terça-feira, junho 28, 2011

Como era outrora usado o lenço tabaqueiro?

Desde que o Homem sentiu a necessidade de se cobrir e agasalhar, começou a partir de folhagem e peles de animais por criar as peças de vestuário de que necessitava. Caso pretendêssemos recuar a esse tempo na reconstituição dos usos e costumes dos nossos ancestrais, esse seria certamente o primeiro traje que nos caberia reproduzir. Porém, à medida que as sociedades humanas evoluíram, foram surgindo novos hábitos e o vestuário deixou de constituir apenas uma necessidade básica para se tornar um meio de afirmação pessoal no contexto da sociedade como de comunicação.


O traje acompanhou a evolução da sociedade através dos tempos e a moda tornou-se uma indústria altamente rentável. Se o advento da era industrial trouxe consigo a produção em escala e o pronto-a-vestir que teve como consequência a uniformização do modo de vestir em detrimento dos costumes locais, a chamada alta-costura procura actualmente satisfazer a necessidade de uma classe endinheirada que exige a produção de uma moda individualizada. Os criadores de moda, não raras as vezes inspirados em motivos étnicos, dão voltas à cabeça para conceber uma nova peça de vestuário, por vezes tão arrojada quanto o grau de loucura de quem a encomenda. Contudo, se o cliente se atrever a usar o vestuário de maneira inapropriada ou descontextualizada, corre o sério risco de ser-lhe diagnosticado um comportamento esquizofrénico.
Ninguém imagina certamente um agricultor, de fato e gravata, lavrando a terra ou um professor vestindo pijama na sala de aulas. Vem isto a propósito do uso que é dado ao chamado lenço tabaqueiro o qual, não raras as vezes, apresenta-se enrolado ao pescoço dos componentes masculinos de alguns grupos folclóricos. Outros, porém, em meu entender de forma mais apropriada, optam por exibi-lo à cinta ou no bolso, como sucede com o Grupo Folclórico de Danças e Cantares de Mafamude, de Vila Nova de Gaia.


O lenço tabaqueiro surgiu entre nós, como um acessório, no início do século XVII, em consequência directa do consumo do tabaco, hábito trazido pelos espanhóis do continente americano. O tabaco era consumido pelos povos indígenas que acreditavam nos seus poderes medicinais, razão pela qual o consumiam em ocasiões cerimoniais. Uma vez introduzido na Europa, o tabaco era mascado ou aspirado sob a forma de rapé, tornando-se um hábito social que perdurou até aos finais do século XIX, altura em que se começou a generalizar o consumo do tabaco sob a forma de cigarros.
O consumo do rapé consistia em levar o tabaco em pó às narinas a fim de ser fortemente aspirado, gesto que invariavelmente provocava o espirro ou o pingo no nariz, sendo então considerado um óptimo estimulante nasal. Esta reacção requeria naturalmente o uso de um pano, geralmente de algodão, para efeitos de higiene pessoal, o qual era então colocado à cinta ou pendurado no bolso. Com o tempo, o rapé entrou em desuso e o lenço, por razões de decoro, passou a ser dobrado e guardado no bolso. Este nada tem a ver com o costume entretanto surgido do uso de um lenço de seda ao pescoço, o qual se apresenta em substituição da secular gravata, nem tão pouco o lenço de cabeça outrora utilizado pelas mulheres.
Ao que tudo indica, foi em Alcobaça que em 1774 se instalou em Portugal a primeira fábrica de “lenços, cambraias e fazendas brancas”, ao tempo do reinado de D. José I, razão pela qual esse género de lenço também é conhecido por “O Alcobaça”. Ao longo da sua existência, produziu uma grande variedade de padrões, sendo que geralmente apresentavam fundo vermelho, azul ou amarelo, com barras de diversas cores.
Compreensivelmente, tratando-se de um objecto de higiene pessoal, a ninguém lembraria enrolar ao pescoço o referido lenço que servia precisamente para assoar o nariz do efeito provocado pelo cheiro do rapé. Apesar disso, alguém teve imaginação para o fazer, dobrando-o ao meio e atando-o ao pescoço, gesto este que se multiplicou por numerosos grupos folclóricos que o assimilaram como se de algo genuíno se tratasse ou seja, ele fosse realmente usado ao pescoço do homem no século passado. Quero dizer que os responsáveis não se deram ao trabalho de investigar, limitando-se a copiar aquilo que simplesmente os impressionou e pareceu bem.
Do ponto de vista etnográfico, não pode o traje com referência a uma determinada época e região em concreto ser apresentado de uma determinada forma ou ser-lhe acrescentado algo porque assim nos agrada, devendo limitarmo-nos a identificar como as pessoas realmente se vestiam, independentemente da eventual beleza e exuberância do vestuário que era usado. Como tal, a forma como o lenço tabaqueiro é apresentado por alguns grupos folclóricos deve ser repensada!

quarta-feira, junho 22, 2011

Participantes da Exposição Nacional do Trajo ao Vivo

Tendo em consideração o magnifico espectáculo a que assisti em Porto de Mós, pareceu-me que se deveria referenciar os grupos participantes.

A FFP fez-me o favor de remeter a relação dos grupos que participaram, o qual agradeço, aproveitando para felicitar os elementos do 74 ranchos presentes pelo extraordinário trabalho que têm feito em prol da defesa do património cultural português.
Aqui fica a listagem deste grupos e a região que representam.
Bem hajam!


