura popular, etc., é desprezável e uma vulgaridade do “povo”. Engana-se quem assim pensa, pois não só é ignorante … é também BURRO!
O blog Trajes de Portugal associa-se a este movimento e apela à que assinem a PETIÇÃO em defesa do Museu de Arte Popular.
Visite também o blog Museu de Arte Popular – fechado em Belém, mas aberto aqui.



















segunda-feira, outubro 05, 2009

Trajes do Porto

Os trajes e as modas do Porto são aqui recriados pelo Rancho Folclórico do Porto.




quinta-feira, agosto 27, 2009

Os Avieiros – Salvaterra de Magos - Ribatejo

Desde sempre o rio Tejo, atraiu muitos pescadores vindos de longe. Gente do mar, que de Inverno não conseguiam ganhar o seu sustento devido à bravura das ondas, viam o seu ganha pão ser recusado pelo mar, enquanto que no rio Tejo, rico em espécies lucrativas, da qual se destacava o sável, várias famílias rumam ao sul, em busca de sustento.
Destas migrações internas, que surgiram nos finais do séc. XIX, destacam-se duas de origens geográficas diferentes: os varinos, vindos da região de Ovar, Estarreja e Murtosa e os avieiros originários da Vieira de Leiria.
Situada na margem esquerda do rio Tejo, a escassos quilómetros da vila de Salvaterra de Magos, encontramos a pequena aldeia do Escaroupim. Curioso povoado habitado pelos descendentes de uma das mais peculiares migrações internas, que Portugal assistiu - os avieiros.
Estes nómadas do rio, como afirmou Alves Redol, são baptizados de avieiros, que é um gentílico extraído da sua terra de origem, Vieira de Leiria.
Em Vieira de Leiria durante o Inverno, o mar é tão revolto e os ventos violentos impediam que os barcos entrassem no mar. Privados da sua actividade principal, os avieiros tiveram que dedicar-se a outros trabalhos. Uns eram contratados pelas serrações instaladas nos pinhais vizinhos, outros deixam a sua terra de origem e partem em direcção ao Tejo, onde a safra do sável, lhes dava uma ilusão de uma vida melhor.
Não está definida uma data para esta migração, a única certeza que temos é que em dada altura, os pescadores da Vieira de Leiria, começaram a emigrar para o Tejo, e que durante anos, muitas famílias viveram uma vida repartida entre o rio e o mar. Partiam para o Tejo de comboio, mas os primeiros vieram nos seus próprios barcos.




Ficavam nos meses de Inverno a percorrer o Tejo e a suportar uma vida que era dura e difícil, como afirma Maria Micaela Soares: “(..) vinham em Novembro, trazidos pela penúria. Anónimos e tímidos se achegavam às margens do Tejo. Na época de vaivém entre a praia e a lezíria, moravam nas pequenas embarcações de proa alta, quer durante a faina, quer acostado. O barco era o berço, a câmara nupcial, a oficina e a tumba”.
A sua vinda para as terras de borda-d'água, não foi fácil porque “quando os avieiros chegaram à lezíria, encontraram já o rio sulcado de barcos, alguns maiores que os seus, e que eram conduzidas igualmente por pescadores que povoavam o Tejo, chamavam os da terra varinos.
Eles entre si designavam-se simplesmente pescadores, em oposição aos trabalhadores da terra. Os avieiros apelidaram-nos de Murtoseiros, qualquer que fosse o seu ponto de origem. Esta era, na sua maioria, a Murtosa, mas também vinham de Ovar e da Estarreja. Esses grupos, que haviam seguido na esteira do sável, fixaram-se nos extremos dos povoados ribeirinhos, junto às praias.
Alugavam as casas da beira-rio, onde habitavam várias famílias, para o aluguer ser mais acessível”.
Havia uma rivalidade entre ambos, o que provocava grandes rixas. Os varinos acusavam os avieiros de terem contribuído para a decadência da sua actividade piscatória, através da concorrência desleal das redes, os avieiros por sua vez também os acusavam de usarem este tipo de redes. O certo é que estes dois grupos não mantinham relações muito cordiais.
Com o passar dos tempos, o processo migratório cessa e acabam por se fixar nas margens no Rio Tejo, o nomadismo acaba e sedentarizam-se. Com a fixação definitiva, surge a necessidade de encontrar um domicílio mais estável, resistente e confortável. Pouco a pouco conquistam as margens do rio Tejo e começam a erguer pequenas barracas totalmente construídas em caniço, dado que este crescia de forma espontânea pelos valados.



