O calçado artesanal faz parte das raízes do nosso país. O seu processo de execução é longo e complexo. O esforço, tempo e recursos empreendidos no seu fabrico justificam, inteiramente, o valor monetário que lhe é atribuído.
Transversal a classes etárias, sociais ou económicas, parece ser mais solicitado nas zonas rurais onde, amiúde, é utilizado na realização das tarefas agrícolas.
A produção de calçado tradicional tem conseguido fugir à tentativa de uniformização registada em quase todos os quadrantes da nossa sociedade. Esta actividade distingue-se sobretudo pelo facto dos seus artigos serem confeccionados, quase totalmente, à mão. As máquinas são pouco muito utilizadas e quando há necessidade de recorrer a elas é porque o processo de execução obriga a que assim seja. Outra das características do fabrico artesanal de calçado diz respeito às matérias-primas usadas. As peles, por exemplo, são curtidas de acordo com os métodos tradicionais, sem recorrer a produtos químicos. Como este tipo de artigos é efectuado manualmente, o tempo gasto na sua produção é muito superior em relação ao da manufactura em série. Este facto reflecte-se, como é óbvio, na diferença dos valores monetários atribuídos a ambos.
Produzidos um a um, a qualidade daqueles exemplares é facilmente observável em pequenos pormenores como remates e ponteados. No que diz respeito à rentabilidade, a sua vida útil é bastante mais longa do que a dos seus concorrentes. Aquilo que para os menos entendidos poderá parecer como uma desadequação em relação aos ícones ou tendências da moda, é na realidade o respeito pela tradição.
Os artesãos responsáveis pela execução deste género de calçado insistem em manter-se fiéis aos modelos tradicionais, preferindo não adulterar as características dos mesmos. A produção estandardizada acabou com a personalização dos números.
Contudo, nas oficinas de calçado tradicional ainda continua a ser prática comum o tirar das medidas ao cliente. Algumas destas casas chegam mesmo a guardar estas informações precavendo um eventual regresso daquele.
Ainda que existam registos desta actividade um pouco por todo o país, as regiões do Ribatejo e Alentejo ganharam, de alguns anos para cá, um lugar de destaque.
Técnicas de produção
Corte da pele: o início de uma peça de calçado é sempre precedido pelo tirar das medidas do cliente. As várias partes do botim são cortadas segundo um molde. Depois desta operação, dever-se-á conferir forma à floreta.
Este procedimento é realizado na vergadeira. Aquela ganha o formato pretendido graças ao calor libertado por esta máquina;
Ajuntadeira: operação que consiste em juntar as diferentes partes que constituem o botim para possam ser cosidas umas às outras. A sua união é efectuada com a ajuda da máquina de costura;
Pregar o botim à forma: já com o botim cosido, o artesão coloca uma forma no seu interior para ele possa ganhar a configuração pretendida. Depois começa a aplicar pequenos pregos de maneira a prender aqueles dois.
Estes são colocados em redor de todo o botim. Durante a operação, o artesão tem o cuidado de puxar bastante a pele, com a ajuda da turquês, para que esta fique bem justa à forma. Concluída a aplicação dos pregos, estes são endireitados. Em seguida, elimina-se o excesso de pele com uma faca de sapateiro;
Execução das viras: estas são elaboradas a partir de uma tira estreita de couro. Posteriormente, são desbastadas e amaciadas;
Palmilhar: operação que consiste em coser a palmilha, o forro, a vira e o próprio botim. Todos estes elementos são cosidos uns aos outros com a ajuda da sovela e do fio de nylon. Este último é passado por cera para deslizar melhor. À medida que o botim vai sendo palmilhado, o artesão vai retirando os pregos existentes com a turquês;
Bater a vira: depois de cosida, esta deve ser batida e endireitada com um martelo e uma picota. O artesão deve retirar o seu excesso com a faca de sapateiro;
Elaboração dos enxumentos: estes destinam-se a reforçar o botim. Elaborados a partir de couro um pouco mais grosso, são aplicados com cola nas duas extremidades daquele. Antes de serem colocados, devem ser desbastados com a ajuda da faca de sapateiro;
Pregar a sola ao botim: as duas partes são unidas entre si com a ajuda de alguns pregos. Deve proceder-se ao corte da parede lateral da sola, para que os pontos efectuados com a sovela fiquem alojados no seu interior. Terminado o ponteado, a ranhura é fechada e colada. À medida que vão sendo cosidas, o artesão vai removendo os pregos colocados anteriormente;
Acabamento: esta fase inclui a aplicação do salto no botim. Este é constituído por duas entrecapas e uma capa de borracha. Depois de concluído, aquele leva também ilhós, correias (ou atacadores) e sebo.