Grupo Folclórico Casa do Povo de Arões
Baixo Minho - Ave
Grupo Folclórico de S. Martinho do Campo
Baixo Minho - Ave
Grupo Folclórico de Santa Cristina do Couto
Baixo Minho - Ave
Grupo Folclórico do Centro Social de Vila Nova de Sande
Baixo Minho - Ave
Rancho Etnográfico de Santa Maria de Negrelos
Baixo Minho - Ave
Grupo Folclórico "As Ceifeirinhas do Vale Mesio"
Entre Douro e Minho
Rancho Folclórico de Aldeia Nova
Douro Litoral - Norte
Rancho Folclórico de Gens
Douro Litoral - Norte
Rancho Folclórico de Zebreiros
Douro Litoral - Norte
Rancho Típico de S. Mamede de Infesta
Douro Litoral - Norte
Rancho Folclórico da Ass. Cult. e Desp. de Mindelo
Douro Litoral - Norte
Grupo Folclórico das Terras da Feira - Casa da Gaia
Douro Litoral - Centro
Grupo Etnográfico de Sandim (Casa da Eira)
Douro Litoral - Centro
Rancho Folclórico "As Lavradeiras de Pedroso"
Douro Litoral - Centro
Rancho Folclórico "As Trigueirinhas do Pisão"
Douro Litoral - Centro
Rancho Folclórico de Canelas
Douro Litoral - Centro
Rancho Folclórico de Canidelo
Douro Litoral - Centro
Rancho Folclórico de Danças e Cantares de Stª Maria do Olival
Douro Litoral - Centro
Rancho Folclórico de S. Tiago de Silvalde
Douro Litoral - Centro
Rancho Folclórico e Cultural de Nª Senhora do Monte de Pedroso
Douro Litoral - Centro
Rancho Regional Recordar é Viver de Paramos
Douro Litoral - Centro
Grupo de Danças e Cantares Regionais da Feira
Douro Litoral - Sul
Grupo de Danças e Cantares Regionais do Orfeão da Feira
Douro Litoral - Sul
Rancho Folclórico de Gouxaria
Ribatejo
Grupo Etnográfico Danças e Cantares de Alverca do Ribatejo
Ribatejo
Grupo Etnográfico de Danças e Cantares de Fermêdo e Mato
Douro Litoral - Sul
Grupo Folclórico "As Lavradeiras de S. João de Ver"
Douro Litoral - Sul
Grupo Folclórico de Palmaz
Douro Litoral - Sul
Rancho Folclórico "As Florinhas" de Caldas de S. Jorge
Douro Litoral - Sul
Grupo de Danças e Cantares de Cortegaça
Beira Litoral - Vareira
Grupo de Danças e Cantares de S. Pedro de Maceda
Beira Litoral - Vareira
Grupo Folclórico "As Tricanas de Ovar"
Beira Litoral - Vareira
Grupo Folclórico "O Cancioneiro de Ovar"
Beira Litoral - Vareira
Grupo Folclórico "Os Fogueteiros de Arada"
Beira Litoral - Vareira
Rancho Folclórico "Os Camponeses da Beira-Ria"
Beira Litoral - Vareira
Rancho Folclórico da Ribeira de Ovar
Beira Litoral - Vareira
Grupo Folclore Danças e Cantares do Fial
Beira Litoral - Baixo Vouga
Grupo Folclórico Cultural e Recreativo de Albergaria-a-Velha
Beira Litoral - Baixo Vouga
Grupo Folclórico e Etnográfico de Albergaria-a-Velha
Beira Litoral - Baixo Vouga
Rancho Folclórico da Casa do Povo de Angeja
Beira Litoral - Baixo Vouga
Rancho Folclórico e Etnográfico de Vale de Açores
Beira Litoral - Baixo Vouga
Grupo de Folclore do Melriçal
Beira Litoral - Gândara, Bairrada e Mondego
Grupo Folclórico Camponeses do Mondego
Beira Litoral - Gândara, Bairrada e Mondego
Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila
Beira Litoral - Gândara, Bairrada e Mondego
Rancho Folclórico e Etnográfico Zagalho e Vale do Conde
Beira Litoral - Gândara, Bairrada e Mondego
Grupo Etnográfico da Região da Lousã - GERL
Beira Litoral - Gândara, Bairrada e Mondego
Grupo Folclórico Danças e Cantares da Ass. Cult. Vilarinho
Beira Litoral - Gândara, Bairrada e Mondego
Rancho Folclórico da Casa do Povo de Espariz
Beira Alta - Serrana
Rancho Folclórico da Casa do Povo de Ponte de Sor
Alentejo
Rancho Folclórico da Casa do Povo de Redondo
Alentejo
Rancho Folclórico da Casa do Povo de Tábua
Beira Alta - Serrana
Rancho Folclórico de Gouveia
Beira Alta - Serrana
Rancho Folclórico de Boidobra
Beira Baixa
Rancho da Região de Leiria
Alta Estremadura
Rancho Folclórico "As Lavadeiras do Vale do Lena"
Alta Estremadura
Rancho Folclórico "As Tecedeiras" de Bidoeira de Cima
Alta Estremadura
Rancho Folclórico "Flores Verde Pinho" do Coimbrão
Alta Estremadura
Rancho Folclórico Alegrias do Campo de Carnide
Alta Estremadura
Rancho Folclórico da Sociedade Recreativa Cabeça Veada
Alta Estremadura
Rancho Folclórico de S. Guilherme
Alta Estremadura
Rancho Folclórico do Penedo
Alta Estremadura
Rancho Folclórico dos Moleanos
Alta Estremadura
Rancho Folclórico dos Soutos da Caranguejeira
Alta Estremadura
Rancho Folclórico Luz dos Candeeiros
Alta Estremadura
Rancho Folclórico Peixeiras da Vieira
Alta Estremadura
Rancho Folclórico Rosas do Lena
Alta Estremadura
Rancho Folclórico da Freguesia de Pussos
Alta Estremadura
Rancho Folclórico de Mira de Aire
Alta Estremadura
Rancho Folclórico e Etnográfico de Casais de Revelhos
Templários
Grupo Folclórico "Os Camponeses" D. Maria
Estremadura Centro - Saloia
Grupo Folclórico "Os Saloios" da Póvoa da Galega
Estremadura Centro - Saloia
Rancho Folclórico "As Lavadeiras" do Sabugo
Estremadura Centro - Saloia
Rancho Folclórico e Etnográfico "Danças e Cantares" da Mugideira
Estremadura Centro - Saloia
Rancho Folclórico São Miguel do Milharado
Estremadura Centro - Saloia