Sempre que as condições económicas o permitiam, começavam a adquirir madeira, comprando por vezes uma tábua por semana e aos poucos iam edificando a sua habitação. A aldeia do Escaroupim nasce desta forma, tomando uma configuração muito irregular tal como a vida dos avieiros, as casas forma levantadas aos solavancos conforme as suas posses. Contrastando com a casa ribatejana, a habitação avieira é assente em pilares devido às cheias ocasionais do Tejo, é feita em madeira, pois é o único material que a Capitania do Porto de Lisboa e a Hidráulica permite. Enquanto que a casa ribatejana é normalmente caiada, a do avieiro é pintada com cores alegres onde se destaca o verde, o vermelho e o azul, disfarçando desta forma as amarguras da sua vida. Este tipo de habitação é idêntico aos palheiros da Praia da Vieira.
O Tejo era a sua vida, o rio fê-los viver décadas de isolamento de costas voltadas para a lezíria, dado que estes não os “aceitavam” por serem diferentes, as raízes culturais dos avieiros não estão no Ribatejo, mas sim na terra dos seus pais e avós - a Vieira de Leiria.

A MULHER AVIEIRA
A mulher teve um papel muito importante na família avieira, para além de mãe e esposa, era também a “camarada” do pescador. Era ela quem remava e controlava o barco, enquanto o homem lançava as redes, ajudava também no conserto nas redes.
Após a pescaria fazia grandes caminhadas, de freguesia em freguesia, com a canastra à cabeça para vender o pescado, descalça sobre a geada ou debaixo do sol escaldante.
Apesar da fixação na lezíria ribatejana, a mulher avieira conservou genuinamente o seu traje de origem. Vejamos a descrição deste, segundo uma descrição de Maria Micaela Soares “(...) elas conservam puras muitas das suas tradições, com especial relevo para o vestir. Usam saia e blusa - a que a mais velha chama “casaco”, sendo aquela muito rodada ou em pregas miúdas. De tecido diferente, conforme a estação do ano, a saia tende sempre para o xadrez castanho-amarelado, embora se vejam também de cores muito garridas.
O “casaco” tem sempre manga comprida, é bastante colorido e muito enfeitado, com rendas ou bordados, mesmo nas menos jovens (...).
Também não dispensa o avental, bastante rodado, estimando muito os de riscas largas, de quadradinhos miúdos ou de cor lisa, bordados. Usa-o no trabalho do rio, doméstico, agrícola ou nas festas.
Na cabeça, a avieira mais idosa não prescinde do lenço, posto com pontas ao alto, à rodada-cabeça, caído pelos ombros, atado atrás. Só dentro da casa e nos grandes calores estivais o retira e, mesmo assim, se alguém chega à porta, repõe-no imediatamente, que não parecia bem sem ele. Faz parte do decoro da sua apresentação. Quando de luto, nem em casa o afasta.
Interiormente as mais velhas trazem ainda camisa com “ombrêras”, além da saia branca de baixo, tudo com rendas.
Grande anseio de todas é a posse de um cordão e grandes medalhas, que ostentam mesmo sobre fatos de luto (...)”.

O HOMEM AVIEIRO
Trajo do avieiro, também nos reporta para a sua área geográfica da Vieira de Leiria “de camisa axadrezada, em tons castanhos e amarelos, de preferência e não já de pano-cru; calça de fazenda ou de cotim, arregaçada, tal como a ceroula interior, ou largas bragas de zuarte, antigamente,mas de ganga hoje; boina de pala curta em vez de barrete de outrora, em geral preto, mas que também fora azul ou vermelho, com ou sem borla, cinto de cabedal ou mero cordão, pela cinta preta de outros tempos, camisolas e casacos de malha ou de tecido grosso a destronarem o gabão de capucha e farto cabeção, pés de descalço sempre - eis o velho avieiro”.

