quarta-feira, agosto 10, 2011

Superstições com o vestuário

A nudez favorece a irradiação da força mágica, que reside no homem, e ao mesmo tempo fá-lo mais sensível a forças exteriores (Handw., IV, 514).
No concelho de Vila Velha de Ródão, freguesia do Fratel, e também em Oliveira do Hospital, Travanca de Lagos, Andorinha, dizem que os cães não ladram aos homens nus e que os ladrões se aproveitam disso.
Na Beira Alta, quando as mulheres cosem botões em roupas que as pessoas tenham vestidas, dizem: «Não coso vivo nem coso morto, coso o vestido porque está roto.»
Quando se cose e a linha embaraça, em Lisboa, para se desembaraçar vai-se cantarolando continuamente: «Desembaraça-te, linha, que eu te darei uma caixinha.» E no Algarve dizem:
Senhor Sant’Ana,
Por aqui passou,
Tudo quanto viu,
Tudo desempeçou.
Vestir a roupa virada é mau agouro (Abade José Tavares, Carviçais, Moncorvo, Abril de 1904), mas em Lisboa, vestir uma peça de roupa do avesso é sinal de que se vai receber uma prenda nesse dia (Cf.: Handy.: «Kleid tausch»).
Há na Capela da Senhora do Castelo (Carviçais, Moncorvo, informação do Abade José Tavares, 1904) uma santa com um chapéu na cabeça. Quem sofre de dores de dentes e põe sobre a cabeça o chapéu do santo fica curado.
Em Lisboa, crê-se que, se uma rapariga põe o chapéu de um homem, não se casa.
Durante algumas dezenas de anos foi costume, pelo menos em Lisboa, as mulheres nunca entrarem num templo, de cabeça descoberta: se não tinham chapéu e mantilha, colocavam um lenço de assoar.
Em Carviçais, Moncorvo (Abade José Tavares, 1904), crê-se que quem morre mascarado vai para o Inferno. Também ali se crê que é de muito mau agouro dormir com os sapatos no sobrado, voltados com as palmilhas para cima, ou com os sapatos à cabeceira, ou com o chapéu aos pés (ou com a candeia no chão). Também é aziago, algures, colocar os sapatos em disposição inversa.
Paremiologia:
«Quem tem capa sempre escapa».
«Capote no Verão, ou é rato ou é ladrão».

Bibliografia: Etnografia Portuguesa - vol.VI, J. Leite de Vasconcelos
Fonte: Portal do Folclore Português

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