domingo, maio 22, 2011

XVI Exposição Nacional do Trajo ao Vivo

No passado dia 14 de Maio decorreu em Porto de Mós a XVI Exposição Nacional do Trajo ao Vivo, organizada pela Federação do Folclore Português, com o patrocínio da Câmara Municipal de Porto de Mós e a colaboração dos grupos de folclore das Pedreiras, Luz dos Candeeiros, Cabeça Veada e Mira de Aire.

Porto de Mós foi o palco desta grande mostra do Património Cultural e Etnográfico de Portugal. A música, a festa e os trajos envergados com orgulho por 600 figurantes de todo o País foram o mote para a numerosa assistência que se encontrava no novíssimo Parque Verde, vivenciem o trajo nas suas diversas funções e variantes das diversas regiões do País.

Utilizando a moderna passerelle os trajos desfilaram nos corpos de homens e mulheres representando o trabalho na montanha, no campo, no rio ou no mar, passando por momentos tão importantes como o domingo, o casamento, a feira ou a romaria.

O acompanhamento musical foi maravilhosamente suportado pelas tocatas dos ranchos do concelho de Porto de Mós, constituindo uma orquestra de instrumentos tradicionais poucas vezes vista ou ouvida, quer pelo número de participantes, quer pela qualidade musical, constituindo em si próprio um factor de grande interesse e beleza.

O desfile terminou em festa, com o convívio entre os diversos grupos participantes, numa dança comum, recordando que apesar das diferenças entre regiões o povo português é único e possui uma riqueza etnográfica que não se pode perder.

O Trajes de Portugal esteve lá e deixa aqui algumas imagens.

quarta-feira, maio 04, 2011

sábado, abril 30, 2011

Trajes de Noivos - Perre - Minho

O Grupo de Danças e Cantares de Perre, digno representante das tradições do Minho, apresenta dois pares de noivos que caracterizam duas épocas distintas: uma dos finais do século XIX e outra, mas recente, dos princípios do século XX. O traje do noivo poucas diferenças apresenta. Já o mesmo não se pode dizer em relação à noiva.

Noivo
O traje de noivo é idêntico ao fato de luxo diferenciando-se, no entanto, pelo facto de a camisa ser bordada a branco nos ombros e no peito (sem quadra).
O fato de noivo distingue-se, ainda, por não utilizar a faixa, inclui um colete preto, bem como uma casaca (casaco e laço no caso do mais antigo). O noivo, em Perre, faz-se sempre acompanhar pelo guarda-chuva. Este não servia apenas para resguardar o homem de condições atmosféricas desfavoráveis. Era tido como parte essencial do traje.
Noiva
O traje da noiva mais recente é muito semelhante ao da mordoma (“vestido de pano” preto), acrescentando-se-lhe o véu, de balbinete, branco e, o ramo de noiva.
O traje mais antigo apresenta uma saia de riscas em tons negros, tecida no tear, com forro preto. Usa também casaca preta e lenço preto que aperta em cima da cabeça. O ouro era o mesmo que usava aquando da mordomia.


Fonte: Grupo de Danças e Cantares de Perre

segunda-feira, abril 25, 2011

Agricultura tradicional portuguesa

O trabalho de Michel Giacometti já foi alvo de artigos anteriores neste blog. As imagens que se seguem foram adaptadas da recolha Michel Giacometti em 1972/1973 para ilustrar algumas actividades e técnicas agrícolas em algumas regiões de Portugal continental e são um tesouro etnográfico português.



segunda-feira, abril 04, 2011

O uso de chapéu

O chapéu surgiu para a protecção da cabeça, ainda nos povos primitivos da pré-história, das intempéries climáticas (sol escaldante, frio, chuva), como prerrogativa masculina - sendo o homem o responsável pela defesa da tribo ou do clã, sendo depois estendido para a caracterização dos níveis sociais: os reis usavam coroas, os sacerdotes a mitra e os guerreiros o elmo. Cerca de 3000 a.C., na Mesopotâmia, surgem os chapéus que trazem um misto de elmo com capuz, que uns mil anos depois (2.000 a.C.) evoluem para um formato mais aprimorado. Torna-se, neste mesmo período, um adereço de dignidade, nobiliárquica, militar e sacerdotal do Antigo Egipto. O primeiro chapéu que encontra em suas formas mais semelhantes com o formato "clássico" (ou seja, contendo as partes principais do adorno), é o pétaso grego um tipo de chapéu usado pelos antigos gregos e romanos, de abas largas e copa pouco elevada, feito normalmente de feltro de lã, couro ou palha. Era usado principalmente por fazendeiros e viajantes da Antiguidade, e era considerado como uma vestimenta tipicamente rural. O píleo era a versão sem abas do pétaso. O uso de chapéu foi estudado por José Leite de Vasconcelos e descrito em “ETNOGRAFIA PORTUGUESA" - Livro III.


