quarta-feira, outubro 01, 2008

Como trajavam as crianças

A maioria dos ranhos folclóricos nacionais apresenta, entre os seus elementos, crianças de tenra idade, colocando-se frequentemente a questão de como se devem trajar.
Existem muitos estudos sobre os trajes regionais, no entanto, poucos abordam o trajo infantil, pelo que decidi abordar o assunto.
Em primeiro lugar, devo recordar que a maioria da população portuguesa, até meados do sec.xx, vivia sobretudo da agricultura e da pesca. Era uma população com poucos recursos, para quem os filhos significavam riqueza, mais braços para trabalhar e para contribuirem para o rendimento familiar.
Às raparigas, desde cedo, eram atribuídas tarefas domésticas, cuidando da casa e dos irmãos mais novos, quando não teriam mais de 7 ou 8 anos. Poucas eram as que frequentavam a escola ou aprendiam a ler, o que era considerado dispensável, já que,a s raparigas deviam ser preparadas para o trabalho doméstico, seu destino era casar e ter filhos.


Os rapazes mereciam tratamento diverso. Não lhes eram exigidas grandes responsabilidades, embora pudessem ajudar os pais na lavoura ou na faina. Normalmente, frequentavam a escola e continuavam a trabalhar na actividade da família. Quando a família tinha alguns rendimentos eram entregues como aprendizes a algum mestre de ofício, a quem pagavam, para que ao rapaz fossem ensinados os segredos de uma determinada profissão.

Mas, como trajavam estas crianças?

Os fracos recursos promoviam a reciclagem das roupas e muitas vezes possuíam apenas uma muda de roupa, que era lavada à noite quando s
e deitavam, para que secasse e pudesse ser vestida na manhã seguinte.
A roupita melhor era guardada para dias especiais e de festa.
Muitos só conheciam sapatos quando entravam para a escola ou ainda mais tarde. Andavam muitas vezes descalços, com uns socos de madeira e carneira ou com umas alpercatas de tecido ou couro.
Frequentemente os trajos das crianças não eram mais que miniaturas dos trajos dos adultos.
Era habitual que as roupas dos pais e irmãos mais velhos passassem para as crianças, depois de devidamente adaptadas. Da camisa velha do pai era feita uma nova para o filho ou adaptava-se um vestido da filha mais velha para que a mais nova pudesse ter um vestido novo do dia da festa da aldeia.
Assim se vivia, com pouco, do qual se fazia muito.


É assim, natural encontrar-mos imagens de crianças vestidas tal como os adultos, quer nos trajos domingueiros, como nos do dia-a-dia, ou mesmo no luto, altura em que ficavam sujeitas as mesmas obrigações sociais que os adultos.

As imagens que ilustram este artigo são da primeira metade do sec-XX. As duas primeiras foram tiradas na Nazaré, por Bill Permutter e Jean Dieuzaide, a última é sobejamente conhecida, são os Pastorinhos de Fátima no seu trajo domingueiro da região de Leiria.

4 comentários:

Anónimo disse...

Gostaria de dar o meu pequeno contributo para este tópico, em três pontos:

1. Como tive a oportunidade de estudar toda a colecção de traje do extinto Museu de Arte Popular (infelizmente não posso partilhar fotografias) tive contacto com algum traje de criança, que na sua maioria imitava o dos adultos, mas que também incluia alguns exemplares usados, particularmente de Glória do Ribatejo, de pequenos vestidos de algodão branco profusamente bordados e que incluiam um babete com a mesma decoração.

2. Como tenho andado a fazer a minha árvore genealógica, e como algumas das minhas trisavós eram expostas da Roda, tenho o privilégio de saber (porque fica registado) a roupa que foi deixada com elas no berço. Assim, com a minha trisavó Feleciana, entregue em 1856 na Roda de Leiria, a mãe deixou o seguinte: "Trazia uma camisa nova d'algodão, uma fralda branca usada, uma saia de chita azul usada, um coeiro velho de baetilha usada, uma cinta de baetilha branca e um lenço azul de três pontas usado na cabeça".

3. Como tenho algum fascínio pelo gesto de cobrir a cabeça, não resisto em partilhar a foto de Emílio Biel que se encontra no seguinte endereço: http://flickr.com/photos/31194388@N00/2773179566/in/pool-fotosantigas

Cumprimentos

Pedro Augusto

Seberco disse...

Aquela menina é simplesmente a minha querida mãe.

Bjs para ti mãe

Carlos Cardoso disse...

Olá Seberco

Além da etnografia, também gosto muito de fotografia. Por trás de uma foto existe sempre uma história, que nem sempre é contada.
Gostava que conta-se a historia dessa imagem. Quem é? O que se lembra da época e das circunstancias em que foi tirada a fotografia? etc.
Obrigado pelo seu comentário.

Seberco disse...

Aquela menina tinha 6 anos e a foto foi tirava na Pederneira ( Nazaré ) junto à igreja, sempre esteve na nossa sala.
Foi tirava na altura do Santo António pelo famoso fotografo Jean dietz... .
Mais uns beijinhos pra minha mãe