Bibliografia: Maria Micaela Soares, “Mulheres da Estremadura” In Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa

Rancho Folclórico "Os Avieiros" do Escaroupim (Página Provisória)

sábado, agosto 08, 2009

O Homem da Taberna - Algarve

A taberna, em qualquer região de Portugal, constituía (direi antes, constitui, já que ainda existem algumas) o centro social por excelência de uma localidade. Trata-se de um lugar exclusivamente masculino, onde, entre umas rodadas de vinho ou aguardente, se jogava às cartas, ao dominó, á moeda. Está claro, em lugar de jogos de azar, com bebida á mistura, as desavenças eram frequentes. Mas na taberna também se sabe das novidades, se contrata trabalho, fala-se dos namoros, de futebol e de politica.
A grande perturbação familiar surgia quando o homem começava a ser frequentador habitual da taberna descurando a família. Não raras vezes, a mulher entrava na taberna e arrastava o marido para casa, era a suprema humilhação, que nem sempre servia de lição.
Os 3 trajes que vos apresento, são exemplos de trajos quotidianos de inverno do homem algarvio da primeira metade do sec.XX, provavelmente pescadores de mar alto, ou em época de defeso, operários, etc., gente simples … gente de trabalho.

Boné de tecido de lã preta. Casaco de tecido de lã grossa estampado de xadrez em tons de castanho e verde, aberto na frente e com manga comprida. Camisa de flanela formando xadrez em tons de vermelho de manga comprida, colarinho chanfrado, aberta na frente, aplicação de bolso sobre o peito do lado esquerdo.
Calças de fazenda de lã cinzenta e preta. Lenço tabaqueiro. Botas em pele de carneira.

Boina castanha. Camisa de tecido de lã formando xadrez policromado de manga comprida, aberta na frente, com aplicação de bolso com pala sobre o lado esquerdo. Colete de fazenda de lã cinzenta, interior guarnecido com lã de ovelha, aberto na frente e aplicação de três bolsos. Capote com gola de pelo. Calças de tecido de algodão em tons de preto e branco. Lenço tabaqueiro. Tamancos de madeira e cabedal castanho.

Boina em tons de castanho. Camisa de tecido de algodão em tons de azul e branco em xadrez, colarinho chanfrado, aberta na frente, manga comprida, com aplicação de bolsos com pala. Colete de soriano castanho, aberto na frente, com dois bolsos. Calças em fazenda de lã grossa. Samarra cinzenta com gola de pêlo de carneiro. Botas de carneira.

Fonte bibliográfica: “Orla Marítima – Traje do Algarve”, Museu Nacional do Traje

segunda-feira, julho 27, 2009

Traje de Peregrino – Entre Douro e Minho

A imagem que público hoje, está referenciada como um traje de peregrino de Entre Douro e Minho. Não é a primeira vez que vejo imagens deste trajo, mesmo noutras publicações, no entanto nada sei sobre a sua história.
Se algum dos meus leitores me puder ajudar, seria bom e enriquecedor para todos.
Fica o pedido de ajuda.