Entre Douro e Minho


De palha centeia para o sol (Baião); bordado, de palha, feito em Fafe: tem as abas com dobras alternadas (dobradas à maneira de ziguezague), o que lhe dá um aspecto de recorte; a copa é revestida de cordões entrançados e com uma espécie de botões também de trança, coloridos; às vezes têm umas estrelas de palha de cor; o chapéu de palha, tão querido da gente da Beira e de Entre Douro e Minho, creio que é desconhecido no Alentejo e no Algarve: um meridional julgar-se-ia descido da sua dignidade se pusesse na cabeça esse emblema do ratinho e do galego (galego, como os do sul chamam aos do norte); em Melgaço e na Cerveira vi os homens nas feiras com chapéus de pano; antigamente, talvez no início do século passado, o trajo domingueiro dos homens do Alto Minho incluía o chapéu de copa alta (cilíndrico como o chapéu alto, mas mais baixo), achatado em cima e de aba redonda; em 1928, um informador de mais de 80 anos, de Arcos de Valdevez, disse-me que noutros tempos os homens usavam carapuça a par de chapéu grosso; e também outrora as moças de Ermesinde usavam chapéus enfeitados à moda das senhoras (H. Beça, Ermesinde, p.90, Porto, 1921)

Trás-os-Montes

Chapéu de aba larga é luxo dos pimpões da Lombada; de palha, com fita colorida ou coberto com pingentes de palha na orla das abas (Vila Pouca de Aguiar).


Beira

Em Santa Comba Dão, os homens só usam chapéu de pano, não de palha. As mulheres, do campo, usam chapéu de homem, quando já estão velhos, e às vezes chapéus novos de palha. Os homens, na Guarda, usam chapéus de pano, à gandaresa. Os chapéus à gandaresa são feitos em S. João da Madeira, concelho de Oliveira de Azeméis; também lá se fabricam os chapéus à Vieira ou vieireiros, sendo os nomes provenientes da Gândara e da Vieira, onde são usados. Têm marca de papel, por dentro, onde está escrito «S. João da Madeira» ou «chapéu de 1ª», e também os há de «2ª», mais ordinários e mais baratos. Também em S. João da Madeira fabricam chapéus à camponesa, de aba larga, de pano grosso e com peninha de cor. As mulheres de Aveiro usavam antigamente chapéus desabados, maiores do que os de hoje, que são pequenos, como bonés; havia três espécies de abas: a grande, já desaparecida (Requeixo), a média, ainda usada pelas impilhadeiras, e a pequena, usada pela mulheres do campo, que também trazem chapéus como os dos homens. Em Soure, os homens só usam chapéus de pano. Os da Guarda usam chapéus de palha nas malhas, mas quando vão à cidade levam-nos de pano, desabado. Em Castendo (1896) usam chapéus de pano; em Castelo Branco (1916), chapéu de papöla, de aba larga; em Celorico da Beira, «àbeiro» por causa da aba larga; na Rapa, os homens, no serviço do campo, usam-nos de palha, no Verão, mas quando vão à caça, levam-nos de pano, feitos lá na terra. No concelho do Sabugal, usam chapéus modernos, ou de abas largas. No concelho de Arganil, não se usa chapéu de palha: se alguém aparecesse com ele, corriam-no logo; só às vezes, muito raramente, no Verão; usam sempre chapéu de feltro. Na Anadia, as mulheres usam chapéu pequeno, preto, redondo, com pena preta; as Ovarinas usam chapéu redondo, de aba larga e horizontal (em 1920), e as da Feira chapelinho preto, no alto da cabeça. O chapéu das mulheres de Cantanhede é como o das Ovarinas, tanto as de idade, como as novas, mas os destas são mais apurados e menores, e também redondos (1916).

Estremadura e Ribatejo

Chapelinho preto e redondo das mulheres do campo, de Leiria; algumas metem lenços entre as abas e a copa; uma ou outra velha traz um chapéu de pena, de homem; são curiosas as filas de vendedeiras, cada uma com o seu chapelinho preto, de pé ou sentadas, com as coisas para venda diante delas; do lenço, que usam sob o chapéu, as pontas caem sobre as costas (1918). Os camponeses do Ribatejo, no Inverno, usam chapéu em lugar de barrete. Os homens de Óbidos usam chapéu «d’aba-tela» ou à «toireira» (domingueiro) e no Verão chapéu de palha. Em Lisboa, quando, por brincadeira ou acaso, uma menina solteira põe na cabeça o chapéu de um rapaz solteiro ou de um homem casado, e se quiser casar, tem de dar um beijo no dono do chapéu.

Alentejo

O chapéu usado sobre o lenço, pelas mulheres de luto (Moura, etc.); de cortiça, feito por pastores (serra de Grândola); Alcácer do Sal; grosseiro, largo, com borla (concelhos de Portalegre, Portel, Nisa, Crato, Vidigueira); de Braga ou de S. João da Madeira, preto com uma borla (Alandroal); desabado (aguadeiro) de pano, em 1896; em Tolosa, as mulheres usam-no sobre o lenço, quando trabalham no campo, por vezes enfeitado com flores e fitas.

Algarve Chapéu de pano grosseiro, pelos homens (Portimão) e Monchique (1917), e, antigamente, desabado, com borla; de pano, pelas mulheres, sobre o lenço da cabeça, não só de jornada, mas a trabalharem à porta, e as crianças também põem; «O costume faz tudo», disse-me uma mulher do campo, ao notar-lhe eu o uso do chapéu de homem, na cabeça; compram-no elas e trazem-no sempre, tirando-o apenas para cumprimentarem, como os homens, creio eu (Portimão). Põem-no no campo as mulheres, quer casadas quer solteiras, mas estas, quando vão à vila, tiram-no para não parecerem casadas e poderem mais facilmente arranjar noivo.


Açores
Chapéu de copa pequeníssima e aba larga, com fita de cor, posto sobre um lenço (Pico); de palha (Faial); na ilha de S. Jorge «não há mulheres do campo. São tudo senhoras: tudo usa chapéu--- As criadas usam chapéu.» (De uma carta particular, escrita de Velas.)

