No ano de 1900, a cultura do arroz era, em Portugal, limitada às “terras alagadiças dos vales do Vouga, Mondego, Sado, Mira e Guadiana”. Meio século depois, com o incremento verificado, o seu cultivo é efectuado em múltiplos municípios.
A expansão da cultura do arroz teve lugar por volta de 1909, após se ter elaborado um conjunto de regras para a preparação dos terrenos e da gestão da água, proporcionando assim, o cultivo de diferentes variedades de arroz.
A monda fazia-se com água pelo joelho, às vezes mesmo por cima dele. Daí as mondadeiras andarem descalças e trazerem as saias puxadas bem acima. Passar todo o dia em meio metro de água já fazia parte do quotidiano. O que atemorizava as mondadeiras era quando havia olheirões, zonas do canteiro onde a terra era menos consistente e, ao pisá-la, o corpo se enterrava pelo lodo adentro, ficando-se às vezes com água até ao peito. E depois havia os bichos: as cobras inofensivas mas com fama de malfazejas no imaginário popular, as sanguessugas que se agarravam às pernas, e por isso se usavam os canos, os bazarucos (bichos pretos com turquês que ferravam nos pés) e as camisolas - essas brancas e espalmadas mas que também tinham turquês e não se ficavam atrás na arte de ferrar. Ainda agora, trinta anos passados sobre os tempos em que andavam nos canteiros, as mondadeiras se arrepiam ao falar deste exército de impiedosos inimigos que permanentemente lhes ameaçavam as pernas e os pés.
Iguais riscos corriam os homens que, finda a monda, tratavam de adubar, com amónio, metidos nos canteiros aos dois e aos três, à ilharga uns dos outros, descalços e de calça arregaçada até ao joelho.
Embora mondadeiras por designação, essas mulheres executavam praticamente todos os trabalhos da campanha do arroz, desde a preparação dos viveiros, no fim do Inverno, até à ceifa, pelo Outono dentro. No peito, a força da vida. Na voz, o cantar das mondadeiras.
(Teresa Cavazzini)
(Custódio Mira)
O trajo da mondadeira do arroz: Saia de roda, de ganga ou de riscado, blusa de chita, avental de pano; duas ou três saias de baixo, recortadas, juntas à de cima e pregadas com alfinetes à volta de cada perna; a atar tudo, o nastro, espécie de cinta para ficar bem alto o conjunto; lenço colorido com motivos florais e, por altura do calor, um chapéu de palha por cima; canos nas pernas, geralmente escuros; pés descalços e enegrecidos, os sapatos eram apenas utilizados no caminho de e para o campo; nos braços, manguitos, de cotim ou de restos de meias velhas.
Trajo do homem do campo: usava barrete ou chapéu consoante a estação do ano, no inverno barrete, no verão chapéu, nem todos seguiam esta linha pois alguns só usavam uma peça todo o ano; camisa de algodão escura para não se notar o pó e o sujo, por cima uma camisa de riscado; colete e calças de cotim; ceroula atada em baixo e calças por cima arregaçadas, quando o trabalho era mais agreste despia-se as calças e ficava-se só com as ceroulas; os tamancos serviam só para as deslocações para o trabalho e deste para casa, mas a maioria andava descalça todo o ano, à excepção quando iam à vila.
O homem do campo andava sempre com a roupa e aconchegos preparados para as adversidades do trabalho ou do tempo, o lenço de assoar grande e de cor vermelho, servia também para pôr em redor do pescoço para não entrar pó, ou tapar o nariz e a boca, quando andavam nas eiras; a manta lobeira (ou cobertor de papas) serviam para o homem se resguardar das intempéries, frio, chuva, etc.
Imagens: Rancho Folclórico "Os Camponeses da Raposa" - Almeirim
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