A maioria dos ranhos folclóricos nacionais apresenta, entre os seus elementos, crianças de tenra idade, colocando-se frequentemente a questão de como se devem trajar.
Existem muitos estudos sobre os trajes regionais, no entanto, poucos abordam o trajo infantil, pelo que decidi abordar o assunto.
Em primeiro lugar, devo recordar que a maioria da população portuguesa, até meados do sec.xx, vivia sobretudo da agricultura e da pesca. Era uma população com poucos recursos, para quem os filhos significavam riqueza, mais braços para trabalhar e para contribuirem para o rendimento familiar.Às raparigas, desde cedo, eram atribuídas tarefas domésticas, cuidando da casa e dos irmãos mais novos, quando não teriam mais de 7 ou 8 anos. Poucas eram as que frequentavam a escola ou aprendiam a ler, o que era considerado dispensável, já que,a s raparigas deviam ser preparadas para o trabalho doméstico, seu destino era casar e ter filhos.
Os rapazes mereciam tratamento diverso. Não lhes eram exigidas grandes responsabilidades, embora pudessem ajudar os pais na lavoura ou na faina. Normalmente, frequentavam a escola e continuavam a trabalhar na actividade da família. Quando a família tinha alguns rendimentos eram entregues como aprendizes a algum mestre de ofício, a quem pagavam, para que ao rapaz fossem ensinados os segredos de uma determinada profissão.
Mas, como trajavam estas crianças?
Os fracos recursos promoviam a reciclagem das roupas e muitas vezes possuíam apenas uma muda de roupa, que era lavada à noite quando se deitavam, para que secasse e pudesse ser vestida na manhã seguinte.
A roupita melhor era guardada para dias especiais e de festa.
Muitos só conheciam sapatos quando entravam para a escola ou ainda mais tarde. Andavam muitas vezes descalços, com uns socos de madeira e carneira ou com umas alpercatas de tecido ou couro.
Frequentemente os trajos das crianças não eram mais que miniaturas dos trajos dos adultos.
Era habitual que as roupas dos pais e irmãos mais velhos passassem para as crianças, depois de devidamente adaptadas. Da camisa velha do pai era feita uma nova para o filho ou adaptava-se um vestido da filha mais velha para que a mais nova pudesse ter um vestido novo do dia da festa da aldeia.
Assim se vivia, com pouco, do qual se fazia muito.
É assim, natural encontrar-mos imagens de crianças vestidas tal como os adultos, quer nos trajos domingueiros, como nos do dia-a-dia, ou mesmo no luto, altura em que ficavam sujeitas as mesmas obrigações sociais que os adultos.
As imagens que ilustram este artigo são da primeira metade do sec-XX. As duas primeiras foram tiradas na Nazaré, por Bill Permutter e Jean Dieuzaide, a última é sobejamente conhecida, são os Pastorinhos de Fátima no seu trajo domingueiro da região de Leiria.
4 comentários:
Gostaria de dar o meu pequeno contributo para este tópico, em três pontos:
1. Como tive a oportunidade de estudar toda a colecção de traje do extinto Museu de Arte Popular (infelizmente não posso partilhar fotografias) tive contacto com algum traje de criança, que na sua maioria imitava o dos adultos, mas que também incluia alguns exemplares usados, particularmente de Glória do Ribatejo, de pequenos vestidos de algodão branco profusamente bordados e que incluiam um babete com a mesma decoração.
2. Como tenho andado a fazer a minha árvore genealógica, e como algumas das minhas trisavós eram expostas da Roda, tenho o privilégio de saber (porque fica registado) a roupa que foi deixada com elas no berço. Assim, com a minha trisavó Feleciana, entregue em 1856 na Roda de Leiria, a mãe deixou o seguinte: "Trazia uma camisa nova d'algodão, uma fralda branca usada, uma saia de chita azul usada, um coeiro velho de baetilha usada, uma cinta de baetilha branca e um lenço azul de três pontas usado na cabeça".
3. Como tenho algum fascínio pelo gesto de cobrir a cabeça, não resisto em partilhar a foto de Emílio Biel que se encontra no seguinte endereço: http://flickr.com/photos/31194388@N00/2773179566/in/pool-fotosantigas
Cumprimentos
Pedro Augusto
Aquela menina é simplesmente a minha querida mãe.
Bjs para ti mãe
Olá Seberco
Além da etnografia, também gosto muito de fotografia. Por trás de uma foto existe sempre uma história, que nem sempre é contada.
Gostava que conta-se a historia dessa imagem. Quem é? O que se lembra da época e das circunstancias em que foi tirada a fotografia? etc.
Obrigado pelo seu comentário.
Aquela menina tinha 6 anos e a foto foi tirava na Pederneira ( Nazaré ) junto à igreja, sempre esteve na nossa sala.
Foi tirava na altura do Santo António pelo famoso fotografo Jean dietz... .
Mais uns beijinhos pra minha mãe
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