quinta-feira, julho 24, 2008

Gravura de um Almocreve

Neste blog já descrevi o trajo do Almocreve da Estremadura, mas recentemente descobri uma gravura de um grande artista plástico português, que retratou delicadamente um almocreve dessa região – Rafael Bordalo Pinheiro.


O autor do Zé Povinho que se veio a tornar num símbolo do povo português, foi um desenhador e aguarelista, ilustrador português, de obra vasta dispersa por largas dezenas de livros e publicações, precursor do cartaz artístico em Portugal, decorador, caricaturista político e social, jornalista, ceramista e professor.


terça-feira, julho 22, 2008

Os Romeiros da Quaresma – São Miguel - Açores

Na 4ª feira de cinzas dá-se início à Quaresma. Durante as 5 semanas que se seguem é comum ver nas estradas de São Miguel grupos de homens caminhando e rezando em voz alta. Estes peregrinos a que se dá o nome de Romeiros, saem às ruas da ilha todos os anos para reafirmar a sua fé e agradecer a Deus as graças concedidas.

A tradição terá surgidos em 1522, quando a primeira capital de São Miguel, Vila Franca do Campo foi sacudida por um forte tremor de terra. Seguiu-se uma erupção vulcânica em que dos 4.500 habitantes só sobreviveram 500. Quarenta anos mais tarde outro vulcão surgiu no local onde se situa a Lagoa do Fogo.

Desde então há registo de que todos os anos grupos de homens caminham orando à volta da ilha, cumprindo promessas, é sobretudo a rezar que os dias vão passando, rezar e caminhar.

Durante 1 semana estes homens carregam consigo apenas um saco com o essencial e vão pernoitando em igrejas, escolas ou casas de pessoas que se oferecem para receber os Romeiros. Por vezes as casas de folha (palha) são suficientes para passar a noite. Na casa em que são acolhidos é hábito lavarem-lhe os pés doridos.
O “procurador das almas” é quem fica para trás do cortejo, de modo a receber os pedidos de quem passa por eles na estrada. Os “irmãos” rezam, sendo o “mestre” quem sabe quais as orações apropriadas. O “contramestre” segue a meio do cortejo, na companhia do “lembrador das almas”, enquanto à frente os guias marcam o compasso, dão o ritmo de modo a facilitar a caminhada e a torna-la mais agradável a todos. Os irmãos mais pequenos caminham à frente e levam a cruz.

Trazem todos na mão o bordão de madeira e trajam hábitos tradicionais, carregados de simbolismo. Antigamente andavam descalços, actualmente, utilizam calçado mais confortável. O bordão é feito em pinho, à medida de cada irmão, o do mestre destaca-se dos restantes por possuir uma cruz na extremidade. O xaile representa o manto com que cobriram Jesus; o lenço representa a coroa de espinhos; a saca que transportam às costas representa a cruz e o terço é dedicado à Virgem Maria.

Quando regressam à paróquia, as irmandades despedem-se na chamada “despedida da salvação”, uma festa em que participam todos os habitantes da freguesia.

Passaram oito longos dias de caminhada e fé, de companheirismo e oração. Fecha-se o percurso em círculo no sentido dos ponteiros do relógio, como se uma viagem de eterno retorno se trata-se, uma volta à ilha, uma volta ao mundo.

sexta-feira, julho 11, 2008

Serra do Cadeirão - Cortelha - Algarve

O Grupo Etnográfico da Serra do Caldeirão, foi fundado em 2003, na aldeia da Cortelha, em pleno Concelho de Loulé.
O objectivo principal da constituição deste grupo foi a divulgação e o estudo da cultura e etnografia da Serra do Caldeirão, neste momento o grupo é composto por cerca de 60 elementos e representa as danças e cantares do interior algarvio.
No filme que se segue pode-se ver alguns dos seus trajes ao som de um corridinho, mas aconselha-se uma visita ao site da Associação dos Amigos da Cortelha.

segunda-feira, julho 07, 2008

Santa ignorância

Os habituais leitores deste blog sabem que raramente expresso a minha opinião, mas, como dirigia o Dr. Mário Soares, também tenho direito à indignação, senão vejamos:

Desfolhava eu a revista Equitação de Maio/Junho 2008, quando logo no primeiro artigo vejo a imagem que exponho. Já nem consegui ler o artigo, tão abismado que fiquei como o que os meus olhos viam.

O artigo era sobre o Concurso Internacional Oficial de Lisboa, que decorreu no hipódromo do Campo Grande, e ao que parece, uma mente brilhante resolveu dar cor ao desfile dos cavaleiros utilizando como porta estandartes crianças com trajes tradicionais portugueses. Até aqui tudo bem, diria o leitor, não fossem as crianças vestidas por quem é ignorante na matéria (para não chamar asno porque os ditos não têm culpa), e não pensou que o que estava a fazer não seria apenas “para inglês ver”.

Uma organização com 88 anos de existência, que traz a Portugal alguns dos melhores cavaleiros do mundo e que tem a responsabilidade de promover um dos melhores produtos nacionais, o Cavalo Lusitano, devia de ter vergonha da forma jocosa com que trata a etnografia portuguesa.

As meninas que surgem na imagem vestem dois fatos madeirenses (???) de meia vermelha e sapatinho de ir à missa (onde estão as botas ??? e a capa é debaixo do braço ???), o rapazinho veste um trajo …”saloio”??? … de ténis …mas havia mais e tendo em consideração a amostra imagino o tamanho do disparate.

Meus amigos da Sociedade Hípica Portuguesa, e de outras organizações com ideias semelhantes, quando quiserem fazer brilharetes com os verdadeiros, ricos e magníficos trajes tradicionais portugueses solicitem ajuda a quem sabe.

Existem muitos ranchos folclóricos na região de Lisboa e na própria cidade que vos podem dar uma ajuda e aí sim, os ingleses, franceses, argentinos, belgas, brasileiros e portugueses presentes terão um vislumbre do que é verdadeiro e genuíno.

Santa ignorância.