Bibliografia: "ETNOGRAFIA PORTUGUESA" - Livro III - José Leite de Vasconcelos
Fonte: Blog do Portal do Folclore

quinta-feira, março 31, 2011

Terra de mais lindas mulheres de Portugal - Concurso de Fotografia em 1906

A Illustração Portugueza realizou em 1906 um Concurso Fotográfico intitulado “Terra de mais lindas mulheres de Portugal”, destinado a fotógrafos amadores e profissionais, com apresentação na edição de 12 de Março do Regulamento e com a publicação dos ‘retratos’ premiados na edição de 2 de Julho de 1906. Retirado do texto (grafia actual) que acompanha a publicação dos ‘retratos’ premiados: «(…)Onde o homem que ao menos uma vez não tenha formulado em pensamento a pergunta palpitante: qual é a terra de mais lindas mulheres de Portugal? Até agora, porém, essa pergunta ficara sem resposta. Nesse conto admirável que se chama As singularidades de uma rapariga loura, Eça de Queirós designara as mulheres de Vila Real como as mais bonitas do Norte. E acrescentava: para olhos pretos Guimarães, para corpos Santo Aleixo, para tranças os Arcos, para cinturas finas Viana, para boas peles Amarante. Fantasia de romancista? Talvez. (…) Esquecera Eça de Queirós as suas vizinhas de Vila do Conde, de tão puro perfil e de tão doirados cabelos, para lhes preferir as desenvoltas moças de Vila Real e as airosas e decorativas raparigas dos Arcos de Valdevez e de Viana, que ainda hoje, na feira da Agonia, com as suas saias coloridas e os seus xailes de froco, a sua chinela de verniz a estalar nos pés como um brinquedo, as suas arrecadas de ouro a balouçar nas orelhas, levantam em rixas homicidas, para a disputa de um sorriso, os varapaus dos namorados. (…) Conseguiu a Illustração Portugueza, com o presente concurso, fixar em bases convincentes a eleição da terra de mais lindas mulheres de Portugal? Não o conseguiu.(…)» O júri, constituído por Columbano Bordallo Pinheiro, professor da Escola de Bellas Artes de Lisboa, António Teixeira Lopes, professor da Escola de Bellas Artes do Porto, dr. José de Figueiredo, crítico de arte, Abel Botelho, romancista e dramaturgo, dr. Júlio Dantas, dramaturgo e poeta, e dr. Cunha e Costa, jornalista, decidiu, por unanimidade de votos, seleccionar os seguintes retratos:



1º prémio: Tricana de Ílhavo - fotografia do sr. Paulo Namorado (fotógrafo amador em Ílhavo);


2º prémio: Lavradeira de Barcelos (Freguesia de Roriz) - fotografia do sr. Júlio Vallongo (fotógrafo amador em Barcelos);



3º prémio: Costureira de Ílhavo - fotografia do sr. Paulo Namorado;


4º prémio: Rapariga de aldeia (Ílhavo) - fotografia do sr. Paulo Namorado;

e por maioria dos votos, os seguintes retratos:



5º prémio: Montanheira dos arredores de Loulé - fotografia do sr. Joaquim A. da Silva Nogueira (fotógrafo amador em Loulé);


6º prémio: Fiandeira de Ílhavo - fotografia do sr. Paulo Namorado;


7º prémio: Tricana de Aveiro - fotografia do sr. Albino Mendes (fotógrafo amador em Aveiro);



Outros 'retratos' presentes a concurso:

1.- Mulher de Alagoa (Ílhavo), fotografia do sr. Paulo Namorado;
2 - Pescadeira de Ílhavo, fotografia do mesmo;

3 - Padeira de Ílhavo, fotografia do mesmo;

4 - Pescadeira de Vera Cruz de Aveiro, fotografia de Albino Mendes;

5 - Tipo de beleza de Aveiro, fotografia do mesmo;

6 - Pescadeira de Vera Cruz de Aveiro, fotografia do mesmo;

7 - Mulher de Ílhavo, fotografia do sr. Paulo Namorado;

8 - Mulher de Cantanhede, fotografia do sr. A. Maduro.

sexta-feira, março 04, 2011

Carnaval em Lazarim

Em Lazarim a tradição do Carnaval ainda é o que era. Sinónimo de folguedo, máscaras e soltura, o Carnaval celebra-se entre comadres e compadres que envergam máscaras típicas feitas artesanalmente em madeira de amieiro por quatro homens da aldeia.

Jornalista: Patricia Correia

Reporter de Imagem: Joel Teixeira

domingo, fevereiro 27, 2011

Ó meu Menino Jesus - Alentejo

Este é um canto tradicional de Campo Maior, Alentejo, recolhido por Michel Giacometti, utilizado nos ritos e cerimónias do Ciclo dos Doze dias (Natal até aos Reis), em algumas povoações raianas. Em Campo Maior e S. Vicente na noite de véspera de Natal, grupos de homens e mulheres cantam ao Deus-Menino em casa de familiares.
São acompanhados pela ronca ou sarronca um instumento de percussão tradicional. Trata-se de um membranofone de fricção composto de um reservatório, geralmente uma bilha, que serve de caixa de ressonância, cuja boca é tapada com uma pele esticada que vibra quando se fricciona um pequeno pau ou cana preso por uma das pontas no seu centro produzindo um som grave.
A SARRONCA é conhecida por muitos nomes dependendo da zona onde é fabricada. RONCADEIRA, ZAMBURRA, ZURRA-BURROS ou simplesmente RONCA nome porque é conhecida na zona de Elvas.

