A CROÇA II
Na construção do cabeção da croça, os dedos do sr. Constantino lidam,
simultaneamente, com quatro conjuntos de juncos. Dois são mais delgados; os
outros dois mais grossos. Os mais delgados são os juncos que originaram o botão
da croça e que, no entrançar dos dois conjuntos mais grossos, funcionam como as
cordas que os prendem. Os conjuntos mais grossos, aos quais chamarei medas,
vão sendo entrançados nas cordas e formarão a primeira camada ou carreira da
croça; aquela que é mais longa e que deverá proteger os ombros de quem a usa.
Os dedos sábios do sr. Constantino, neste processo de articulação entre as
duas cordas e as duas medas, torcem, apertam e entrançam juncos do botão até à
casa.
Se foi difícil colocar por palavras os gestos inerentes ao moldar do botão
da croça, desta vez, o desafio é ainda maior! É preciso rever e rever as mais
de 300 fotografias que tirei em pouco mais de uma hora. E há muitas dúvidas que
subsistem, apesar do sr. Constantino me ter permitido fazer algumas operações.
Acho que vou ter de fazer várias experiências até interiorizar todo o processo.
As duas cordas de junco, logo após o botão ter sido formado, recebem a
primeira meda de juncos. O sr. Constantino tem as mãos treinadas. Não conta os
juncos de cada vez que introduz uma nova meda no entrançado das cordas. Nas
pontas dos dedos, sente que aquela é a grossura adequada. Não vale a pena
contá-los, pois há juncos mais grossos e juncos mais finos.
Cada meda é dobrada ao meio e o centro é marcado pelas duas cordas que vão
torcendo uma sobre a outra e sobre cada meda. Uma parte de cada meda fica para
dentro; formará o forro da croça e não será penteada. A outra a parte, a que
fica para fora da croça, é aquela que será penteada quando já todas as camadas
tiverem sido montadas.
A extremidade de cada meda que corresponde à base do junco, é aquela que
fica voltada para o exterior. A outra extremidade, a que corresponde à flor do
junco, fica voltada para o interior.
Na segunda imagem pode ver-se o sr. Constantino apontando com o indicador
da mão direita para a última meda que acrescentou. Sobre esta meda está já
torcida uma das duas cordas (em frente ao polegar da mão esquerda está essa corda).
E ao lado do polegar está a meda que foi presa anteriormente.
Qual é, então, a sequência de gestos e de cordas e medas? Coloca-se uma
meda nova medindo o comprimento que a mesma deve ter na parte exterior da croça
com a ajuda da meda que foi entrançada no ponto anterior. De seguida, retiram-se as cascas que alguns dos juncos possam ainda ter
na sua base.
Ao se colocar uma nova meda, passam-se as duas cordas sobre a mesma.
Primeiro a corda da esquerda e, sobre esta, a corda da direita, torcendo-se as
cordas nesse movimento. De seguida, puxa-se a meda anterior para baixo,
passando-a por cima da última meda a ser incluída, e torcendo-a sobre as duas
cordas. E assim sucessivamente. Dito assim, parece fácil. Mas quando se vê pela
primeira vez e não se experimenta parece tudo muito complicado.
Na imagem seguinte veem-se claramente as duas cordas de juncos:
correspondem aos dois conjuntos de juncos que se situam mais à esquerda da
fotografia. No meio de ambos está a meda que acabou de ser torcida para baixo.
O gesto seguinte será o de adicionar uma nova meda. E a próxima meda a ser
torcida para baixo será a que se vê nesta mesma imagem, com os diversos juncos
direcionados para o canto superior direito.
O cabeção tem de ter um número ímpar de pontos. A contagem é feita com
regularidade para se ir confirmando o número de pontos já feitos. Estas croças
que estão a ser feitas pelo sr. Constantino têm 51 pontos. Não é obrigatório,
contudo, que tenham esse número de pontos. Apenas que seja um número ímpar.
Deste modo, para cada lado ficarão 25 pontos e o ponto 26, achado a partir de
cada extremidade, é o ponto que marca o meio. É essencial para depois se
colocar a tira que funcionará como o cabide da croça.
Quando os 51 pontos estão feitos, então, torcem-se as duas cordas sobre si
mesmas e uma sobre a outra um número de vezes suficiente para se poder fazer a
casa para o botão da croça. Refira-se, igualmente, que à medida que os juncos
que formam as cordas se vão esgotando, há que juntar novos juncos. Faz-se esse
acrescento deixando sempre uma ponta de fora que, terminado o trabalho, se
cortará.
A casa do botão faz-se torcendo a corda, formada pelas duas cordas, sobre
si mesma. De seguida, as duas cordas vão começar a entrançar-se sobre as medas
que foram colocadas anteriormente.
O objetivo é que cada meda fique no meio das duas cordas, tal como se pode
ver nas duas imagens seguintes. Em cada meda, faz-se passar a corda da direita
por cima e, por cima desta, a corda da esquerda, torcendo-se cada corda sobre
si mesma. A meda seguinte passa por cima da última corda que foi utilizada. E
assim sucessivamente por cada meda que se vai apanhando.
O próximo passo será perceber como se fazem as tranças que constituem a
segurança da croça. E como se acrescentam pontos de carreira para carreira de
modo a que a croça ganhe amplitude.
Sem comentários:
Enviar um comentário