terça-feira, julho 21, 2009

Trajes de Trabalho no Arroz – Ribatejo

É no reinado de D. Dinis que surgem as primeiras referências escritas sobre a cultura do arroz, este destinava-se somente à mesa dos ricos. Posteriormente no séc. VXIII foram dados incentivos á produção deste cereal principalmente nas regiões dos estuários dos principais rios de Portugal.
No ano de 1900, a cultura do arroz era, em Portugal, limitada às “terras alagadiças dos vales do Vouga, Mondego, Sado, Mira e Guadiana”. Meio século depois, com o incremento verificado, o seu cultivo é efectuado em múltiplos municípios.
A expansão da cultura do arroz teve lugar por volta de 1909, após se ter elaborado um conjunto de regras para a preparação dos terrenos e da gestão da água, proporcionando assim, o cultivo de diferentes variedades de arroz.
A monda fazia-se com água pelo joelho, às vezes mesmo por cima dele. Daí as mondadeiras andarem descalças e trazerem as saias puxadas bem acima. Passar todo o dia em meio metro de água já fazia parte do quotidiano. O que atemorizava as mondadeiras era quando havia olheirões, zonas do canteiro onde a terra era menos consistente e, ao pisá-la, o corpo se enterrava pelo lodo adentro, ficando-se às vezes com água até ao peito. E depois havia os bichos: as cobras inofensivas mas com fama de malfazejas no imaginário popular, as sanguessugas que se agarravam às pernas, e por isso se usavam os canos, os bazarucos (bichos pretos com turquês que ferravam nos pés) e as camisolas - essas brancas e espalmadas mas que também tinham turquês e não se ficavam atrás na arte de ferrar. Ainda agora, trinta anos passados sobre os tempos em que andavam nos canteiros, as mondadeiras se arrepiam ao falar deste exército de impiedosos inimigos que permanentemente lhes ameaçavam as pernas e os pés.
Iguais riscos corriam os homens que, finda a monda, tratavam de adubar, com amónio, metidos nos canteiros aos dois e aos três, à ilharga uns dos outros, descalços e de calça arregaçada até ao joelho.
Embora mondadeiras por designação, essas mulheres executavam praticamente todos os trabalhos da campanha do arroz, desde a preparação dos viveiros, no fim do Inverno, até à ceifa, pelo Outono dentro. No peito, a força da vida. Na voz, o cantar das mondadeiras.

Somos um alegre rancho
Das mondadeiras de arroz
Que vem espalhando alegria
Com alegria na voz.

(Teresa Cavazzini)

Lá vão elas
Pela estrada de alcatrão,
Atraentes moças belas,
Onde brilha a sedução.
Lá vão elas,
Como a sina lhes propôs,
As donzelas,
Para a monda do arroz.

(Custódio Mira)



Mas as mondadeiras estão vivas e falam com muita vida de um tempo, cada vez mais distante, que já não sabem bem se foi bom se mau. Porque era dura a vida e pesada a labuta. Porque abundava o trabalho e se contava sempre com a alegria e o conforto do rancho.


O trajo da mondadeira do arroz: Saia de roda, de ganga ou de riscado, blusa de chita, avental de pano; duas ou três saias de baixo, recortadas, juntas à de cima e pregadas com alfinetes à volta de cada perna; a atar tudo, o nastro, espécie de cinta para ficar bem alto o conjunto; lenço colorido com motivos florais e, por altura do calor, um chapéu de palha por cima; canos nas pernas, geralmente escuros; pés descalços e enegrecidos, os sapatos eram apenas utilizados no caminho de e para o campo; nos braços, manguitos, de cotim ou de restos de meias velhas.

Trajo do homem do campo: usava barrete ou chapéu consoante a estação do ano, no inverno barrete, no verão chapéu, nem todos seguiam esta linha pois alguns só usavam uma peça todo o ano; camisa de algodão escura para não se notar o pó e o sujo, por cima uma camisa de riscado; colete e calças de cotim; ceroula atada em baixo e calças por cima arregaçadas, quando o trabalho era mais agreste despia-se as calças e ficava-se só com as ceroulas; os tamancos serviam só para as deslocações para o trabalho e deste para casa, mas a maioria andava descalça todo o ano, à excepção quando iam à vila.
O homem do campo andava sempre com a roupa e aconchegos preparados para as adversidades do trabalho ou do tempo, o lenço de assoar grande e de cor vermelho, servia também para pôr em redor do pescoço para não entrar pó, ou tapar o nariz e a boca, quando andavam nas eiras; a manta lobeira (ou cobertor de papas) serviam para o homem se resguardar das intempéries, frio, chuva, etc.

Imagens: Rancho Folclórico "Os Camponeses da Raposa" - Almeirim

quinta-feira, julho 16, 2009

Grupo Folclorico Português Alma Lusa comemora 50 anos

O Grupo Folclorico Português Alma Lusa comemora 50 anos de existência, com uma grandiosa festa no Paraná - Brasil.
Não sendo habito fazer este tipo de anúncios, também não podia deixar de o fazer já que se trata de um grupo que tem dedicado à divulgação das nossas tradições junto da comunidade portuguesa no Brasil, mantendo uma ligação cultural entre os luso-descendentes e o seu pais de origem.
50 Anos é uma bonita idade, digna de ser assinalada e festejada.
Parabéns!

