sexta-feira, setembro 29, 2006

Trajes da Ilha da Madeira

A origem e a evolução do traje da Madeira é alvo de muitas especulações. Pensa-se que teve influências várias, quer nacionais, quer estrangeiras, nomeadamente minhotas, mouriscas, africanas e da Flandres. Existem diferentes trajes, sendo a distinção evidenciada pela região de origem, já que os microclimas existentes na ilha determinavam o tipo de vestuário.
No Funchal, em Machico e Santa Cruz, existia um tipo definido de vestuário feminino onde predomina a cor vermelha. A saia era de lã, de cor única ou listada, colete ou corpete vermelhos e uma carapuça azul completava esta indumentária. Na Ponta do Sol as mulheres usavam capas, sendo de cor vermelha para as casadas e solteiras e azuis para as viúvas.
Nas regiões altas, como na Ribeira Brava a forma de vestir era bem diferente. As raparigas usam saia preta com listas vermelhas ou pretas e amarelas, blusa branca, tipo polaca guarnecida de rendas e lenço vermelho. Uma saia igual é colocada aos ombros, servindo de capa. Usam também saia de lã de ovelha tingida de vermelho com listas horizontais ou de lã preta, igualmente com listas horizontais, típicas da freguesia da Serra d'Água. Vestiam saia e capa de bicos de baeta azul, características das zonas mais baixas, quando vinham à missa ao domingo. Por vezes utilizavam a saia ao contrário quando estavam em casa, voltando-a para o lado direito quando saíam. Também a maneira de vestir era distinta em relação ao seu estado civil. A mulher casada usava saia e capa de cor negra, listada a vermelho e complementada com um avental multicolor.
Ao longo dos anos o traje masculino não sofreu muitas alterações. Usavam calção branco com franzido sobre o joelho (com elástico ou com cós); a camisa de pregas, sendo o seu número muito variável, e podiam ser bordadas ou não. Nos últimos tempos era usada uma faixa do mesmo linho do calção, com as pontas franjadas e chegando à curva da perna. No entanto, este adorno era usado apenas pelos servidores de casas ricas.
Os homens das zonas serranas usavam o jaleco e calças de seriguilha castanha para o trabalho. Para a missa as calças, o colete ou o casaco eram de seriguilha preta. A camisa era de estopa para o trabalho e de linho fino para a missa. Na cabeça usavam barrete de lã de ovelha, branca ou castanha.
Tanto os homens como mulheres usavam botas, chamadas botachas ou bota-chã e eram feitas de pele de vaca curtida. A parte superior da bota era virada para fora e descia até ao tornozelo, sendo enfeitada com uma fita vermelha.

terça-feira, setembro 19, 2006

Traje Português de Equitação – Masculino


Montar a cavalo sempre influenciou o traje do homem. A necessidade da adaptação a uma determinada função levou o traje de equitação a adquirir de características específicas.

O traje masculino de equitação português é o resultado de uma evolução natural da forma de vestir, sofrendo influências externas, muito à semelhança dos nossos dias. No entanto, essa evolução foi lenta, já que não haviam os modernos meios de informação e as novidades levavam tempo a chegar às populações, mesmo as mais cosmopolitas ou abastadas.

Muito embora existam noutras regiões trajes semelhantes, é no Ribatejo que encontramos a origem do que hoje denominamos Traje Português de Equitação. A forte tradição equestre desta região permite dizer que o traje de equitação português deriva directamente do traje de lavrador ribatejano.

A principal característica deste traje é a jaqueta. Trata-se de um casaco curto aflorando a linha da cintura e terminando um pouco abaixo desta. É frequentemente mais curta nas costas que à frente. Na cintura o corte das costas é a direito, distinguindo-se da jaqueta espanhola por este pormenor, já que nesta o corte é arqueado. A jaqueta da imagem apresenta uma gola de dois bicos, que a par com a de romeira são os modelos mais apreciados. Mas existem outros modelos, de rebuço, de tira, de jaquetão ou mesmo sem gola. É normalmente adornada com botões ou alamares. Os alamares podem ser de prata ou de seda e os botões são normalmente de material sintético, mas também podem ser de vidro, osso, chifre, madeira, metal, prata ou forrados de tecido. A jaqueta possui ainda dois bolsos na vertical e as mangas são adornadas com botões na diagonal.
Para proteger dos rigores do Inverno usava-se o capote, a samarra ou uma jaqueta de abafo. Esta difere da anterior por ser confeccionada em tecido grosso e quente e a gola frequentemente forrada de veludo ou enriquecido com pele de borrego ou raposa.

A calça, de cós alto e cintado ajustando nas costas com atilho, é justa até ao joelho, seguindo com a mesma largura até aos pés de modo a permitir o uso de botas de prateleira.

O colete de decote em V prenunciado, de forma a mostrar a camisa, tem cavas largas e quatro bolsos formando um acentuado bico na frente, o qual ultrapassa a linha da jaqueta. O colete pode também possuir uma gola ou banda e ser abotoado com uma ou duas linhas de botões.

