sábado, setembro 15, 2012

A Peixeira de Lisboa

Descreve assim Júlio César Machado, na obra Álbum de Costumes Portugueses, “A Peixeira de Lisboa”:

A que está de cócaras é a representante da peixeira antiga; varina velha, de trajo alheio às caprichosas modas do dia … Na cabeça, lenço amarelo; no pescoço, lenço encarnado; colete atacado com cordão, pela frente, cinta azul, chapéu de Braga, saia de droga de lã mais rapada que cilício.

A outra, a bonita, é das que se avistam no mercado novo em noite de S. Pedro, festa de peixeira rara – rara avis … piscaria rara – porque sejam peixeiras o que lá haja menos.

Dormem sobre esteiras, em casas que alojam quatro e cinco casais, casas boas, Às vezes, de dezoito e vinte moedas de renda; ou em lojas sombrias e húmidas.

Vão aos ranchos, de madrugada, para a Ribeira, arrebatar o peixe dos leilões.
(…)
Enquanto pequenas, carregam o peixe miúdo, e, mais tarde, ninguém como elas para o segredo, que parece nada e para a venda é tudo, de dispor o peixe na canastra.
(…)
Mal disposto à vista, o peixe, pode, em vez de atrair as atenções, afastá-las e dar motivo a que se retraiam, dando assim em ficar com o pior defeito de um alimento, enjoar – antes de ser comido!
(…)
O peixe por cá é um amor, e elas, não só cuidam dele à maravilha, mas escolhem-o como sabedoras escrupulosas;
(…)
Agradam, estas raparigas, tais quais são; é o caso. Olhar fatigado das grandes lojas obrigadas a mármore, espelhos e oiro, descansa, quando contempla os lugares da Ribeira; assim, depois de ver senhoras, há quem não desgoste de ver peixeiras …

Fonte: Júlio César Machado, in, Álbum de Costumes Portugueses, edição Perspectivas & Realidades
Gravura: Aguarela de autor desconhecido

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