Traje de Vale d'Este – Baixo Minho



O Traje de Vale d'Este é assim designado por ter tido maior predominância no vale onde corre o rio Este, afluente do rio Ave, e entrou em desuso nos princípios do século XX.
A moça que pertencia esta região envaidecia-se com o seu chapéuzinho de copa rasa, que enfeitava com fitas de veludo e lantejoulas e, descobrindo o busto, mostrava o colete bordado a seu gosto.
O trajo era assim composto por um pequeno chapelinho de feltro, guarnecido de veludo, plumas, borlas e fios de cores garridas, com fita de veludo em pontas pendentes para a nuca; lenço de tule branco bordado em pontas soltas; camisa de linho, ricamente bordada e adornada com rendas; colete de rabos ajustado na frente com cordão, frente e costas bordadas a preto ao gosto da moça; a saia é ampla de baetilha preta, fartamente rodada e "aparelhada" a veludo, cetim e vidrilhos; usa um pequeno avental, às riscas verticais das mais variadas cores, guarnecido de barra de veludo preto, tecido nos teares da aldeia; algibeira bordada a lãs; lenço bordado; meias brancas, rendadas, de linho ou algodão; chinelos de verniz, pespontas a branco; brincos e farto oiro no peito.

Fonte: Rancho Folclórico de Santa Maria de Aveleda

domingo, julho 05, 2009

Descarregador de peixe – Setúbal - Estremadura

De passagem por Setúbal não podia perder o 33º Festival Nacional de Folclore organizado pelo Rancho de Praias do Sado, que decorreu ontem, dia 4. Um espectáculo maravilhoso, num auditório extraordinário e com um público entusiasta.

Confesso que gostei tanto do que vi e ouvi, que me apeteceu homenagear esse grupo e essa cidade falando de um dos seus trajes mais simbólicos – o Descarregador de Peixe.

Tentei encontrar uma descrição deste traje mas não consegui, pelo que a exposição seguinte resulta apenas da minha observação, se algum dos leitores pretender acrescentar algo agradeço.

O traje do descarregador de peixe é composto por umas calças curtas e um casaco de cotim, veste ainda uma camisa de riscado. Na cabeça usa o seu principal instrumento de trabalho e o objecto que marca a sua actividade, um chapéu metálico de forma circular, com aba larga e profunda, sobre o qual transporta as canastras de pescado. Para proteger a cabeça da rigidez do metal, utiliza um lenço que amarra na nuca.

Anda descalço, pois a actividade assim o obrigam.

Noutras regiões e em actividades idênticas, havia o costume do peixe que caísse nestes chapéus reverteria a favor do descarregador, daí o andar bamboleante que adoptavam, não sei se é esse o caso, mas gostava de conhecer mais.

segunda-feira, junho 29, 2009

Conservação de Trajes

Ao longo destes anos tenho descrito centenas de trajos e muitas vezes falado na importância da sua conservação.
No entanto, não nos podemos esquecer que a maior parte dos trajes antigos estão na posse de grupos etnográficos e ranchos folclóricos que possuem pouca experiencia e meios para conservar os seus acervos, pelo que, estes acabaram por se perder.
No presente artigo, vou tentar dar algumas dicas sobre técnicas de conservação de têxteis, mas que não substituem a necessidade de consulta a um técnico avalizado, já que, para além da conservação existe o restauro e este só deve ser efectuado por pessoas devidamente habilitadas para o efeito.
Diz a sabedoria popular que “mais vale prevenir que remediar”, pelo que, se pretendemos perpetuar a existência de determinada indumentária temos de nos preocupar com a sua conservação.
Uma peça de indumentária, ao longo do tempo, sofreu um desgaste próprio do seu uso, mas também a influencia do meio ambiente e da forma como foi acondicionada, pelo que muitas vezes chegam até nós fragilizadas e a sua exposição e manuseio só irá contribuir para a degradação.
Quando planeamos a constituição de uma zona de armazenamento de têxteis, temos de planear o que vamos guardar e como.
Desde logo, o espaço de armazenamento deve ter em consideração os seguintes factores que contribuem para a deterioração de têxteis:



Para a conservação e estudo de uma peça de indumentária é extremamente importante a sua catalogação, utilizando fichas descritivas, quer da peça como do seu estado de conservação, e fotografias, de forma a que a peça seja manuseada o menos possível.