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Tirador da Cortiça - Alentejo

(…)
O Sol vai alto, mas o trabalho metódico de «descascar» o Quercus Suber, o nosso sobreiro, não pára. A conversa entre os «tiradores» (assim se chama a quem tira a cortiça da árvore) flui enquanto as mãos, auxiliadas por machados, cortam e arrancam a cortiça à árvore. Abre-se, separa-se, traça-se, extrai-se. Um trabalho metódico e cheio de saber este o de «descortiçar», ou «despelar», retirando a pele áspera à árvore. A operação é delicada, exige atenção. Em causa pode estar a sobrevivência da árvore. Há que não ferir com o machado a parte de dentro dos sobreiros. Há, também, que desinfectar o machado se se desconfiar de doença na árvore. Acima de tudo, nunca tirar do sobreiro demasiada cortiça. Por outro lado há que saber quando parar. Quando a cortiça «não dá», deve-se suspender o «descortiçamento».
A tira é a primeira etapa de uma longa viagem que termina, muitas vezes, à mesa, quando retiramos a rolha a uma garrafa de vinho. Termina a tira em mais uns quantos sobreiros. No campo, as longas pranchas de cortiça aguardam o momento de serem empilhadas. Antigamente, carregavam-se para a estrada a esforço de burro. O almocreve dava as ordens. Hoje, o trabalho tornou-se menos penoso, faz-se com máquinas de arrasto. (Ler mais em Café Portugal)
Tirar cortiça é um trabalho violento e que requer alguma agilidade e um pouco de especialização, e, por vezes o homem tem que andar descalço em cima das pernadas das árvores.
Neste trabalho, os empilhadores e carregadores da cortiça usavam safões de lona.

Trajo composto por:
Colete:
De cotim simples mas de banda.
Camisa: De riscado de risca, com colareta e abotoada até à cintura.
Calças: De cotim, estreitas e terminando à boca-de-sino.
Ceroulas: De pano-cru ou riscado claro.
Cinta: Preta.
Meias: De linha de algodão a cores, feitas à mão com cinco agulhas.
Lenço: Que usava aberto debaixo do chapéu para se proteger do sol.
Chapéu: De feltro preto de aba larga.
Botas: De atanado ou de bezerra afiveladas ou com ilhoses e cardadas na sola.

Utensílios:
Machado:
Com corte semi-curto e a ponta do cabo achatado.
Alforges: Pequeno ou grande, para levar o comer, conforme os dias que estivesse sem vir a casa
Barril: Para água fresca
“Burro”: Tronco de sobreiro com três pés, que se encosta ao tronco do sobreiro e serve para o homem subir






Fonte: Grupo Folclórico e Cultural da Boavista

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Catarina “Xitas”- Michel Giacometti - Povo que canta

As vozes que são apresentadas neste pequeno documentário foram recolhidas por Michel Giacometti, para o programa “Povo que Canta” (1970), em Penha Garcia, concelho de Idanha-a-Nova, sendo a figura principal Catarina “Xitas” que se faz acompanhar de adufe, juntamente com outras mulheres.


sábado, janeiro 29, 2011

Traje do Rei D.Carlos I




São sobejamente conhecidas fotografias de D.Carlos I trajando à lavrador, sobretudo quando se deslocava ao Alentejo para as celebres temporadas em Vila Viçosa.

Este traje foi utilizado em Vendas Novas, vila em que os Duques de Bragança tinham terras e coutadas e que servia de local de pousada nas suas viagens entre a capital e o Alentejo.
Pela forma, este conjunto é similar ao traje de lavrador, no entanto encontra-se adaptado como indumentária de caça pelos vários bolsos e que fazem adivinhar a sua utilidade, actividade na qual D.Carlos era exímio.
Trata-se de um traje de Verão, pois é confeccionado em algodão. Por outro lado, a cor castanha-clara faz deste traje o camuflado ideal na paisagem alentejana.

Pertence à Fundação Casa de Bragança.

Fonte: Trajes Misticos da Cultura Regional Portuguesa - Museu Nacional do Traje



quinta-feira, janeiro 27, 2011

Cortejo Etnográfico e Folclórico de 1937

Sob o Estado Novo, António Ferro abraçou a carreira política, tendo dirigido o Secretariado da Propaganda Nacional (SPN) desde a sua criação por Salazar, em 1933, até 1949.
Como era um homem de cultura e de espírito, Ferro serviu-se do organismo criado para defender e divulgar alguns dos artistas mais arrojados do seu tempo. Travou lutas com os conservadores do regime em defesa da arte moderna.
A primeira fase do seu programa (1933 – 1949), caracteriza-se por ser marcadamente nacionalista, fazendo eco da imagem do povo como principal e única real fonte de arte verdadeira.
Através da etnografia que procurava tecer o carácter de uma nação quanto destacava as suas suaves diferenças e a estruturante transcendência do povo português, é nesse contexto que surgem diversas iniciativas e a “criação” de muitos grupos “etnográficos”, influenciados pela imagem que o Estado Novo pretendia dar do povo.
Uma dessas actividades foi o cortejo Etnográfico e Folclórico realizado em 30 de Maio de 1937, em Lisboa, ao qual acorreram representantes de todas as regiões do país.
As imagens que público são pertença do Centro Português de Fotografia e retratam alguns momentos desse cortejo, sendo visíveis alguns dos trajes apresentados.

Fonte: A ALDEIA MAIS PORTUGUESA DE PORTUGAL - Trabalho de Etnomusicologia - Cláudio Nascimento









sábado, janeiro 15, 2011

Lavradores Ricos – Perre – Minho

Este traje é apresentado pelo Grupo de Danças e Cantares de Perre, pertencente ao Concelho de Viana do Castelo.
Francisco Sampaio esta povoação assim:
“Falar de Perre, é falar de terras de grandes lavradores, dos melhores bois da matança da Páscoa, que abasteciam os talhos de Viana (…), de colheitas de vinho tinto que ultrapassam as três mil pipas, de gente séria, trabalhadora.... Terra de morgados e “mordomias”, casas fartas, boas lavouras, de bons campos e ramadas baixas, a significar tulhas e adegas cheias...”

