terça-feira, outubro 02, 2007

Trajos da Festa do Divino Espírito Santo – Ilha de São Jorge – Açores

As celebrações em honra do Divino Espírito Santo foram amplamente difundidas por intervenção da Rainha Santa Isabel que lançou as bases do que seria a Congregação do Espírito Santo, movimento de solidariedade cristã que em muitos lugares do reino absorveu as primitivas festas pagãs. O ponto alto das festividades que juntava ricos e pobres sem qualquer distinção ocorria no Domingo de Pentecostes, existindo relatos que referem uma refeição, “bôdo”, dados aos pobres no dia de Espírito Santo.
O espírito de solidariedade e o propósito de partilha fraterna, características desta refeição, dada a todos os necessitados, foram, sem dúvida, contributos fundamentais para a expansão e o enraizamento deste culto popular. No continente, a celebração do Espírito Santo mais conhecida é a Festa dos Tabuleiros em Tomar, mas esta devoção se espalhou pelas Ilhas da Madeira e dos Açores.
No arquipélago dos Açores, o culto do Espírito Santo revestiu-se de formas muito próprias, como erguer os impérios (pequenos edifícios, onde se realiza parte da festa e onde se expõem as insígnias próprias ao Espírito Santo).
No terreiro em frente a cada império tem lugar o “bôdo”, a grande refeição comum, intensamente participada não só pelos residentes locais, como pelos emigrantes que regressam anualmente para celebrar as festividades.
O trajo que de seguida se descreve é usado nos arraiais do Domingo do Divino Espírito Santo e no Domingo da Santíssima Trindade, em todos os impérios da Ilha de São Jorge.
O homem usa o seu trajo domingueiro, sobre este, coloca aos ombros uma toalha de algodão branca com rendas a toda a volta.
A toalha é dobrada de forma especial e sobre ela são colocados ramos de flores de papel, sendo a verdura geralmente natural.
Antigamente o fato era de boa baeta, hoje é de fabrico industrial normal. A camisa deve ser de pano alinhado branco. O colarinho é baixo e as mangas são franzidas nos punhos e fecham com um botão.
Este trajo é usado pelo «cavaleiro» e pelos «passeadores», que vão ao lado da bandeira. Existe também o «trinchante», o homem que está no império ajudando a fazer as ofertas do doce que é depois distribuído por todo o povo. Este serviço é denominado «Serviço da Coroa» e varia de freguesia para freguesia.
Existem lugares em que se colocam flores nas costas do casaco e laços de fita vermelha na toalha.
De realçar a primorosa renda utilizada nas toalhas, executada manualmente por mão hábeis e devotas.

Também às mulheres é atribuido um papel importante nas Festas do Divino Espírito Santo nos Açores. A rapariga que usa este trajo tem como função o transporte das oferendas, mais concretamente, dos bolos de «Véspera».
É composto por uma saia de quatro panos, avermelhada, confeccionado em tecido denominado “fiampua”. A saia possui um cós e uma abertura lateral.
É guarnecida, um pouco acima da baixa, com motivos a ponto de “repasso”. A blusa é de algodão estampado, com peitilho de decote redondo com cós alto, sobreposto pelas frentes e adornado por golas. As mangas são franzidas sobre os ombros e estreitas em baixo, alargando na parte superior. Na cabeça colocam uma toalha rectangular de linho, decorada com renda alta, caindo pendente sobre o tronco. Sobre esta é colocada uma carapuça de baeta azul, orlada a vermelho, com duas rosetas de seda sobre as orelhas.
Calça meias de lã branca e sapatos de sola de correola (espadana) com cortes de baeta bordada a pé-de-flor.
Transporta um pequeno cesto de vime, forrado com uma pequena toalha, onde são colocados os bolos de «Véspera», cozidos pela festa do Espírito Santo, ornamentados com flores naturais.
Referência Bibliográfica: Tomaz Ribas in O Trajo Regional em Portugal, Difel, 2004
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1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei !Eu não sabia nada ,atraves de perquisa para minha filha ficamos sabendo juntas .obrigada márcia vieira