Depois, a peça passa por 5 fases com vista à sua conservação:
1 - Higienização: que consiste na eliminação de sujidades generalizadas, extrínsecas ao objecto, como poeira, excrementos de insectos, partículas sólidas, suor e outros elementos estranhos a sua estrutura e pode ser realizada através de limpeza a seco ou aquosa.
2 - Desinfestação: tratamento que tem por objectivo a eliminação de macro e/ou microrganismos existentes nos materiais têxteis e requer o uso de câmaras de baixa temperatura ou de insecticidas, aplicados em câmaras de fumigação ou no próprio ambiente (este tratamento só deve ser adoptado em casos extremos).
3 - Hidratação: Destina-se a minimizar os vincos e os enrugamentos causados pelas condições inadequadas de armazenamento e acondicionamento – os métodos mais usados são a vaporização a frio e a humidificação em tenda.
4 - Acondicionamento: consiste na utilização de embalagens adequadas para a guarda dos objectos têxteis dentro do museu e outras específicas para transporte e exposição.
5 - Armazenamento: Tratamento que consiste em guardar os objectos têxteis que não estão expostos.

Quando se acondiciona uma peça, deve ser evitado a utilização de material ácido, como, caixas de papelão, jornais, papéis coloridos, etc., pois a sua acidez pode passar para os tecidos, causando manchas e descolorações. Também não devem ser acrescentados materiais que possam influenciar negativamente a peça, como, agrafos, clipes, alfinetes, etiquetas de papel, colas, autocolantes, tintas de caneta, etc.

Quanto ao armazenamento, este pode ser horizontal (caixas, prateleiras, gavetas) ou verticais (pendurados, emoldurados ou em cilindros), a opção depende do tipo de objecto e do espaço disponível para armazenamento. O sistema de armazenamento deverá permitir uma fácil movimentação dos artefactos e a seguranças dos objectos e das pessoas que os manipulam.
1 - Condicionamento em caixas de papel: As caixas de papelão utilizadas necessitam de ser isoladas no seu interior com papel livre de ácidos, como papel de seda neutro ou papel de arroz. O acondicionamento feito em caixas tende a ocupar mais espaço, mas os artefactos ganham um grau maior de apoio e protecção.
2 - Acondicionamento em cilindros: Os tecidos planos, assim como xailes ou lenços, podem ser enrolados em cilindros, evitando dobras e vincos. Os tecidos devem ser enrolado com um outro tecido neutro, pano cru, manta acrílica ou malha hospitalar, e não devem estar apertados ao cilindro.
4 - Acondicionamento em gavetas: As gavetas de alumínio anodizado podem guardar pequenos artefactos, mas estes devem estar colocados firmemente nas gavetas para não serem danificados quando forem abertas ou fechadas.



5 - As indumentárias mais estruturadas e resistentes podem ser armazenadas em cabides
acolchoados, feitos de materiais inertes e ajustáveis, dentro de armários, tomando pouco espaço e facilitando a disponibilidade das peças. Os cabides podem ser acolchoados com enchimento de poliéster, cobertos com musselina fixa por amarração. São materiais de baixo custo e bastante acessível, podendo ser uma óptima sugestão para o acondicionamento de peças que possam ser penduradas, como casacos ou jaquetas.
Peças com corte no viés, deterioradas, feitas em tricô, jamais deverão ser penduradas.





No exterior da embalagem devem constar elementos identificativos do seu interior, permitindo uma fácil localização do objecto pretendido, sem ter necessidade de revolver em demasia as peças armazenadas.

Não nos podemos esquecer, que acima de tudo está a conservação e a preservação das peças e que a sua utilização, manuseamento e exposição também contribuem para a deterioração.

O Traje é um pouco da história que nos pode contar muitas estórias.

Fonte biblográfica: Keese, Alessandra Savassa Gonçalves, in “Conservação Têxtil” – A importância da preservação do património têxtil para a moda – UNISAL 2006