À cintura usa uma cinta de merino negra, ceda ou cetim, com a franja a pender para o lado esquerdo, que aperta até ao diafragma, procurando ajudar a uma postura correcta e elegante no galope. Devem ser evitadas a faixas de cetim apertadas com colchetes, pois perdem a sua função principal, a de protecção da região lombar do cavaleiro. Absolutamente interdito é o uso do lenço colorido usual no traje andaluz.

A camisa é branca e comprida, de tecido fino.
A carcela é enfeitada com folhos do mesmo tecido ou de renda. O peito pode ser adornado por nervuras ou pregas. Muitas vezes os adornos preenchem uma parte do peito, o peitilho, a única zona visível entre as bandas do colete. O colarinho é pequeno, não ultrapassando a altura do cós da gola e podem terminar em redondo ou em bico, sendo fixado por molas ao cós. Fecha-se o colarinho com botões simples ou abotoaduras duplas de madrepérola, ouro ou prata. As mangas são largas e folgadas, terminando em punho simples ou duplo e são fechadas com abotoaduras.

Esta indumentária é acompanhada por um chapéu de aba larga, à portuguesa, muitas vezes confundido com o chapéu espanhol (à Mazzantini). No entanto, o chapéu português possui a aba larga com virola e copa redonda convexa. A fita que cerca a copa fecha em laço, sem botões. Pode ser preto, cinzento ou castanho.

Uma variante no traje de equitação é o uso de calções. A utilização dos calções como peça de vestuário permaneceu em Portugal até meados do Sec.XIX, enquanto que no resto da Europa foi desaparecendo após a Revolução Francesa. Muitas vezes eram complementados com plainitos.
Como traje de equitação os calções continuaram em uso, sendo parte integrante do trajo do campino, em baeta azul adornado com botões metálicos, reminiscência do uso de alçapão, meia alta e sapato. Nos restantes cavaleiros é vestido com meia branca até ao joelho, sobressaindo acima da bota de cano alto modelo napoleónico. Frequentemente, são da mesma cor da jaqueta ou mesmo mais claros.
Quanto à cor, o traje português de equitação deve ser sóbrio, preto, cinzento ou castanho. Como traje de equitação, completa-se com o uso de luvas de pele.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Capa de Honra de Miranda do Douro



Capa de Honra, essa peça de corte erudito, a mais nobre peça do Traje popular cuja confecção se chegaram a gastar 60 dias. Seria ela usada quase exclusivamente por pessoas com um nível de vida económico e favorável. Teremos de concordar que uma Capa de Honra é não só uma das peças mais nobres do Traje português como também uma das mais ricas e dispendiosas.
A amplitude da capa de honras indica uma razoável capacidade económica do seu utilizador para a poder mandar fazer ou adquirir, uma vez que esta peça necessita de 10 metros de burel (tecido de lã pisoado).

Estamos perante um dos trajes regionais mais ricos.

Do decote nasce a capa, a sobrecapa e o capuz.
A capa é comprida e ampla, cortada em viés, aberta na frente. A sobrecapa desce até à zona do cotovelo sendo toda bordada e pespontada. Termina em franjas largas. O capuz, com capeto, inteiramente bordado, termina numa larga faixa, denominada Honra, cujo tamanho é representativo da riqueza e importância do utilizador. Esta também é bordada e pespontada, rematada com uma franja.
A Capa de Honra era também usada pelos boieiros, que a utilizavam não só como protecção do frio e da chuva, mas também para se deitarem sobre ela enquanto andavam nas suas fainas, qualquer pessoa possuía a matéria prima para a confeccionar - o Burel - e o labor do alfaiate era muitas vezes, compensado em géneros ou jornas. Estas capas eram menos trabalhadas, menos bonitas, menos perfeitas, menos cuidadas, pois passou a ser uma peça de uso quotidiano - passando a Capa de Honra a ser simultaneamente traje de trabalho e de festa, conferindo-lhe um duplo sentido de dever e da honra.

segunda-feira, setembro 11, 2006

A Coroça – Beiras e Trás-os-Montes



A coroça é constituída por uma capa e uma sobrecapa executadas em palha, utilizando técnicas de cestaria. Não tinha como função agasalhar, mas deixar escorrer a chuva e a neve, impedindo que a humidade passasse para a roupa do seu utilizador, normalmente, pastores, que passavam longos períodos nas serras a apascentar o gado das aldeias.
A sua utilidade prática levava a que tanto fosse utilizado por homens como por mulheres.
Este traje perdurou até aos nossos dias, já que a sua confecção é rápida, fácil e barata.
A sua origem remonta ao neolítico, em que o homem utilizava a fibras vegetais para se vestir e para isolar, por camadas, os telhados das suas cabanas. A sua eficácia fez com que resistisse à influência de culturas e civilizações.
A caroça é composta por cabeção e «saia» de junco, dispostos paralelamente no sentido longitudinal, ligando entre si por um fio entrelaçado.
Por vezes, o homem utilizava polainicos, enrolados nas pernas, feitos do mesmo material e interligados com as restantes peças.
Compõem este traje, chapéu de feltro preto e tamancos de couro de cor natural com sola e alto de madeira.
Existem ainda alguns modelos em que a caroça tem a forma de uma capa com capuz, apoiando-se directamente sobre a cabeça do seu utilizador.