Homem
Usava calças de alçapão brancas, de linho ou estopa, sem abertura mas com bolsos. Terminavam com folho, um pouco abaixo dos joelhos. A camisa era branca de linho e o colete era de fazenda preta.
Calçava tamancos com polainas de saragoça, nas pernas. Na cabeça usava um chapéu de feltro preto e faz-se acompanhar por um guarda-sol de barbas de baleia.

Mulher
A mulher usava uma saia de riscas tecida no tear, casaca de fazenda preta, e algibeira simples em tons escuros. Ao pescoço lenço de seda, e num dos braços transportava um cesto – com toalha bordada em “rechellier” – e que usava quando pela Páscoa ou Natal ia levar as ofertas ao Padre ou Médico da aldeia.
Em Perre foi moda as mulheres usarem cabelos curtos, deixando de colocar o lenço na cabeço, passando-o para o pescoço.

Fonte: Grupo de Danças e Cantares de Perre

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Trajo de Festa Masculino – Alto Alentejo

Este trajo é apresentado pelo Grupo Folclórico e Cultural da Boavista e foi recolhido em Ribeira de Nisa, sendo utilizado pelos homens em dias Festa no início do sec.XX.
O trajo composto por:
Jaqueta: de surrobeco, com alamares de cordão preto e botões de metal no centro dos alamares.
Colete: de veludo vermelho de bandas redondas abotoadas com botões de metal.
Camisa: de linho branco com peitilho, com colareta alta, e também havia com peitilho e punhos de outra cor.
Calção: ou meia calça de veludo, até ao joelho, com uma abotoadura com três botões de metal que se abotoam de lado de fora e na cintura.
Ceroulas: de pano branco.
Cinta: de cor variada segundo a ocasião, mas geralmente era preta ou vermelha, para cerimónias.
Meias: brancas ou da cor do calção, arrendadas feitas à mão, que apareciam entre as polainas e os calções.
Polainas: de burel, até ao meio da perna, abotoadas de lado com pequenos guizos (em vez de botões), que deixavam ver a meia.
Chapéu: de aba larga, preto, com uma borla redonda de lã, segura ao chapéu na copa ou aba, caindo sobre a aba esquerda.
Botas: em calfe pretas.
Lenço: branco no bolso da jaqueta
Manta: para se cobrir nas noites frias.

Fonte: Grupo Folclórico e Cultural da Boavista



Outros artigos relacionados: Alto Alentejo, Alentejo, Cante Alentejano, Trajos de Festa de Castelo de Vide, Coisas de Mulher, O Alforge, Trajo de Gala de Pastor – Marvão, Pelico e Safões

domingo, janeiro 09, 2011

Trajes de Castelo de Vide – Alto Alentejo

O relevo do Alentejo caracteriza-se pela grande uniformidade de peneplanícies, de onde ressaltam, dispersas e afastadas, massas montanhosas de fraca altitude, com excepção das serras de São Mamede (1025 m) e Marvão (865 m).
Esta uniformidade da geográfica não tem necessariamente de se aplicar à tradição e cultura desta vasta região.
Muito embora existam características comuns, quem estuda a sua etnografia encontra uma tal diversidade, pontuada pelos pormenores que distinguem as diversas povoações, o jeito da aba do chapéu, a maior ou menor proliferação de bordados, a predominância do canto ou da dança, as diferenças da gastronomia, etc.
Se, aparentemente, a Serra da Ossa marca uma fronteira entre a predominância entre do canto (a Sul) da dança (a Norte), a Serra de São Mamede marca a fronteira para o trajo, mais garrido a Norte que a Sul.
A norte de S. Mamede ficam povoações como Nisa e Alpalhão, cujos trajos já foram descritos neste blog, mas também Castelo de Vide, onde os trajes domingueiros são ricamente elaborados e o bordado é amplamente utilizado como forma de enriquecimento das indumentárias destinadas aos domingos e dias de festa.

O Rancho Folclórico de N.ª Sr.ª da Alegria de Castelo de Vide apresenta alguns exemplares do labor e garbo das mulheres alentejanas, que não tendo dinheiro para a ostentação de riqueza como noutras regiões, procurava no seu melhor traje espelhar as suas habilidades de costureira, bordadeira e rendeira, portanto, boa mulher, mãe e dona de casa (a sagrada trilogia feminina).
De realçar que a utilização do bordado não se aplicava somente ao trajo feminino. A mulher gostava que o seu homem também reflectisse a sua arte e brio. Este, altivo e vaidoso, honrava apresentar-se aos seus pares com o melhor que podia.
As imagens que de seguida público são do Rancho Folclórico de N.ª Sr.ª da Alegria de Castelo de Vide e retratam trajos domingueiros daquela região.
Agradecimento a Virgínia Otten pela cedência de algumas das imagens.



sexta-feira, janeiro 07, 2011

Cantar aos Reis

Ontem foi dia de Reis, é época de Cantar aos Reis

segunda-feira, janeiro 03, 2011

Museu Etnográfico de Seia

Numa breve visita às serranias da Beira dei por mim em Seia, onde fui encontrar o Museu Etnográfico de Seia. Uma agradável surpresa já que este é um museu moderno, com boas instalações e pertence a um rancho folclórico.


