Ansiosos por se destacarem pela diferença, sem critérios nem estudo que o fundamente, alguns grupos folclóricos têm vindo a incluir a típica boina basca na indumentária de alguns dos seus componentes, em regra associando-a a uma forma de vestir que foi utilizada já em pleno século XX. Com efeito, aplica-se a este caos o termo folclórico usualmente empregue como adjectivo que, de uma forma algo pejorativa, pretende designar algo de bizarro.
Perde-se nos tempos a origem da boina basca, designada por txapela em euskera. O registo mais antigo que se conhece data de 1496 e constitui uma gravura da autoria de um viajante alemão que por essa altura contactou aquele povo. Também no Arquivo da Guipuzkoa se guardam baixos-relevos em madeira policromada que remontam a 1600 e documentam o uso da característica boina.
Disse o antropólogo basco Telesforo de Aranzadi que, “a graça da boina está na docilidade de acomodação, sempre que se coloca sobre a cabeça de forma apropriada. A graça e o movimento se exprimem como na estatuária grega, pela interrupção da simetria”. Com efeito, não se concebe o basco sem a sua boina característica.
A boina basca deve a sua difusão sobretudo ao período da Primeira Guerra Mundial, altura que a mesma passou a ser adoptada por forças militares de muitos países e, oficiais de todas as armas passaram a exibi-la, num misto de amuleto e de homenagem ao espírito guerreiro e combativo de um povo que, corria o ano de 778, entrincheirado nas gargantas dos Pirinéus junto a Roncesvalles, ousou infligir uma pesada derrota aos exércitos de Carlos Magno quando este se atreveu a invadir a Península Ibérica. Acto heróico que ficou celebrizado na Canção de Roldão que veio a tornar-se numa das mais conhecidas canções de gesta. Consoante os países, a txapela ou boina basca passou também a ser conhecida por “beret basque”, “barkische mütze” ou “gorra de vasco”, aludindo invariavelmente à sua origem.
A partir de então e sobretudo após a guerra civil de Espanha, também entre nós se tornou popular, passando a ser ostentada pela gente simples do povo, sobretudo em regiões mais a norte, constituindo um acessório bastante preferido nomeadamente dos galegos e dos minhotos que em Lisboa eram carvoeiros e taberneiros, distinguindo-se claramente no seu modo de vestir. Sob diferentes cores menos convencionais, ao jeito burguês da época, a boina veio posteriormente a ser adoptada pelo público feminino. Porém, a txapela basca jamais fez parte do traje tradicional das gentes minhotas ou representou algum tipo social à época do século XIX pelo que, a introdução desse elemento constitui mais uma bizarria que apenas resultou da imaginação fértil de alguns responsáveis por determinados grupos folclóricos.
Uma vez mais se comprova que a representação que é feita por alguns “folclóricos” não é sustentada por uma trabalho de pesquisa, recolha e análise prévia mas apenas movida pelo impulso e a vontade de surpreender e impressionar na ânsia de cativar o público a qualquer custo, qual feirante que vende um lote de cobertores ao irrisório preço de um apenas. Mas, o folclore tem de passar a ser encarado de uma forma algo séria que exige estudo apurado e rigor científico sob pena de descredibilizar-se!
Autor: Carlos Gomes
Bibliografia: MENDIZABAL, I. Lopez. Breve História del País Vasco. Editorial Vasca EKIN. Buenos Aires. 1945
Perde-se nos tempos a origem da boina basca, designada por txapela em euskera. O registo mais antigo que se conhece data de 1496 e constitui uma gravura da autoria de um viajante alemão que por essa altura contactou aquele povo. Também no Arquivo da Guipuzkoa se guardam baixos-relevos em madeira policromada que remontam a 1600 e documentam o uso da característica boina.
Disse o antropólogo basco Telesforo de Aranzadi que, “a graça da boina está na docilidade de acomodação, sempre que se coloca sobre a cabeça de forma apropriada. A graça e o movimento se exprimem como na estatuária grega, pela interrupção da simetria”. Com efeito, não se concebe o basco sem a sua boina característica.
A boina basca deve a sua difusão sobretudo ao período da Primeira Guerra Mundial, altura que a mesma passou a ser adoptada por forças militares de muitos países e, oficiais de todas as armas passaram a exibi-la, num misto de amuleto e de homenagem ao espírito guerreiro e combativo de um povo que, corria o ano de 778, entrincheirado nas gargantas dos Pirinéus junto a Roncesvalles, ousou infligir uma pesada derrota aos exércitos de Carlos Magno quando este se atreveu a invadir a Península Ibérica. Acto heróico que ficou celebrizado na Canção de Roldão que veio a tornar-se numa das mais conhecidas canções de gesta. Consoante os países, a txapela ou boina basca passou também a ser conhecida por “beret basque”, “barkische mütze” ou “gorra de vasco”, aludindo invariavelmente à sua origem.
A partir de então e sobretudo após a guerra civil de Espanha, também entre nós se tornou popular, passando a ser ostentada pela gente simples do povo, sobretudo em regiões mais a norte, constituindo um acessório bastante preferido nomeadamente dos galegos e dos minhotos que em Lisboa eram carvoeiros e taberneiros, distinguindo-se claramente no seu modo de vestir. Sob diferentes cores menos convencionais, ao jeito burguês da época, a boina veio posteriormente a ser adoptada pelo público feminino. Porém, a txapela basca jamais fez parte do traje tradicional das gentes minhotas ou representou algum tipo social à época do século XIX pelo que, a introdução desse elemento constitui mais uma bizarria que apenas resultou da imaginação fértil de alguns responsáveis por determinados grupos folclóricos.
Uma vez mais se comprova que a representação que é feita por alguns “folclóricos” não é sustentada por uma trabalho de pesquisa, recolha e análise prévia mas apenas movida pelo impulso e a vontade de surpreender e impressionar na ânsia de cativar o público a qualquer custo, qual feirante que vende um lote de cobertores ao irrisório preço de um apenas. Mas, o folclore tem de passar a ser encarado de uma forma algo séria que exige estudo apurado e rigor científico sob pena de descredibilizar-se!
Autor: Carlos Gomes
Bibliografia: MENDIZABAL, I. Lopez. Breve História del País Vasco. Editorial Vasca EKIN. Buenos Aires. 1945
Fonte: Portal do Folclore Português
2 comentários:
O seu blog é fantástico! Uma recolha impressionante de trajes e, pelo que vi, muito rigorosa. Parabéns.
Se entendermos o folclore como o saber de um povo, sabendo que a gorra basca, ou muitas vezes conhecida apenas como gorra espanhola, fez parte do vestir de um povo nomeadamente no Minho (nfluência da Galiza) porque não usá-la? Afinal havia alguém que assim se vestia naqueles tempos...não era "nossa", é verdade, mas foi usada por "nós" e como tal passou também a fazer parte da nossa história. Por este motivo parece-me muito pertinente que faça parte dos trajes...e assim conta a história do trajar do povo...
Esta é a minha opinião, apesar de não saber em concreto a que situação se refere no blog mas se o seu uso for sustentado em pesquisa, quer bibliográfica, quer através do magnífico saber do povo a que felizmente ainda hoje podemos aceder pois ainda há muita gente com 80 e muitos e 90 e tal anos que nos podem contar recordações da sua juventude e saberes transmitidos dos seus pais e avós.
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