Na região saloia,
existiu uma peça da indumentária feminina cuja reminiscência só nos chega
através de vários relatos e imagens pictóricas de viajantes portugueses e
estrangeiros que debandaram estas bandas, a “carapuça”, pois, ao que tudo
indica, não terá subsistido qualquer exemplar até aos nossos dias.
Guilherme Felgueiras
descreve a saloia dos finais sec. XVIII/início sec. XIX da seguinte forma:
Entre 1790 e 1826 era
ver a saloia pelas ruas de Lisboa vendendo queijos, ovos, galinhas e primores
dos hortejos e pomares. Veste saia de seriguilha, pouco rodada e curta, de cor
fulva (cor avermelhada/mogno) e barra escarlate, que sofraldava em refegos e
arrepenhos para melhor se acomodar nos albardões dos pacientes jumentos que a
conduzia até à cidade.
Cingida ao corpo, a
modelar-lhe o busto e a soerguer-lhe os seios firmes, a vasquinha, de tons
flamantes, púrpura ou alaranjado, com bandas de cetim azul-pavão, toda fechada
até ao pescoço; mangas terminando a 2/3 do braço, botões nos punhos e peito.
De inverno usa mantéu
de baetão verde, de rebuço e sem pregas, tendo como atavio o debrum carmesim.
Calça botas de cano alto, de cabedal escuro, ou de coiro atanado, grosseiro e
crespo.
Saloios na Estrada - Alfredo Roque Gameiro |
Mas o mais bizarro
deste trajo era a “carapuça”. Espécie de gorra alta, afunilada, ligeiramente
recurva para diante e adornada na frente com tecido de cor garrida. Era calcada
com um lenço branco, por sua vez sobreposto por um outro lenço de cabeça. A
saloia aconchegava-o à cara, apertando-o a meio, dobrava-o na diagonal e
atava-o graciosamente sob o queixo, em duas laçadas pendentes.
Fonte: Guilherme
Felgueiras – Dois originais complementos do trajo saloio oitocentista (A
“carapuça” da aldeã e a “cartola” do campesino) – Colóquio sobre Folclore, Lisboa, 1978.
1 comentário:
Boa Tarde Sr. Carlos Cardoso.
Gostei muito deste artigo. Será possivél indicar a fonte da imagem: Saloios na Estrada - Alfredo Roque Gameiro?
Gostaria de ter esta imagem, pois sou antropólogo e tenho interesse especial nesta area.
Cordialmente
Augusto Cordeiro
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