Normalmente, estamos habituados a ver este tipo de equipamentos nas mãos de entidades públicas (Ministério da Cultura ou Autarquias Locais). Muito embora existam centenas de pequenas colecções pertença de ranchos folclóricos, estes raramente têm a possibilidade de as exibir com a qualidade ali apresentada.
Nota extremamente positiva para a visita guiada, proporcionada por um jovem profundamente conhecedor da colecção e da história da sua terra, de quem, infelizmente, não registei o nome, mas a quem felicito.
O Museu nasceu com a criação do Rancho Folclórico de Seia e inaugurado em Junho de 2008.
A preservação dos usos e costumes não se restringem apenas às danças e cantares, mas também à recolha de objectos e artefactos que contam a história de uma região. Esta recolha resulta muitas vezes de doações particulares e que, naturalmente, para possuírem alguma utilidade enquanto atributos da memória necessitam de ser estudados e expostos.
O Museu Etnográfico de Seia possui uma interessante exposição permanente dedicada Serra e suas gentes, aos ofícios, utensílios, trajes e ainda espaço para as exibições do rancho.


Vale a pena uma visita.
Possui um site, que ainda está em construção, mas que já permite um vislumbre do que é o Museu.
Ficam os contactos:
Marcação de visitas: 238 082 732 91 843 68 08
E-mail: info@museuetnoseia.com.pt
Morada: Rua da Caínha, 6270 - 514 SEIA
Horário: Terça a Domingo das 10h às 18h
Encerra:01 de Janeiro - Domingo de Páscoa - 25 de Dezembro

O Rancho Folclórico de Seia foi fundado em 1980 com o fim de servir e valorizar a cultura tradicional da Serra da Estrela, onde está inserido, não se tendo poupado a esforços, quer no domínio do Folclore quer da investigação das raízes etnográficas do povo que representa.
É membro da Federação do Folclore Português, sócio do Inatel e por mérito próprio foi-lhe concedido o Estatuto de Utilidade Pública.

domingo, janeiro 02, 2011

sexta-feira, dezembro 24, 2010

Feliz Natal


Neste dia especial, votos de paz, amor, felicidade, saúde e sorte, para todos os leitores deste blog, em especial os que o seguem de perto.

Um abraço terno e amigo

Carlos Cardoso

Memória de um Povo - Isabel Silvestre



A cantora Isabel Silvestre, apresentou no passado dia 10 de Dezembro, o livro “Memória de um Povo” em que regista parte da recolha da tradição oral que fez região de Manhouce - Beira Alta.
Memória de um povo, que é acompanhado de um CD com o Cantar dos Reis de 1982, reúne Lengalengas, Histórias, Orações, Modos de Falar, Expressões, Pragas, Provérbios, Adivinhas, Quadras, Romances, Cantares ao Desafio, Recordações, Pautas Musicais... Neste seu livro, Isabel Silvestre procura fazer sentir e transmitir aspectos da cultura de um Povo a que se orgulha de pertencer. Numa manifestação do afecto intenso e sem limites que tem pela sua terra, pelas suas gentes, pelo seu País, Isabel Silvestre reuniu falas, realidades, contos de um povo que «reage sempre à desventura e que em cada crepúsculo vê sempre uma nova madrugada». Inclui quatro singelos e lindíssimos contos da própria Isabel Silvestre....

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Michel Giacometti - Filmografia Completa

O Jornal Público, entre 22 de Novembro e 7 de Fevereiro, distribui semanalmente a filmografia completa de Michel Giacometti, numa edição da RTP coordenada por Paulo Lima.
São 12 livros com CD's onde pode ser admirado o trabalho de recolha etnografica deste Corsego, português de coração.
A 1ª edição tem o custo de 5,90€ e as restantes 8,90€.
Uma colecção a não perder.

domingo, dezembro 12, 2010

Socas barrosãs já não ressoam na calçada - Montalegre

As socas da Terra do Barroso já não confortam os pés das gentes da terra fria transmontana.
O sapato tradicional de madeira e couro é hoje procurado como peça de decoração, utilizado em ocasiões pontuais. Os soqueiros desapareceram quase ao ritmo traçado pela conquista do calçado moderno.
No início de cada Primavera, o soqueiro da aldeia ia de porta em porta medir pés e fazer socas. Durante o tempo frio, a madeira de vidoeiro secava atrás da lareira. Com o início do calor a madeira estava pronta para confortar os pés do povo barrosão. O pé colocava-se em cima de um pedaço de madeira. Com um lápis, o soqueiro desenhava a forma e em seguida talhava a madeira que se queria leve e resistente. A parte de cima era feita de couro.
Em tempos pretéritos, as 35 freguesias do concelho de Montalegre tinham um soqueiro, hoje não existe nenhum e as socas são um adorno, utilizadas em ocasiões festivas ou para uma ida ao quintal da casa. «Eu sou o único sapateiro, de concerto de calçado, que há em todo o concelho», diz João Madeira.
Na sua oficina expõe alguns exemplares de socas antigas, mas também algumas que nunca foram calçadas. «Não fui eu que as fiz», apressa-se a explicar. «Mas sei fazer. O que acontece é que já tenho tanto trabalho que não consigo fazer as socas, ainda para mais quando não têm muita procura».
João Madeira comenta que há quem tenha umas socas em casa apenas «pela tradição e como peça de decoração». No entanto, acrescenta: «ainda se vêem pessoas com as socas. Como a madeira protege da água há quem as use para ir ao jardim, à horta ou para lavar o carro».
O ‘toc toc’ da madeira a bater no chão já não se faz ouvir nas ruas das aldeias do Alto Rabagão, a não que seja dia de festa e esteja actuar um grupo folclórico. Ver as socas a luzir nos pés fica agora reservado a estes dias festivos.
A soca de enfiar, ou em formato de bota, era o toque final de uma indumentária que também se começa a perder no tempo. A capa de burel e a croça de junco, capuchos feitos de junco normalmente usados pelos pastores eram algumas das peças com que estas gentes do Norte Português enfrentavam os rigores do frio.

Autora: Sara Pelicano
Fonte: Café Portugal