O
território hoje ocupado por Portugal foi em tempos remotos bastante ricos em
ouro, cobre e estanho, e chegou a constituir uma das maiores reservas auríferas
da Europa, como referem Plínio e Estrabão.
Com
o declínio do ouro no mediterrâneo, Fenícios e Tartessos (sec.VII a.c.) rumam é
península ibérica, introduzindo técnicas de manufatura e influências
artísticas, nomeadamente a filigrana. No entanto, a filigrana só surgirá na ourivesaria popular a partir do sec.XIX.
Ricardo Severo, José Fortes e Rocha Peixoto estabelecem uma comparação entre os brincos e arrecadas saídos das oficinas do norte com as suas parentes da proto-história, com semelhanças não só na forma como na técnica e decoração, estabelecendo assim uma tradição historiográfica na ourivesaria popular portuguesa que chegaria aos nossos dias.
Com a produção semi-industrial, não mecanizada, mais acessível a uma nova camada da população, lavradores abastados e pequenos comerciantes e industriais, a produção de ourivesaria atingiu maior variedade e importância a partir da 2ª metade do sec.XIX.
O Ouro como
Acessório Popular
Muito
embora existam algumas diferenças pontuais, podemos dizer que a relação do povo
com o ouro é idêntica em todo o país, havendo uma predominância da sua
utilização na ourivesaria feminina.
Ricardo Severo, José Fortes e Rocha Peixoto estabelecem uma comparação entre os brincos e arrecadas saídos das oficinas do norte com as suas parentes da proto-história, com semelhanças não só na forma como na técnica e decoração, estabelecendo assim uma tradição historiográfica na ourivesaria popular portuguesa que chegaria aos nossos dias.
Com a produção semi-industrial, não mecanizada, mais acessível a uma nova camada da população, lavradores abastados e pequenos comerciantes e industriais, a produção de ourivesaria atingiu maior variedade e importância a partir da 2ª metade do sec.XIX.
O Ouro como
Acessório Popular
Muito
embora existam algumas diferenças pontuais, podemos dizer que a relação do povo
com o ouro é idêntica em todo o país, havendo uma predominância da sua
utilização na ourivesaria feminina.
No
entanto, ouro não era só adquirido por gosto, mas também como aforro seguro
para momentos de aflição, principalmente junto de ourives feirantes (vendiam
exclusivamente em feiras) ou ambulantes (deslocavam-se de bicicleta de terra em
terra apregoando o seu produto, oriundos sobretudo de Guimarães e Cantanhede).
Quanto
ao uso de ouro pelas mulheres do povo podemos verificar a existência diferenças
entre as várias regiões, quer de gosto como de quantidade.
Essas
diferenças estão diretamente relacionadas com a capacidade económica da mulher,
sendo o uso de ornamentos em ouro é mais ostentoso a norte que a sul e no
litoral em relação ao interior.
Em
primeiro lugar, verifica-se uma relação direta entre a fertilidade das terras e
a produção de excedentes agrícolas geradores de riqueza monetária. Podemos
efetuar uma comparação entre o Alto Minho Litoral (Viana) e o Alto Minho
Interior (Castro Laboreiro), uma vez que, na região litoral a terra é mais
fértil que nas áreas serranas temos excedentes de produção geradores de riqueza
passível de investimento em ouro.
O
vimaranense António da Costa Miranda (físico e cirurgião), no início do
sec.XVII, dissertando sobre a extraordinária riqueza existente na sua comarca
em taças de ouro e prata, explica que “A
causa porque metem mais fazendas em taças, é porque a terra é muito apertada e
não terem onde meter mais gados do que têm, nem haver herdades na terra em que
se empreguem seus dinheiros”.
Com
base nesta ideia, podemos compreender, por um lado, a existência de relatos no
sec. XIX, sobre a profusão de ouro entre os lavradores e pequenos burgueses
minhotos, e por outro, perceber que nas zonas serranas do Alto Minho,
Trás-os-Montes ou Beira, com pouca terra fértil, o rendimento fosse canalizado
para o gado caprino ou ovino pela abundância de pastagem, em detrimento do
investimento em ouro.
Em
segundo lugar, temos a questão da propriedade da terra. Ser proprietário da
terra, quer a trabalhe ou não, é sinónimo de maior possibilidade de lucro, pois
para os rendeiros o valor da terra significava um compromisso a satisfazer
independentemente dos ganhos.
Em
regiões em que predomina o sistema latifundiário, como no Alentejo, Ribatejo e
Algarve, poucos eram os ganhos para o povo que trabalhava a terra.
Aproveitava-se os rendimentos de uma campanha agrícola sazonal bem-sucedida (apanha
da azeitona, cortiça, plantio do arroz, etc.), ou a venda de algum animal
criado na economia doméstica, altura em que conseguia amealhar uma quantia mais
elevada, para comprar uma peça de ouro.
Podemos
assim concluir que, relativamente às populações agrícolas o uso de ouro como
adorno do traje, com maior ou menor ostentação, é o resultado da existência de
excedentes passíveis da criação de riqueza e de possibilidades de investimento
em algo mais útil para o povo, como terra ou gado.
No
que se refere às populações do litoral a relação da mulher com o ouro é
idêntica. Ele representa status
social e sinónimo de fainas bem-sucedidas, sendo mostrado sobretudo em dias de
festa, sendo muitas vezes empenhado no inverno, altura em que o mar não
permitia a pesca. Assim, o ourives estava muito próximo do penhorista.
(Este artigo terá continuação nos próximos dias)
Sem comentários:
Enviar um comentário