Brincos
Antes
de mais, convém referir que a palavra arrecada constituía um denominador geral
para aquilo a que hoje chamamos brincos, só no final do sec.XIX passaram a
designar um tipo específico de brincos.
Em
todos os tempos e lugares os brincos são, entre os adornos, os de preferência
indeclinável, estando muitas vezes arreigado à superstição, como proteção dos
espíritos malignos.
Quando
uma menina nascia (com cerca de 1 mês) furava-se as orelhas com uma agulha nova
com linha, molhada em azeite para escorregar melhor, e durante algum tempo
(normalmente 7 dias) a linha ficava na orelha até a ferida cicatrizar. Se infetava,
a mãe tratava a ferida com o seu próprio leite até curar.
Os
primeiros brincos (“ais”, “botões” ou “argolinhas”) eram oferta da madrinha de
baptismo juntamente com o vestido. Em caso de fatalidade, as mesmas peças
podiam ser vendidas para comprar a mortalha; o padrinho pagava o caixão. À
medida que a criança crescia, estes brincos eram substituídos por outros
maiores de acordo com os gostos e aspirações da jovem.
Os
novos brincos eram oferecidos pelos pais ou comprados pela própria, com o fruto
das pequenas economias domésticas que iam arrecadando com os anos.
Raras
eram as mulheres que não usavam brincos e estes acompanhavam-nas diariamente, a
sua presença era imprescindível em todos os momentos. Eles simbolizam não só
adornos e ostentação mas também sinal de estabilidade da economia doméstica.
Quando
em luto, retiravam as argolas. O mais frequente era, no caso de não poderem
comprar uns brincos mais adequados de azeviche ou ónix, cozerem uns paninhos
pretos para disfarçar o brilho do ouro.
Por
fim, quando morriam, os brincos que traziam nas orelhas acompanhavam-nas na
tumba. Em algumas regiões eram oferecidos pela família à mulher que fosse
ajudar a vestir o corpo.
A
propósito do ouro costuma-se dizer “para
a missa o que puderdes, para a feira quanto tiverdes”
Se
no Minho as mulheres se vergam com o peso do ouro, o uso dos brincos era
generalizado a todo o país.
Em
Mogadouro (Trás-os-Montes), as mulheres usavam brincos ou arrecadas e na região
de Viseu, como em toda a Beira Alta, aos domingos e dias de festa ou romaria,
as preocupações com o traje eram reforçadas com as arrecadas. As de Coimbra
seguem-lhe o exemplo e as varinas a todas ultrapassam em dias de passeio e
cerimónia.
Na
região da Bairrada as arrecadas assumiam um grande valor tanto ao nível
económico como afetivo-emocional, daí serem muitas vezes condicionadoras na
colocação do lenço de forma a não as ocultar.
A
nazarena também gosta de ouro. O grande brio e aspiração das mulheres do mar é
possuírem brincos, em forma de medalha, com o retrato do marido, dentro de um
aro de ouro. Aparentemente estes brincos seriam desconhecidos noutras regiões,
no entanto, as medalhas com retratos dos maridos ou familiares tiveram em voga
na região setentrional do país, mas usadas ao peito, penduradas nos cordões ou
em fios.
À
medida que caminhamos para Sul os estudos sobre o uso de ouro são raros. No
entanto teriam o mesmo valor económico e afetivo que era atribuído noutras
regiões, embora a quantidade e riqueza fosse menos exuberante.
É
alentejana a seguinte quadra:
Gargantilha, brincos de ouro,
Tudo hei-de mandar vender;
Caiu o meu bem nas sortes,
Soldado não há-de ser.
Tipos
de Brincos
Argolas
– As argolas (outrora também designadas como pensamentos, bichas ou arriéis) constituem
um dos diversos tipos de arrecadas. Definem-se como sendo enfeites, geralmente
em forma de arco, com um gancho, que as mulheres penduram em orifícios abertos
nas orelhas, podendo ser simples, de chapa batida lisa ou ornamentada, de
sanguessuga ou roliça. Conforme a sua forma também eram conhecidas como
africanas, farinheiras (no Alentejo), argolas indianas, de regueifa, de
carretilha, de leque, ou carniceiras, tomando por vezes o nome de uma cidade
“Coimbra” ou “Barcelos”.