Transversal a classes etárias, sociais ou económicas, parece ser mais solicitado nas zonas rurais onde, amiúde, é utilizado na realização das tarefas agrícolas.
A produção de calçado tradicional tem conseguido fugir à tentativa de uniformização registada em quase todos os quadrantes da nossa sociedade. Esta actividade distingue-se sobretudo pelo facto dos seus artigos serem confeccionados, quase totalmente, à mão. As máquinas são pouco muito utilizadas e quando há necessidade de recorrer a elas é porque o processo de execução obriga a que assim seja. Outra das características do fabrico artesanal de calçado diz respeito às matérias-primas usadas. As peles, por exemplo, são curtidas de acordo com os métodos tradicionais, sem recorrer a produtos químicos. Como este tipo de artigos é efectuado manualmente, o tempo gasto na sua produção é muito superior em relação ao da manufactura em série. Este facto reflecte-se, como é óbvio, na diferença dos valores monetários atribuídos a ambos.
Produzidos um a um, a qualidade daqueles exemplares é facilmente observável em pequenos pormenores como remates e ponteados. No que diz respeito à rentabilidade, a sua vida útil é bastante mais longa do que a dos seus concorrentes. Aquilo que para os menos entendidos poderá parecer como uma desadequação em relação aos ícones ou tendências da moda, é na realidade o respeito pela tradição.
Os artesãos responsáveis pela execução deste género de calçado insistem em manter-se fiéis aos modelos tradicionais, preferindo não adulterar as características dos mesmos. A produção estandardizada acabou com a personalização dos números.
Contudo, nas oficinas de calçado tradicional ainda continua a ser prática comum o tirar das medidas ao cliente. Algumas destas casas chegam mesmo a guardar estas informações precavendo um eventual regresso daquele.
Ainda que existam registos desta actividade um pouco por todo o país, as regiões do Ribatejo e Alentejo ganharam, de alguns anos para cá, um lugar de destaque.
Técnicas de produção
Corte da pele: o início de uma peça de calçado é sempre precedido pelo tirar das medidas do cliente. As várias partes do botim são cortadas segundo um molde. Depois desta operação, dever-se-á conferir forma à floreta.
Este procedimento é realizado na vergadeira. Aquela ganha o formato pretendido graças ao calor libertado por esta máquina;
Ajuntadeira: operação que consiste em juntar as diferentes partes que constituem o botim para possam ser cosidas umas às outras. A sua união é efectuada com a ajuda da máquina de costura;
Pregar o botim à forma: já com o botim cosido, o artesão coloca uma forma no seu interior para ele possa ganhar a configuração pretendida. Depois começa a aplicar pequenos pregos de maneira a prender aqueles dois.
Estes são colocados em redor de todo o botim. Durante a operação, o artesão tem o cuidado de puxar bastante a pele, com a ajuda da turquês, para que esta fique bem justa à forma. Concluída a aplicação dos pregos, estes são endireitados. Em seguida, elimina-se o excesso de pele com uma faca de sapateiro;
Execução das viras: estas são elaboradas a partir de uma tira estreita de couro. Posteriormente, são desbastadas e amaciadas;
Palmilhar: operação que consiste em coser a palmilha, o forro, a vira e o próprio botim. Todos estes elementos são cosidos uns aos outros com a ajuda da sovela e do fio de nylon. Este último é passado por cera para deslizar melhor. À medida que o botim vai sendo palmilhado, o artesão vai retirando os pregos existentes com a turquês;
Bater a vira: depois de cosida, esta deve ser batida e endireitada com um martelo e uma picota. O artesão deve retirar o seu excesso com a faca de sapateiro;
Elaboração dos enxumentos: estes destinam-se a reforçar o botim. Elaborados a partir de couro um pouco mais grosso, são aplicados com cola nas duas extremidades daquele. Antes de serem colocados, devem ser desbastados com a ajuda da faca de sapateiro;
Pregar a sola ao botim: as duas partes são unidas entre si com a ajuda de alguns pregos. Deve proceder-se ao corte da parede lateral da sola, para que os pontos efectuados com a sovela fiquem alojados no seu interior. Terminado o ponteado, a ranhura é fechada e colada. À medida que vão sendo cosidas, o artesão vai removendo os pregos colocados anteriormente;
Acabamento: esta fase inclui a aplicação do salto no botim. Este é constituído por duas entrecapas e uma capa de borracha. Depois de concluído, aquele leva também ilhós, correias (ou atacadores) e sebo.
1 comentário:
Boa tarde
Espectacular este post tão português.
O meu pai sabia fazer e consertar sapatos, pai, meu avô também sabia e por sua vez o pai do meu avô também. Tenho ainda a última forma de sapateiro comprada pelo meu pai, na feira da Luz em Lisboa, depois de se ter partido uma anterior.
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