Argolas
Carniceiras – também conhecidas como de “Barcelos”,
chamavam-se assim pelo facto de adquiridas pelas mulheres dos talhantes de
Barcelos, pessoas abastadas, que gostavam de ostentar estas argolas grossas. Na
Póvoa de Lanhoso são também conhecidas como Argolas à Marchanta. Existindo
várias variações que vão do liso às com motivos decorativos.
Argola em crescente – O
crescente acentua a grossura central e diminui sensivelmente para as
extremidades. Existindo variações conforme a secção, que pode ser plana,
quadrangular, roliça ou arestada.
Argolas
“Minhotas” – Em termos estruturais, as arrecadas apresentam formas
ligeiramente diversas, variando entre o corpo discoudal, oval ou losangular.
Superiormente a peça é dividida por duas hastes mais ou menos afastadas e profundas,
formando um U, de onde parte a argola de suspensão auricular. Como elemento
decorativo central surgem essencialmente bolotas ou cachos de uvas.
Brincos de chapola, parolos ou de luas - Chamavam-se de
“chapola” por serem feitos em fina chapa de ouro, “parolos” por serem, outrora,
usados pela mulher do campo, designada de “parola” pela citadina. Atualmente,
estes brincos caíram em desuso nas aldeias e procurados pelos habitantes das
cidades. As aldeãs, ao verem-nos, exclamam: “Sume-te diabo! Que brincos
parolos!” Chamam-se de “luas” por terem, quase todos, quartos de lua em relevo
Botões |
Exemplo de botões (Alentejo) |
Exemplo de Botões (Alentejo) |
Botões - Ofertava a madrinha de baptismo, à qual competia dar a mortalha se a menina viesse a “tornar-se anjinho do Senhor”! Por isso - mau grado – se a criancinha morresse vendiam-se os botões para ajudar o custeio do vestido que “levaria para o céu”! Se tal fatalidade não ocorresse, então, à medida que o crescimento dela se ia verificando, os “botões” ou “botõezinhos”, iam sendo trocados. Em algumas regiões tornaram-se o modelo preferido, por serem mais pequenos e menos onerosos.
Brincos à Rainha ou à Vianesa |
Brincos à Rainha ou à Vianesa - À
moda da rainha, de mulher fidalga ou burguesa rica. São brincos muito elegantes
e, ao contrário das arrecadas, são cópias adaptadas dos brincos e laças que
apareceram em Portugal no reinado de D. Maria I.
Estes
brincos eram a ambição de qualquer jovem quando se ia ourar.
Brincos à Rainha (Estes exemplares faziam parte do conjunto de joias privadas da Rainha Dna Amélia) |
Brincos à Rei |
Brincos
à Rei - São muito parecidos com os brincos à Vianesa, mas mais
elegantes, compostos por uma parte superior, uma parte média em forma de laço
(herdeira da laça ou laçada) e uma parte terminal. - não aparece aquela parte
móvel que se encontra ao centro duma das partes dos brincos à rainha. A
designação não significa que eram usados pelos reis, ou fidalgos, mas para se
distinguir dos brincos à rainha.
Brincos de Princesa |
Brincos à Princesa –
traduzem-se numa outra variante dos brincos à rainha.
Brincos com Pedras - Normalmente apresentam pedras azuis ou vermelhas, são curtos ou compridos, com uma pequena franja, onde balançam uns “penduricalhos”. Fazem conjunto com colares, tão em voga nos anos 40, mas que ainda se continuam a usar.
Brincos com pedra |
Brincos com pedras |
Outros tipos de brincos:
Argolas de Sanguessuga |
Argolas Estampadas |
Brincos Barrocos (Póvoa do Varzim) |
Argolas Estampadas |
Argolas de Filigrana |
Brincos com Pedras |
Artigo
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1 comentário:
Gostei deste post sobre brincos portugueses.
Voltarei aqui com mais tempo para aprender mais sobre estas preciosidades.
Isabel
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